“Fizeste-me tão feliz. . .
Nunca pensei que o meu regresso à página fosse motivado pelo inesperado falecimento do nosso Jorge Costa, mas não me sentiria bem comigo mesmo se nada aqui escrevesse sobre aquele que foi para mim uma referência do Porto à Porto que sempre defendi, e que cometeu a proeza de nunca me desiludir.
As minhas primeiras memórias de Portista têm Jorge Costa no relvado e nele via alguém que me representava na perfeição.
Logo a começar, era por demais evidente que para Jorge Costa cada jogo do nosso Porto não era encarado como mais um dia no escritório, e que uma derrota (ou até empate) do nosso clube lhe causava a mesma revolta que a nós.
Invejado/detestado pelos rivais, Jorge Costa não necessitava de qualquer mental coach para enfrentar os ambientes mais hostis e crescia na adversidade, tendo um particular prazer em marcar ao nosso maior adversário.
Aliás, toda a carreira futebolística de Jorge Costa é emblemática da sua capacidade de superação, e que nada lhe foi oferecido de mão beijada.
Numa altura em que as equipas B eram uma miragem, Jorge Costa foi emprestado ao Penafiel, depois ao Marítimo, e só gradualmente conquistou um lugar ao sol no seu clube do coração.
Aí chegado, fez parelhas de excelência com centrais como Aloísio, Fernando Couto, Zé Carlos, Jorge Andrade, Pedro Emanuel, Ricardo Carvalho ou Pepe.
De aluno a professor, o defesa central, que em boa hora pescamos no Futebol Clube da Foz, foi figura de proa num longo período em que o nosso FC Porto era famoso por ter uma defesa de betão.
Contudo, nem tudo foram rosas, e Jorge Costa não escapou a lesão graves, e polémicas.
Ultrapassou tudo isto com trabalho, e espírito lutador, negando viver numa realidade alternativa, num papel secundário, e remetido ao mundo dos ses.
"Ai se não fosse aquela lesão no joelho", "ai se não tivesse sido queimado pelo Octávio Machado", "ai se o Jorge Costa fosse mais rápido e mais novo".
A estes ses, Jorge Costa respondeu em campo e foi peça fulcral do Porto vencedor da Taça UEFA, da Champions League e da Taça Intercontinental.
O nosso Bicho atalhava caminho perante os avançados mais rápidos, sabia transformar faltas defensivas em faltas ofensivas, e até para dar "pau" tinha inteligência para saber como e onde o fazer (sim, tem que se lhe diga, e hoje não temos disso).
Jorge Costa sabia que durante os 90 minutos não haviam amigos, e não hesitava em entrar na mente do adversário.
Cometeu excessos? Chegou a errar?
Sim, e admitiu, nunca se preocupando minimamente em cultivar uma falsa imagem puritana (tão em moda hoje em dia).
Deliciosamente imperfeito, Jorge Costa não era anjola, tinha a escolinha toda e foi um capitão de eleição, elevando a mística do nosso Porto a um patamar que muito provavelmente não mais voltará ser alcançado (infelizmente).
Nortenho, tripeiro de gema, Jorge Costa transportava na sua braçadeira as nossas maiores virtudes e defeitos.
Brilho no olhar (até às 4 da manhã, nas Antas), sangue na guelra, e sempre preparado para toda e qualquer ocasião, por mais ríspida, perigosa ou injusta que pudesse ser.
Sem tangas, sem desculpas, sem medo, sem complexos, o nosso ADN em estado puro.
Muito mais teria para escrever, pois Jorge Costa é um ícone do nosso Porto para várias gerações, e carrega em si conteúdo capaz de alimentar uma página de homenagem a si, dia sim, dia sim.
Orgulho-me de, a dado momento, Jorge Costa ter sabido da minha existência, e ter lido em vida um dos vários textos que escrevi a celebrar a sua carreira de dragão ao peito.
Jorge Costa é a prova que o Homem é o Homem e suas circunstâncias, e não hesito em relacionar a sua postura mais apagada, no seu regresso enquanto dirigente, ao seu problema de coração.
Jorge Costa partiu a servir o clube que amava, e só lamento que não tenha tido a oportunidade de te agradecer olhos nos olhos o quanto me fizeste feliz e serviste de inspiração para a minha forma de viver o nosso Futebol Clube do Porto e a vida no seu todo.
Obrigado, campeão, eterno camisola 2, fizeste a diferença e foste diferente, marcando a minha vida e de tantos outros Portistas!
#JorgeCosta2
#eternocapitão”