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Em Sevilha jogamos mesmo em casa

Antes desta noite, em que defrontámos o Chelsea para os quartos de final da Liga dos Campeões, lembro-me de outro jogo, daquele jogo, daquele calor! Da mancha verde em maioria que acabou destroçada. Da mancha azul, mais pequenina, que terminou exultante. 21 de Maio de 2003, no Olímpico, o nosso FC Porto arrebatou a tão ansiada Taça UEFA. Foram 120 minutos no limite da avidez, do desejo. Viu-se a beleza da humanidade e aquele golo de prata. História dourada feita por aquelas riscas azuis e brancas, mais finas, aquele equipamento tão belo que cobria belíssimo futebol.

Era o Porto a fazer história. Era o Porto a iniciar outra história de glória europeia. Naquele sol sevilhano, presenciamos um futebol que encantou toda a época 2002/2003. De uma personalidade distinta, de carácter para reverter adversidades, de atitude e convicção de quem tinha consciência do seu valor e… aquele passe do Deco para o Aleni marcar o segundo.

Que jogo! Antes dele, Jankauskas sofreu entorse e limitou o banco, ele que entrava e marcava “sempre”, a um só toque. Poucos minutos depois da bola rolar a lesão de Costinha. Ricardo Costa em campo, Paulo Ferreira adiantou-se e Alenichev no outro flanco. Capucho, “de meias em baixo e centros a calcar a linha” era, naquele dia, avançado centro, a referência, com Derlei a vadiar nas suas costas.

Estamos quase no intervalo, a magia de Deco já tirara da cartola um “lençol” e quase golo de canhota. Nova jogada e picadinha para a área, o ponta-de-lança Capucho atraía a defesa do Celtic e Aleni disparou um bilhete. Douglas defende mas o nosso Ninja estava na recarga. É óptima altura marcar antes do intervalo. É sempre óptima altura para marcar!

A segunda parte começa. Larsson a voar sobre Nuno Valente, bola no poste e entra. Quando vi Baía pregado senti receio, mas o Deco não. Recuperou uma bola à entrada da área do Celtic e… aquele passe para o Aleni fazer o segundo!

A realidade não é justa, as cabeçadas de Larsson são mais injustas ainda. Mas deixar o sueco sozinho no coração da área após canto na direita… desta vez Baía voou e tocou. Já estou como diz Jorge Valdano, o “99” tem classe mesmo a sofrer golos.

Aos 71 minutos Jorge Costa lesionou-se e José Mourinho teve de fazer nova substituição, entrou Pedro Emanuel, tudo tranquilo. “Está só um pouco de calor”. Venha o golo de prata que não queremos penálties!

Já agora, que entre também Marco Ferreira para fazer um sprint e ultrapassar todos os defesas do Celtic, Douglas tem de sair na “mancha”. Mas está lá o Derlei. Recebe, salta por cima de um defesa com uma simulação para dentro e estoura, com a força que lhe restava. É golo! É aquela Taça elegante e esguia! É a corrida saltitante de Mourinho! É a mancha verde em maioria, simpática e triste. É a mancha azul mais pequena, a chorar de alegria! E aquela assistência de Deco para Aleni, no segundo golo.

Hoje, em Sevilha, jogamos mesmo em casa!