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Advogada de Fernando Saul diz que distúrbios foram “golpe de mestre” de André Villas-Boas

A advogada do cliente defendeu que ele foi “injustamente envolvido neste caso”. Ela destacou que “o próprio ofendido, anteriormente, absolveu claramente Fernando Saul”. Esta é “uma evidência contundente que, por si só, deveria desmoronar a acusação”, concluiu.

Fernando Saul admitiu ter escrito, num grupo, que agrediu Henrique Ramos, mas a advogada descreveu isso como “uma bravata digital”. “É verdade que ele fez essa afirmação, mas é falso que o tenha agredido”, argumentou Cristiana Carvalho, criticando o Ministério Público por, no dia anterior, ter introduzido a nova narrativa de que Saul “não é apenas um dos mentores, mas também o encarregado de vigiar quem se opunha a Pinto da Costa. A cada dia surge uma nova acusação”.

A advogada reforçou que a candidatura de Villas-Boas foi uma “ofensa” ao seu cliente, uma vez que ele se comprometeu a não se candidatar contra Pinto da Costa. Esta foi também uma “ofensa” por promover múltiplas páginas a convocar os adeptos a se mobilizarem e a registarem tudo. Cristiana Carvalho considerou que Villas-Boas “vencer as eleições foi um golpe de mestre, mas não foi uma manobra dos arguidos”.

A advogada criticou a “atitude de riso e escárnio” das advogadas do FC Porto, mesmo diante de lágrimas. “Ainda não se aperceberam de que o feitiço se volta contra o feiticeiro, mas o mais relevante é vencer a qualquer custo. Parece que não aprenderam as lições que os últimos tempos têm ensinado. Não se pode tudo!”.

O pedido de penas de prisão para todos os arguidos é “chocante”, uma vez que não houve “nenhuma evidência dos factos, nenhum elemento que prove a adesão a um plano criminoso”, afirmou Cristiana Carvalho. “Se houvesse medo, milhares de pessoas não teriam comparecido”, defendeu.

Testemunhas recompensadas

“Avançar não é um crime, caso contrário, o atual presidente estaria aqui a responder. Já um polícia agredir um adepto na fila é crime, mas o autor não se encontra presente porque a vítima desistiu da queixa por medo, mas o Ministério Público não vê”, descreveu a advogada. Ela também criticou a forma como as testemunhas foram convocadas, através de convites e chamadas “como se fosse uma festa”, algumas apenas em julho. “Isto foi um plano para encadear testemunhas, amigos da direção contra Fernando Madureira, o líder da Pretoriana. Mais do que uma das testemunhas foi recompensada com lugares nos órgãos sociais do clube. As testemunhas convocadas para este processo foram manipuladas”, acusou.

“Não estive no mesmo julgamento que a senhora procuradora que fez essas alegações”, admitiu Cristiana Carvalho. Ela considerou “estranho” o testemunho do subintendente Denis, que se negou a revelar a sua localização e, de forma “desonesta”, fez referência a um incêndio no seu carro que ocorreu um ano antes, na Póvoa de Varzim, relacionado com um processo de tráfico de droga.

“Não houve qualquer plano. Se o objetivo fosse intimidar para causar confusão e aprovar os estatutos, ao criar confusão, não se aprovaria nada. A motivação é ridícula”, argumentou a advogada. “Que tipo de plano tão mal gerido requereria o roubo de cinco pulseiras?”, questionou. “Nunca houve evidência de crime, porque nunca houve crime. A verdade exige a absolvição, a dignidade exige a absolvição total e incondicional do arguido Saul”, concluiu.

Mariana Espírito Santo, advogada de Carlos Nunes, “Jamaica”, sublinhou que o seu cliente compareceu sozinho à Assembleia Geral, na sua qualidade de sócio e não como membro dos Super Dragões. “Não houve uma única testemunha que tenha identificado Carlos Nunes como autor de um ato criminoso. Pelo contrário, as testemunhas descreveram-no como calmo e tranquilo. Em nenhum momento foi visto a ameaçar, coagir ou agredir”, destacou a advogada, reforçando a falta de qualquer elemento probatório contra o seu cliente, solicitando, por isso, a sua absolvição.

“Era precisa uma fábula”

O advogado de Hugo Loureiro, “Fanfas”, expressou a sua opinião sobre o processo: “É uma colagem de peças que o Ministério Público juntou para criar uma fábula de acusação”. “De facto, houve aqui um zig-zag”, afirmou Francisco Duarte, recordando que no primeiro interrogatório, um membro dos órgãos sociais teria elaborado o plano, mas que, no processo, “nada foi feito”.

“Uma justiça severa para os fracos e fraca para os fortes. Se considerava que essa pessoa era o autor moral do plano, não teve a coragem de a perseguir e de reunir provas contra ela”, criticou, lembrando que foi Henrique Ramos quem afirmou que tudo era um plano de Adelino Caldeira, executado por Fernando Saul.

O advogado expressou a sua surpresa por o Ministério Público não ter ouvido o diretor de segurança ou o presidente da assembleia-geral. “O MP é como um casal em que uma parte comete infidelidade e a outra, apaixonada, prefere não ver, não saber, mesmo quando as amigas alertam”, comparou, acusando-o de “violar o dever de objetividade”.

Para Francisco Duarte, o MP “tomou uma posição e manteve-se fiel a ela. Apenas isso justifica que estejamos aqui a discutir uma agressão que ninguém testemunhou, com lesões não documentadas”. O advogado questionou a narrativa da ata e de Lourenço Pinto, que afirmou que mudou de localização já a saber que não haveria votação. “Para o MP, uns mobilizavam e outros arregimentavam. Não. Todos arregimentavam”, sustentou.

“Será que todo o mal que ocorreu naquela assembleia se deve a essas 12 pessoas?”, questionou, lembrando que ninguém foi capaz de identificar quem lançou a garrafa. “Foi uma questão eleitoral que esteve subjacente aqui”. “Era precisa uma fábula”, concluiu Francisco Duarte.