FC Porto

Farioli: “A cultura do Ajax é uma religião, a do FC Porto é quase carnal”

Como iniciou o seu percurso como treinador? “Aos 22 anos, o treinador disse-me: “és um guarda-redes demasiado fraco para continuar, mas podias continuar no futebol noutra função”. Seria bom poder culpar uma lesão, como aconteceu com outros que começaram cedo, como Tuchel e Nagelsmann. Mas não: sempre estive muito bem fisicamente. No entanto, a ideia de ser treinador conquistou-me rapidamente e sou bom a aprender. Aprendi com cada experiência; no início era um pouco radical, mas depois libertei-me de ideias rígidas. Agora procuro ser complementar.”

Identidade dos clubes: “A cultura do Ajax é um futebol posicional, frio e organizado, uma religião. Eu acrescentei espírito de equipa e gosto pela batalha. A cultura do FC Porto é quase carnal: sacrifício, carrinhos, público em chamas. Eu estou a introduzir algumas jogadas codificadas para tornar o espetáculo mais aberto e completo. No Nice pedi um médio técnico, uma mistura entre um 8 e um 10, e os jornalistas ironizaram sobre a minha tendência hiper-ofensiva. No Ajax propus um par de jogadores capazes de aguentar choques e disseram que era o típico italiano defensivo. Trabalho sobre contrastes, tento preencher as lacunas. A melhor identidade é não ter uma identidade imutável.”

As mudanças sucedem-se com maior rapidez: “Luis Enrique surpreendeu-me. Em Paris, a determinado momento, numa bola parada, eu mando fazer uma jogada que só tínhamos tentado uma vez num particular de verão, ele viu os primeiros movimentos e saltou do banco para avisar: “estão a fazer aquela jogada que vos mostrei!”. Uma vez, num amigável, e ele já a conhecia. Antigamente, vivia-se metade da temporada com uma boa ideia tática; agora, neutralizam-na logo numa pausa de hidratação.”