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FC Porto explica operação que desmantelou rede de venda ilegal de bilhetes: “Estes esquemas atingiram uma escala impressionante”

O FC Porto tornou públicos pormenores da operação que desmantelou uma das maiores redes de revenda ilegal de bilhetes alguma vez detetadas no futebol português, um esquema que gerava dezenas de milhares de euros por jogo para os seus organizadores.

Em declarações ao The Guardian, o clube explicou a dimensão do esquema: “Estes esquemas atingiram uma escala impressionante, com dezenas de lugares controlados por um único indivíduo. Também identificámos empresas que processavam centenas de transações, servindo de fachada para esta atividade ilícita.”

O FC Porto explicou ainda a técnica atribuída a um dos alegados cabecilhas: o homem persuadia dezenas de pessoas a ceder os seus dados pessoais, registando-as como sócias e adquirindo bilhetes de época em seus nomes, que depois revendia a preços muito superiores.

“Detetámos também bilhetes falsos vendidos a preços inflacionados. Infelizmente, nesses casos, pouco podemos fazer além de aconselhar os adeptos a não comprar em canais não oficiais”, alertou o clube.

Segundo o FC Porto, os turistas estrangeiros eram o principal alvo, com bilhetes a chegar a custar até 800 euros. Centenas de lugares já foram recuperados pelo clube, mas a investigação continua e esse número pode aumentar.

A operação foi desencadeada depois do jogo inaugural da época contra o Vitória de Guimarães, a 11 de agosto, quando dois adeptos dinamarqueses relataram ter pago 200 euros por bilhete através de plataformas de revenda. Um dos bilhetes estava registado no nome de uma mulher – sócia do clube – e o outro correspondia a um passe de época digital, válido para todos os jogos da Liga se fosse usado primeiro.

Desde a eleição de André Villas-Boas como presidente, o FC Porto tem apostado num modelo digital de bilhética e na revogação de privilégios aos grupos organizados de adeptos, procurando “restaurar transparência e devolver o poder aos verdadeiros sócios”, como o próprio dirigente prometeu.

No entanto, os revendedores adaptaram-se: passaram a adquirir lugares premium e a operar através de plataformas digitais e de grupos privados de mensagens.

“O método mais comum era o uso de plataformas digitais, mas também detetámos grupos em redes sociais, WhatsApp e outros canais mais informais e discretos. O FC Porto está a monitorizar de perto a evolução destas práticas e os seus participantes”, afirmou o clube.

As autoridades portuguesas integraram a operação numa investigação mais ampla, iniciada em 2024, centrada em esquemas de bilhética associados às claques.

“O FC Porto cooperou com as autoridades e tornou-se assistente no processo judicial, que decorre sob segredo de justiça”, confirmou um porta-voz da polícia.

A Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA) saudou a ação do clube, mas exigiu medidas estruturais para proteger os adeptos.

“Estamos a falar de um país onde o salário mínimo nem chega aos mil euros. Defendemos limites legais para os preços dos bilhetes. E não podemos esquecer que a revenda é um crime em Portugal”, sublinhou Martha Gens, porta-voz da APDA.

As pessoas implicadas no esquema enfrentam agora consequências judiciais e disciplinares, incluindo a possibilidade de expulsão definitiva do clube.