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João Paulo Rebelo acusado de meter “cunha” a favor da empresa de antigo sócio

O secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, é acusado de ter pedido ao presidente da Câmara de Viseu, enquanto coordenador da Covid-19 na região Centro, para “potenciar” a empresa do seu ex-sócio e contratualizar com aquela, para que fosse a mesma a fazer os testes em toda a região, escreve o “Correio da Manhã”, segundo o qual existem, pelo menos, mais duas empresas com capacidade para fazê-lo. Porém, a decisão fez-se por ajuste directo.

O governante já reagiu e diz que “não deixa” de lhe “causar uma enorme estupefação que se possa pensar que tive algum interesse próprio nesta associação que não fosse o de que – também na CIM Viseu Dão Lafões – se pudesse dar uma resposta eficaz a um problema que afligia, e aflige, todo o país”.

A reacção surge depois da denúncia do Correio de Manhã. O jornal escreve que a Câmara de Viseu enviou um e-mail a admitir as pressões por parte do governante. “Nos últimos dias temos vindo a ser abordados pelo Dr. João Paulo Rebelo […] quanto à possibilidade de fazermos uma parceria com curtos repartidos entre Estado Central e as Autarquias para fazer testes nas nossas IPSS. […] Trata-se de potenciar o laboratório do Dr. João Cotta – ALS, a fazer análises em 6 horas para o Hospital S. Teotónio”, refere o presidente da autarquia de Viseu, Almeida Rodrigues.

Almeida Henriques confirmou o teor da comunicação, que “estranha ser do conhecimento público”, mas assegurou desconhecer qualquer relação entre o laboratório e o governante. “Nos processos de concursos preocupo-me com os do município. Também não tenho de conhecer as relações interpessoais”, disse.

O jornal revela que João Paulo Rebelo foi sócio do vice-presidente da Assembleia Municipal de Viseu, João Fernando Cotta, durante quase dois anos na empresa Legenda Transparente. O terceiro sócio do grupo era Francisco Manuel Gameiro dos Santos, um dos administradores do grupo Lena, que saiu dois dias antes de entrar no Governo.

O secretário de Estado, entretanto, já reagiu numa  nota publicada no facebook, na qual reconhece que com o objetivo de que a rede de laboratórios funcionasse, articulada e eficazmente, e que estes trabalhadores fossem testados no menor prazo possível para evitar ao máximo contágios que nos contactos que fez “com as diferentes Comunidades Intermunicipais da Região, divulgando o protocolo”, elencou “sempre as diversas entidades (públicas e privadas) que nos respetivos territórios teriam capacidade protocolada de resposta para a realização dos testes”. “Não deixa de me causar uma enorme estupefação que se possa pensar que tive algum interesse próprio nesta associação que não fosse o de que – também na CIM Viseu Dão Lafões – se pudesse dar uma resposta eficaz a um problema que afligia, e aflige, todo o país”, refere.

“Na videoconferência com todos os Presidentes de Câmara da Comunidade Intermunicipal Viseu – Dão Lafões, não houve exceção. Partilhei com os senhores Presidentes de Câmara que havia esta linha de apoio, as especificidades de todo o protocolo e adiantei que tinha conhecimento de que a empresa ALS – que já estava antes mesmo da minha entrada em funções a realizar 100 testes diários para o Centro Hospitalar Tondela Viseu – tinha capacidade para realizar mais 200 testes diários, facto que era já do conhecimento de muitos dos senhores Presidentes de Câmara, inclusivamente do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viseu”, reconhece, explicando que fez a referência “unicamente pela importância da capacidade instalada que permitia dar uma resposta célere à operação”.

O governante refere no entanto que também referiu a existência de outros laboratórios privados que poderiam ser mobilizados nesta missão. “O envolvimento de laboratórios, privados e/ou públicos, na região Centro, no âmbito deste protocolo do MTSSS foi sempre decidido na esfera de competências das Comunidades Intermunicipais. Cumpre dizer que a referida empresa, na qual não tenho qualquer interesse económico, tem como administrador um ex-sócio meu numa sociedade que nada tem a ver com este sector de atividade e da qual me desvinculei em 2015”,continua João Paulo Rebelo.