Que montanha russa de semana.
No dia 3 tivemos um dos dias mais emblemáticos da identidade portista, pelo menos na memória recente. O estádio cheio, as bandeiras ao vento, o vibrante azul mais intenso que o sol escaldante, que teimava em não dar tréguas. E eu bem sei as consequências de há largos anos ter lugar anual na nascente e ir às 17h para o Estádio em pleno Verão de Agosto! Já não me apanham sem boné, óculos e até protetor!
A entrada dos jogadores, a surpresa neerlandesa, a homenagem a antigos heróis, a bola a rodar finalmente com leveza e mestria e, acima de tudo, a imensurável e imaterial raça. A busca da vitória com o maxilar cerrado, qual faca nos dentes. A mística que está a voltar. Está a voltar! E todos sentimos. Que bom Domingo às antigas! Não nas Antas, no Dragão é certo, mas foi às antigas! Afinal, o Dragão até fica nas Antas, e o que já não é, continua a ser, enquanto as memórias perdurarem entre gerações, e a nossa cultura e identidade continuarem a ser passadas com esta carinhosa violência do Portismo. É a mística! A puta da mística!
Que terça-feira horrível. E quarta, e também quinta. Custa um pouco a acreditar e acho que o real peso dos acontecimentos não me atingiu completamente. Apesar do enorme vazio e coração ferido, ainda não chorei e não tenho tido vontade. Talvez cada um faça o luto à sua maneira. Os testemunhos, as imagens, as múltiplas homenagens ao nosso eterno capitão, são como pequenos punhais que calorosamente maltratam este sentimento de dor apática que me tem abalado. Magoam muito pelo que significam nesta semana, mas aquecem muito pelo que representam na história do nosso clube. Percebo que possa ser incoerente, mas dizem que recordar é viver, e todas estas recordações são também uma ode à excelência do nosso Bicho. E do que é ser Porto. E do que nós somos, porque o Porto também somos nós.
O nosso Bicho era mesmo enorme. Que capitão! Que instituição! Ler tudo o que escrevem sobre ele, recordar-me do que nos deu, os relatos de quem com ele privava, os valores que representa. A lealdade, a garra, a educação, e a hombridade que ansiosamente esperamos que se espalhe por todo o mundo portista. Que os pupilos vindouros da formação tenham esta referência, esta brilhante estrela azul a guiá-los na inspiração do que é ser Porto e no sacríficio do que é sofrer pelo clube. Que a atual estrutura e o plantel encontrem na união da dor a força para irem em frente. Nós cá estaremos para os agarrar sempre que necessário. Que em cada obstáculo ou desânimo, o bafo do Dragão lhes dê toda a motivação e esperança para continuar o que começamos no dia 3. Como o nosso capitão disse "Aconteça o que acontecer, faço da parte da história do meu clube do coração". Muito mais! Fazes parte da história de todos nós! Que legado Bicho! Esse ninguém te o tira. Enquanto o nosso Porto existir, enquanto o coração de todos os que te admiram e amam bater, serás memória, história e identidade do teu clube do coração.
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Enfim. Tentando ser mais pessoal e terra-a-terra, é mesmo tudo muito triste. Espero que a família e amigos encontrem a paz que for possível nesta longa jornada que terão de enfrentar, e que tenham todo o apoio que precisarem.
Termino também só para partilhar (porque não?) a vibe retrospetiva que me assolou esta semana. Claro que o foco foram as múltiplas homenagens ao nosso eterno capitão mas, entre toda a mágoa, o destaque da postura do nosso presidente. Começam-me a faltar palavras.
Sabemos como o último ano foi cruel, com todos os desafios e perdas que a nação portista teve de enfrentar e que o própio presidente teve de lidar e liderar. Mas olho para trás e para o último ano com uma sensação de orgulho que me faz levitar. Pensar "Eu votei no André Villas-Boas caralho!". Que orgulho. No plano geral de uma vida pode parecer imaturo classificar estes momentos como relevantes, mas não considero errado afirmar que foi umas das melhores decisões que tomei na vida. Muito obrigado meu presidente.