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MODALIDADES
2 BASQUETEBOL
FC Porto tem feito muitas mudanças e Mário Santos lembra que o campeonato português não é dos mais apelativos para os norte-americanos
"É DIFÍCIL MANTER OS ATLETAS QUE SE DESTACAM"
Mário Santos sublinha que o FC Porto, com problemas de adaptação e lesões, está a investir mais para "nos momentos decisivos ter uma equipa competitiva", desvalorizando a hegemonia do Benfica.
O início de época no basquetebol não tem sido simples no Dragão Arena, mais uma vez com lesões de jogadores importantes, agravados pelo rendimento aquém do expectável de alguns reforços, em concreto os americanos. Mas Mário Santos lembra que a época se decide em play-off e que na anterior os portistas conquistaram duas das quatro competições (Taça de Portugal e Supertaça).
No basquetebol os norte-americanos abundam e o FC Porto mudou muito para esta época e já tem feito trocas. Porquê?
É uma modalidade com uma gestão difícil de plantel, porque o normal e habitual, e não só no FC Porto, é haver mudanças radicais todos os anos. A dificuldade é manter os atletas que se destacam, porque o campeonato português não é competitivo nem atrativo para muitos deles. Isto obriga a mudanças constantes muitas vezes acontecem problemas de adaptação, como este ano, em que até investimos mais a nível financeiro. Algumas dessas contratações não resultaram e, como é evidente, temos que nos adaptar. O campeonato é disputado em sistema de play-off e temos de nos preparar para quando chegarem os momentos decisivos termos uma equipa competitiva.
No ano passado o orçamento do basquetebol foi de 3,1 milhões. Portanto, subiu?
Subiu entre 7% a 8%, cerca de 300 mil euros. Portanto, houve um reforço, que muitas vezes é mais um ajuste ao que são as subidas do mercado. À semelhança do andebol, tivemos duas lesões de atletas nucleares, dentro e fora do balneário, o Tanner Omlid e o Miguel Queiroz. Eles têm um impacto significativo na dinâmica do grupo, porque são dois capitães de forma natural. E, no caso do Miguel, à semelhança do Diogo, é a época toda.
Falou da aposta em portugueses, mas o Francisco Amarante, que foi jogador da casa e este ano voltou a Portugal, tem brilhado pelo Sporting. Não podia ter regressado ao FC Porto?
Podia, mas quero já recordar que temos, da Seleção Nacional, Miguel Queiroz, Gonçalo Delgado e Vlad Voytso. Não podemos trazer todos e também há opções técnicas. O Amarante é um grande jogador, fruto de um trabalho que foi e continua a ser feito, criando jogadores portugueses de referência. Daí o reforço nas condições da formação, sendo certo que somos dos clubes que mais e melhor competem em todos os escalões.
A maior dificuldade do FC Porto será a consistência do Benfica, com o mesmo treinador e base de jogadores há vários anos?
O Benfica compete bem a nível nacional, tem uma equipa consistente e recursos que o FC Porto ainda não consegue alocar no basquetebol. Mas recordo que no ano passado foram campeões, mas, em número de jogos entre as duas equipas, diria que o FC Porto até ganhou mais. E ganhou dois, o Benfica um e a Oliveirense outro, sendo que estivemos nas decisões de todos. Somos uma equipa que compete e quer ganhar.
O Fernando Sá é o treinador certo?
É o treinador certo e tem mais um ano contrato.
3 HÓQUEI EM PATINS
Adaptação ao novo treinador gerou um início de época difícil do bicampeão, mas Mário Santos aposta em mais um título nacional
"AVALIAÇÃO DO PAULO FREITAS FAZ-SE NO FINAL DA ÉPOCA"
O hóquei em patins vale o único título nacional da época passada e nesta a equipa portista já perdeu Supertaça e Taça Continental, sendo quarta no campeonato. Mário Santos lembra o currículo e o passado azul e branco do novo treinador, Paulo Freitas, acreditando que a equipa, só com vitórias na Liga dos Campeões, está a tempo de mais importante tricampeonato. O hóquei em patins está a ter outro arranque difícil. Pensam repetir o ano passado, de início complicado e um bom final?
Tivemos uma alteração técnica e um processo de adaptação sem os resultados imediatos que queríamos. Quero deixar presente que já existiu a frustração de não ganhar dois títulos, frustração que a maior parte dos clubes não teve, porque não chegou à final da Taça Continental nem da Supertaça. O FC Porto foi o único nas duas. O nosso objetivo é ganhar, não é ir a finais, e a nível nacional não está a correr como queríamos, a nível internacional estamos invictos na Champions. Faltam muitas jornadas, mas temos enquadramento técnico e atletas que garantem termos o FC Porto a competir por todos os títulos.
Seria mais importante repetir o título nacional ou conquistar a Champions?
