António Araújo

H

hast

Guest
António Araújo
Nascimento: 1923-09-23
Naturalidade: Paredes
Posição: Avançado


CARACTERÍSTICAS


Um dos mais eficientes rematadores da história do FC Porto e da Selecção Nacional. Interior direito, o melhor marcador do Campeonato Nacional da Primeira Divisão, em 47-48, com 36 golos, em 26 jogos.

Chegou ao Porto com 19 anos para o Campeonato 1942-1943, jogou ainda ao lado da famosíssimo Artur de Sousa (Pinga) até 1946, mas os pontos altos da sua carreira ocorrem em 1947 e 1948.

Na primeira vitória oficial de Portugal sobre a Espanha, a 26 de Janeiro de 1947, no Estádio Nacional, recentemente inaugurado, Araújo marcou 2 golos com brilhante exibição sendo recebido em alvoroço, pelo povo da sua terra natal, com foguetes, banda de música e homenageado pela Câmara Municipal de Paredes.

Em 6 de Maio de 1948, o FC Porto venceu por 3-2, no Estádio do Lima, o Arsenal de Londres, campeão de Inglaterra e considerada, de longe, a melhor equipa da Europa, para muitos a melhor equipa de futebol a nível internacional.

Dias antes, a 3 de Maio, o Arsenal vencera o Benfica, em Lisboa, por expressivos 4-0. Consta que em Lisboa teriam dito a elementos do Arsenal: se aqui venceram por 4-0, no Porto vencerão por mais. O FC Porto só tem um jogador importante, o Araújo.

Pois, mas o Porto aos 30 minutos da 1ª parte vencia por 3-0. Quando Araújo marcou o 1º golo, aos nove minutos, Quádrio Raposo, locutor da Emissora Nacional, anunciava: «Araújo tem nada menos de três ingleses à sua volta!!».
Tinha, mas o possante Correia Dias, a passes de Araújo, marcou os outros dois golos.

Araújo, o melhor jogador em campo, tinha deslumbrado os ingleses.
Para comemorar a vitória, por subscrição pública, os portistas espalhados pelos quatro cantos do mundo ofereceram ao clube uma taça monumental com 250 quilos de peso e 130 de prata.

No início de 1949-50, e durante ano e meio foi impedido pelo centro de medicina desportiva de jogar futebol. Tinha doença nos rins. Mais tarde veio a verificar-se que afinal a doença estava na garganta.

Scopelli quis levá-lo para ao Desportivo da Corunha. Não ia por dinheiro nenhum! Doente em Portugal, doente para jogar noutras paragens, respondeu Araújo.

Pela Selecção Nacional, Araújo fez nove jogos, entre 1946 e 1948, em que marcou seis golos.
Em Fevereiro de 1953, o FC Porto prestou-lhe a homenagem que merecia.

A melhor prenda que hoje se poderia oferecer ao actual treinador do FC Porto era o trio Artur de Sousa (Pinga), Araújo e Hernâni.
 
H

hast

Guest
Com Cândido de Oliveira como seleccionador nacional, Portugal ganhara pela primeira vez no seu historial à Espanha, por 2-1. Fora em Vigo, em Novembro de 1937. Apesar de a FIFA não oficializar a partida, por não reconhecer a Federação espanhola, criada no âmbito da... República, em Portugal a façanha foi tomada ao jeito de reedição de Aljubarrota, até porque fora jogo combinado entre Franco e Salazar. Seria preciso esperar 10 anos para que Portugal voltasse a ganhar à Espanha. No Jamor, acabadinho de construir, em assumida inspiração neomodernista, a exemplo dos estádios que Hitler levantara na Alemanha. 4-1! E um país em transe. O maior herói da peleja foi Araújo, fogoso avançado do F. C. Porto. Marcou dois golos e encantou. Por isso, foi sem surpresa que foi recebido na sua terra, em Paredes, com bandas de música, foguetório e uma sessão de boas-vindas na Câmara Municipal. «Que os heróis tinham de tratar-se com dignidade», alguém disse então.
 

jsm

Tribuna
29 Abril 2007
3,319
16
Um grande jogador e um dos nossos maiores goleadores injustamente esquecido!Obrigado hast!
 
H

hast

Guest
Nesse tempo o F. C. Porto não era ainda (longe disso) o clube dos insaciáveis dragões das línguas de fogo.
Cristalizado estava já o complexo de inferioridade que se aguçava logo que a equipa passava a ponte para sul — e a presunção cada vez mais dolorosa de que em Lisboa, por ardis vários, se teciam manobras para desfavorecer e apequenar o clube. Muito mais que Barrigana, a estrela do F. C. Porto era Araújo — o único jogador portista com lugar cativo na Selecção. Por isso, um dia, Tavares da Silva, também seleccionador nacional, escreveu que a Portugal se poderia chamar... Sport Lisboa e Araújo. Não deixava de ser doce o encómio.
Para a temporada de 1948/49 o F. C. Porto contratou Alejandro Scopelli, humilhantemente despedido do Belenenses, o clube que o recolhera quando, fugindo da Guerra, veio jogar para Portugal. Mas, mal a procissão saíra do adro, o horizonte começou a carminar-se para os portistas. Virgílio Mendes e Carlos Vieira foram colocados em Elvas e Tancos para cumprir o serviço militar. Os dirigentes do F. C. Porto desmultiplicaram-se no sentido de transferi-los para um dos regimentos do Porto. Conseguiram-no, por especial favor do ministro da Guerra, numa altura em que corriam rumores de que poderiam ir parar a um quartel de Lisboa, por estarem a ser cobiçados por um grande clube da capital...

