Futebol

Faz hoje 60 anos que o FC Porto venceu o polémico «Campeonato Calabote»

Foi há 60 anos, o campeonato mais polémico da história, decidido 12 minutos após o último minuto em Torres Vedras – pois aquele golo de António Teixeira, marcado a 30 segundos do fim só não deixaria o título no FC Porto, se, na Luz, o Benfica fizesse mais dois golos à CUF, os dois golos que não conseguiu fazer no tempo que se foi arrastando, com Inocêncio Calabote a dizer que tinha o seu relógio acertado pela Sé de Évora… 

Abaixo, um texto publicado hoje pelo comentador do Porto Canal, Diogo Faria, no seu facebook, e que demonstra o que foi esta vitória sobre o “Campeonato Calabote”:

«Há 60 anos, o FC Porto alcançou um dos feitos mais importantes da história do futebol português: conseguiu vencer o célebre ‘Campeonato Calabote’.

Ao contrário do que a propaganda do Benfica se tem esforçado por fazer crer nos últimos anos, o caso Calabote não é um mito. Não é tudo como o imaginário popular pintou, sim, mas há vários factos que estão amplamente atestados por documentos e testemunhas da época:

1. O jogo Benfica-CUF começou cerca de oito minutos depois do Torreense-FC Porto, para que o Benfica pudesse jogar em função do resultado do FC Porto.

2. Esse atraso foi deliberadamente imposto pela equipa do Benfica, que subiu ao relvado com alguns minutos de atraso e ainda promoveu uma homenagem a Mário Coluna, que deu uma volta de honra ao campo, e foi agravado por Inocêncio Calabote, que se esqueceu de levar o apito e teve de regressar ao balneário.

3. No relatório do jogo, Calabote mentiu, assegurou que o jogo começou às 15h00 em ponto, e também por isso acabou irradiado do futebol.

4. Calabote assinalou três penáltis a favor do Benfica, um deles reconhecido unanimemente pela imprensa da época como inexistente.

5. O guarda-redes titular da CUF, Gama, teve de ser substituído após ter dado uma série de frangos, quando o Benfica já vencia por 5-1. A partir desse momento, o Benfica passou a ter muito mais dificuldades para marcar, como reconheceu há alguns anos Francisco Palmeiro, que integrava esse plantel benfiquista. No fim, o tal Gama disse à imprensa: “Lamento que o Benfica não tenha sido campeão”.

6. Num tempo em que não era habitual que os jogos tivessem tempo de compensação, Inocêncio Calabote ainda deu quatro minutos ao Benfica para tentar marcar o golo que levaria o campeonato para uma finalíssima ou os dois golos que lhe garantiriam o título.

7. Entretanto, em Torres Vedras, o FC Porto jogava frente ao Torreense, que tinha no banco o treinador-adjunto do Benfica, Valdivieso.

8. Em Torres, Valdivieso não se limitou a dirigir o adversário do FC Porto: chegou lá durante a semana que antecedeu o jogo com uma mala recheada com dinheiro suficiente para pagar 13 contos a cada jogador em caso de vitória sobre o FC Porto, o que correspondia, em média, a cerca de 20 salários de cada atleta (os jogadores do FC Porto, por ganharem o jogo decisivo, receberam apenas dois contos de prémio, o que dá bem conta da dimensão da oferta do Benfica aos do Torreense).

Perante este cenário adverso, o FC Porto conseguiu superar-se e vencer por 3-0. O segundo e o terceiro golos foram marcados já muito perto do minuto 90 e estragaram as contas do Benfica, que jogou durante mais tempo, dispôs de três penáltis e venceu por 7-1. Quando o jogo acabou em Torres Vedras, os jogadores e adeptos do FC Porto tiveram de esperar 12 minutos pelo fim do encontro da Luz para celebrar. Valeu a pena.

É com informação, factos, documentos e fontes que se combate a desinformação e os branqueamentos da história. O livro que o João Queiroz publicou em 2009 sobre este assunto é um excelente contributo, muitíssimo bem documentado, para se perceber o que se passou naquela tarde de 1959. Hoje, às 23h00, o Porto Canal exibe uma reportagem do Ricardo Amorim que conta com testemunhos inéditos e que, suspeito, ficará como mais uma referência para o conhecimento deste campeonato.»

Source: Azul e Branco by PDragoes