O título nacional é algo que nos move, que mexe com o clube e com o enquadramento estratégico das modalidades. A temporada passada foi má, mas o FC Porto foi à final da Champions e perdeu e foi à final do Campeonato Nacional e ganhou. Num ano mau, fomos campeões nacionais e fomos à final da Champions. Indo à pergunta, em todas as modalidades o importante lutar pelos títulos europeus e ter esse projeto, mas o título nacional é fundamental. Creio que a maioria dos portistas sente o mais o nosso campeonato.
A equipa de hóquei tem sete trintões em 11 jogadores. Não precisa de uma renovação?
Temos um conjunto de atletas que são de seleção e que rendem. A equipa precisa, acima de tudo, de atletas que garantam uma vitória, tenham 19 anos ou 30. Sabemos que os atletas não vão ficar cá ad eternum e o que estamos a fazer é um reforço da formação. Criámos uma equipa B, que subiu à II Divisão e este ano tem quase garantida a manutenção. Já temos atletas dessa equipa a jogar na A, portanto há essa preocupação. Queremos é que, à semelhança dos anos dourados, muitos dos atletas da equipa principal sejam da nossa formação. É essa reestruturação que estamos a fazer, já com alguns resultados, embora isso demore tempo, custe dinheiro e recursos.
O Paulo Freitas foi a única mudança de treinador esta época. Está a cumprir as expectativas?
A avaliação que vamos fazer do seu trabalho será no final do ano. A equipa tem de se adaptar aos seus processos, o treinador tem de se adaptar aos atletas, e nós temos de ter a sensibilidade de o perceber e fazer o balanço no final da época, não andando ao sabor de uma derrota ou de uma vitória. No fim é que se ganha.
O treinador terá alguns anticorpos junto dos adeptos?
Um treinador que esteve seis anos no Sporting, ganhou dois campeonatos e duas Champions, terá criado alguns anticorpos dentro dos hoquistas do FC Porto, quem conhece o hóquei em patins. E todos têm momentos mais felizes e menos felizes. São situações do passado e o que queremos é criar condições para que o FC Porto ganhe. Não esquecendo que o Paulo Freitas teve muitos anos de FC Porto, jogou cá anos e foi o seu primeiro título como treinador foi na nossa formação.
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4 VOLEIBOL
"Masculino só depois de consolidar o feminino"
A equipa de voleibol feminino é a que tem feito uma melhor época, liderando o campeonato só com vitórias e justificando o reforço do investimento. A criação de uma masculina ainda não será para já.
Desta vez acertaram nos reforços do voleibol feminino e vão voltar ao título?
Não foi desta, porque o FC Porto já ganhou quatro campeonatos seguidos. O ano passado não correu como esperado e a equipa foi terceira. Este ano temos uma equipa forte, houve um reforço no investimento e até agora estamos invictos. Mas o campeonato é decidido em play-off, por isso temos de manter os pés na terra e saber que só se ganha no fim.
Há muitas estrangeiras no voleibol feminino — nove no FC Porto e Sporting, oito no Benfica, seis no Braga. Não são demasiadas, nem sai caro?
Uma coisa é estar caro, outra é ser caro porque são estrangeiras. Há maior oferta de atletas estrangeiras do que portuguesas e entre estas também há caras. Reconheço que é uma preocupação e temos um Leixões que compete, e bem, com muitas portuguesas. Mas para isso é preciso reforçar a formação, o que só alimenta a equipa a médio prazo. Não temos mais estrangeiras que outros, pois a realidade é que todos queremos ganhar amanhã.
O voleibol masculino está nos planos?
Dentro do plano estratégico do clube, a prioridade é a criação do futsal. O voleibol feminino é uma das ambições, e antes de pensar no alargamento, queremos consolidar o que já temos. O voleibol masculino tem um grande histórico, mas temos limitações de infraestruturas e recursos. Não podemos investir de forma a diminuir a capacidade competitiva das modalidades existentes.
O campeonato feminino é mais interessante do que o masculino?
Há uma grande afluência aos pavilhões no voleibol feminino, a nível nacional e internacional, e elas são mais no número de federados. Os salários das jogadoras não divergem muito dos jogadores e, em alguns casos, até são superiores. O jogo é mais instintivo e o resultado oscila mais, o que o torna mais emocionante. E isto não tem nada de sexista, é a dinâmica do jogo.
5 FUTSAL
"São sete anos a subir de divisão..."
O futsal está no programa e já existe formação. Para quando uma equipa sénior do Porto?
É uma decisão ponderada e depende de vários fatores, nomeadamente o posicionamento de entrada, o investimento e as infraestruturas. Neste momento, o enquadramento regulamentar obriga a começar por baixo, o que traz dificuldades de gestão e expectativas. Ganhando os campeonatos todos, são sete anos até chegar à Primeira Divisão.