«Doença de rins» na garganta
Só que o maior contratempo era intransponível — e de súbito arrefeceu esperanças: Araújo, que fora descoberto para o futebol pelo padre Marcelino da Conceição — portista tão apaixonado que, para angariar fundos para o Estádio das Antas, lançou uma insólita... caderneta, que, imaginosamente, rendeu quase mil dos 7500 contos gastos nas obras —, sofreu misteriosa doença Ensarilhado em problemas, diagnosticado por médicos vários, não entrevia melhoras. Antes pelo contrário. Afagava mágoas dedicando-se à columbofilia, que era outro dos seus prazeres e pela vida fora continuaria a ser. Os portistas suspiravam por ele. Estado de choque, quando o Centro de Medicina do Porto, implacável, traçou o destino do jogador em quem se centravam todas as ilusões de vencer o triste fado em que o F. C. Porto se enredara: liquidado para o futebol. Sem mais. Por um feliz acaso, um médico portuense, José Fernandes, descobriu-lhe a origem da mazela: «A grande lesão que eu tinha nos rins não era nos... rins. Era na garganta. Era uma lesão crónica que me fazia engolir o pus que dela dimanava. E era esse maldito pus que me provocava o sofrimento nos rins, no qual os médicos do Centro de Medicina encontraram o motivo para a reprovação.»
Araújo regressaria à equipa, à 5.ª jornada do Campeonato de 1950/51. Contra o Benfica. Na Constituição. O F. C. Porto ganhou por 5-2 e, mais que os cinco golos, estrondeou a euforia nas bancadas quando Araújo, como se fora um herói renascido, deixou o campo. Fora apenas autorizado a jogar sob vigilância médica, por ainda se suspeitar de padecer de nefrite crónica.
Mas nunca mais voltou a ser quem fora. Jamais voltaria à Selecção. O F. C. Porto ofereceu-lhe festa de despedida em Fevereiro de 1953. Peyroteo fez intervalo na sua sabatina futebolística e voltou a jogar. Com as lágrimas nos olhos e os filhos ao colo, Araújo deu-lhe a medalha que o clube mandara gravar em prata especialmente para si. Mas, porque o futebol ainda era paixão, Araújo não esteve muito tempo parado. Humildemente, regressou aos campos. Pelo União de Paredes. E em 1959 ainda lá jogava. E marcava muitos golos. Era a sua sina. Continuava funcionário da Câmara e columbófilo. E assim continuaria pela vida fora...

Arsenal de prata
Os bilhetes custavam 80 escudos. Preço ainda assim alto para acontecimento que era de mundanismo. Para irem ao Estádio do Lima os portuenses vestiram os seus melhores fatos e muitas senhoras sentaram-se nas bancadas como se estivessem na ópera. Ao F. C. Porto restava a última oportunidade de salvar a honra da Pátria, beliscada em Lisboa pelos jogadores do Arsenal, então considerada a melhor equipa do Mundo.
Naquele dia 7 de Maio de 1948 reeditou-se a lenda de David e Golias. O F. C. Porto, que aos 30 minutos já vencia por 3-0, ganhou. Por 3-2. Após resistência heróica. Os golos couberam, dois, a Correia Dias, um avançado-centro que pesava quase... 100 quilos, e a Araújo. Em A BOLA escreveu-se: «Meia hora de futebol diabólico destroçou a equipa londrina.» E os ingleses mostravam-se deslumbrados com o perfume de classe do futebol de Araújo, que disseram ser avançado para jogar em qualquer equipa do Mundo. Houve mesmo quem lhe piscasse o olho. Torceu o nariz. Nem sequer uma fortuna bastaria para o retirar da pacatez de Paredes. Eram assim, românticos, os jogadores de 40...
Pelo desempenho contra o Arsenal talvez Araújo merecesse um busto na sede do F. C. Porto. Houve mesmo quem fizesse circular a ideia. Mas outra, mais sentimental, mais épica, se levantou: abrir uma subscrição pública para compra de troféu que perpetuasse aquela tarde de glória portista. Assim se fez a grandiosa Taça do Arsenal, na qual se gastaram 130 quilos de prata. Custou 200 contos, exactamente a importância que se arrecadara ao longo de todo um ano de colectas. Os portistas ofereciam, assim, a si próprios o maior troféu do Mundo. Continua a sê-lo. Mas muito mais que os 250 quilos da obra, valeu a inesquecível tarde de magia no Lima. Que foi, se calhar, também a tarde de maior relumbre de Araújo. Muito mais que aquela em que os seus dois golos contribuíram para a primeira vitória de Portugal sobre a Espanha. Quando a Selecção era Sport Lisboa e... Araújo.
in «abola»