O economista João Duque afirmou que o recorde de 362,96 milhões de euros (ME) gastos pelos clubes da I Liga em contratações no arranque da época 2025/26 é consequência da pressão exercida sobre o Benfica e o FC Porto.
Após não terem conseguido travar a corrida vitoriosa do Sporting nas duas últimas temporadas, os rivais do bicampeão nacional investiram em conjunto 216,9 ME fixos na janela de transferências de verão, com os ‘dragões’ a fixarem um novo máximo de investimento em Portugal, atingindo 111,35 ME.
“Há aqui dois fenómenos muito importantes. O Benfica tem eleições à porta e o FC Porto, em função da recente eleição do novo presidente [André Villas-Boas], como não tem obtido resultados, começou a sentir-se profundamente acossado e teve de abrir os cordões à bolsa”, observou hoje João Duque, em declarações à Lusa.
O FC Porto, campeão em 2022, gastou 94,35 ME em reforços novos, fazendo parte de um investimento global de 111,35 ME, enquanto o Benfica, que detinha anteriormente o recorde deste período (108,5 ME no verão de 2020), aproximou-se desse valor ao aplicar 105,55 ME em contratações.
“Portanto, o que vai acontecer, do ponto de vista financeiro, é que um dos dois, ou até os dois, terão feito uma desastrosa política de investimento, porque não é possível FC Porto e Benfica ganharem o campeonato dos dois. Podem é perdê-los os dois”, argumentou.
No caso do Benfica, explicou o economista, a pressão sobre o presidente Rui Costa intensifica-se devido às eleições para os órgãos sociais do clube, agendadas para 25 de outubro, situação que contrasta com a do líder do rival lisboeta, Frederico Varandas.
“Não tem essa pressão. [Para o Sporting] não ser campeão nacional significa não fazer o ‘tri’. Agora, não ser campeão há não sei quantos anos, isso já é tramado”, sustentou João Duque.
O Sporting foi o clube que mais faturou com vendas, totalizando 181,4 ME fixos (novo máximo do clube), impulsionado sobretudo pela transferência do avançado sueco Viktor Gyökeres para o Arsenal por 65,8 ME, mais 10,3 ME em objetivos, tendo reinvestido apenas 79,8 ME em contratações.
“O Sporting pode ser acusado de excessivo conservadorismo na utilização dos meios. Mas eu acho que é bom ter um clube que, depois de ter dado tanto sobressalto do ponto de vista da sobrevivência do próprio clube, tende agora para a estabilidade”, defendeu.
O saldo do Benfica no mercado de verão traduziu-se num défice de 10 ME, apesar de ter obtido receitas significativas em vendas, com 95,5 ME, enquanto o FC Porto registou um resultado negativo de 34,18 ME, tendo arrecadado 77,17 ME com saídas de jogadores.
“Fazer este esforço, preterindo o equilíbrio financeiro do clube, e arriscando as fichas todas… Isto não é suportável”, advertiu João Duque, prevendo um mercado de inverno agitado para estes clubes, em janeiro, “se as coisas começarem a correr mal”.
Os números do Sporting de Braga são mais modestos em termos absolutos, mas a proporção é ainda mais desfavorável do que a dos ‘águias’ e ‘dragões’: o clube presidido por António Salvador gastou 28,57 ME, novo máximo pelo terceiro ano consecutivo, e recebeu apenas 9,90 ME.
Com um total de 352,90 ME encaixados com a venda de futebolistas, o saldo agregado dos clubes da I Liga mantém-se positivo em 17,94 ME, mas trata-se do montante mais baixo da última década, algo que poderá colocar desafios de gestão ao longo da temporada, dado o modelo de negócio dos clubes portugueses.
“Nestas contratações todas, a gente só ouve o valor do passe. Não sabe o valor do pagamento mensal aos jogadores. Há as saídas, que aliviam a conta de resultados, mas a pergunta é: nessa conta de exploração, qual é o impacto”, questionou João Duque.