Portanto, irão começar por baixo?
Neste momento não há outro formato, sendo muito difícil o FC Porto começar de baixo em sete divisões, porque isso traz problemas de gestão de plantel, de expectativas e até de projetos.
No topo, o investimento para competir com Sporting e Benfica não é muito elevado?
É elevado, se é demasiado dependente dos objetivos e do retorno desse investimento. Mas não desconhecemos o facto de o nome do clube ser Futebol Clube do Porto e o futsal ser uma disciplina do futebol. A existir essa equipa, gostaria de um modelo montado como o que está pensado para as outras modalidades, com muito atletas formados cá. Felizmente, temos registado uma grande disponibilidade de atletas com nível para competir pelo FC Porto, até em escalões inferiores, tendo a expectativa de lhes oferecermos um bom projeto desportivo e de futuro.
OUTRAS MODALIDADES
"Atletismo exige grande investimento"
"O atletismo tem um grande histórico no FC Porto, tivemos um título olímpico, e é uma porta que está em aberto. Faz parte do programa eleitoral. Mas é uma modalidade com muitas vertentes, que exige infraestruturas, e quem conhece a realidade da zona do Porto sabe que estão esgotadas", comenta Mário Santos, lembrando que seria necessário "um grande investimento". "Um clube como este tem de entrar com o objetivo de competir, face a equipas com um investimento significativo, o que nos faz reviver as razões pelas quais deixamos de ter atletismo", alertou ainda.
"Ciclismo não está no horizonte"
"Gosto muito de ciclismo, mas considerando o passado recente no clube, não é uma prioridade", diz Mário Santos, deixando claro o regresso "não está no horizonte futuro", apesar de ser "uma modalidade que os portistas gostam e que contribuía para a disseminação dos clubes e futebol em Portugal". O diretor-geral portista admite estar "incomodado" pelo que ouviu do julgamento da extinta W52-FC Porto, "por ter o nome do clube envolvido num caso como aquele". "É a degradação dos valores do desporto, o descredibilizar de uma modalidade que podia ter e tem um grande potencial. Durante muitos anos exerci cargos em órgãos relacionados com o anti-doping e aquilo que mais me choca nem é a saúde dos atletas — duvido que andem três semanas a subir montanhas de saúde a alguém —, é a batota. No FC Porto não fazemos batota", atirou.
"Gostava de ter canoagem, mas não está na estratégia"
Mário Santos cresceu como dirigente na canoagem e continua a praticar a sua modalidade de sempre, que no FC Porto não existe. "Como atleta, gostaria. Como dirigente, e dentro do alinhamento estratégico do clube, criar uma secção de canoagem do zero não faria muito sentido neste momento", afirma, mesmo sabendo que "é uma modalidade sem grandes investimentos financeiros". Unir o clube a um outro, como o Náutico de Crestuma, que tem instalações próximas do Olival, também não é possibilidade. "Vejo mais o papel do clube, através da sua fundação, a dar apoio a atletas ligados ao FC Porto, por serem adeptos, na concretização de objetivos internacionais e olímpicos, do que na criação formal de uma modalidade que exigiria recursos e infraestruturas externas, ou então pagar-lhes só para vestirem uma camisola, usarem as instalações de outros clubes e dizermos depois que somos muito fortes", explicou.
"Temos projeto olímpico na natação e desporto adaptado"
"Benfica e o Sporting não têm projetos olímpicos, têm secções — no caso do Benfica existe mesmo essa figura híbrida — com modalidades que estão no programa olímpico", considera Mário Santos, para explicar que o FC Porto não pretende seguir esse exemplo. "Temos atletas olímpicos, sobretudo em modalidades individuais como a natação e no desporto adaptado. Dentro das modalidades existentes, o clube cria condições para que os atletas possam atingir esse patamar", afirma, lembrando que "não faria sentido", como acontece com o andebol: "Pagar a atletas para dizerem que são do FC Porto e estarem alojados em outros clubes, isso não faz parte do nosso projeto", terminou.
"Nos jogos, gosto de estar perto"
Mário Santos assume-se como dirigente-adepto e vive os jogos de forma intensa, sempre que pode na saída dos balneários. "Não vou para ali como adepto, vou como dirigente, que tem cargos executivos e gosta de estar perto do terreno. Só por razões institucionais e por muitas vezes estou no camarote, porque a minha função é estar perto", explica, lembrando que por vezes isso é mais simples em jogos fora, por poder "ficar atrás do banco, quase encostado aos jogadores, que é onde gosto de estar, pois sempre vivi o desporto mais por dentro". A vantagem refere, é "ter a perceção daquilo que os jogadores se queixam, de um lado e do outro, e até ouvir determinados bancos que insultam o árbitro e a mãe dele".