FC Porto

O Futebol Clube do Porto celebra hoje 132 anos de vida

Há já muito tempo que Heitor Campos Monteiro escreveu – e Maria Amélia Canossa interpretou – que o passado do FC Porto é “um livro de honras de vitórias sem igual”. De facto, ao longo de 132 anos, o clube que nasceu para um grupo de amigos praticar uma modalidade então quase desconhecida em Portugal converteu-se numa das instituições desportivas mais prestigiadas do mundo. A seguir apresenta-se, de forma sumária, essa longa trajectória.

Um sonho quase desfeito
A 28 de setembro de 1893, o jornal lisboeta Diário Illustrado anunciava na página 3: “Fundou-se no Porto um club denominado Football Club do Porto, o qual vem preencher a falta que havia no norte do paiz de uma associação para os jogadores d’aquella especialidade”. A iniciativa partiu de António Nicolau d’Almeida, um jovem comerciante de vinho do Porto, e envolveu a nata da burguesia estrangeira e estrangeirada da cidade.

Entre outubro de 1893 e março de 1894 realizaram-se vários treinos e encontros entre sócios e, a 2 de março de 1894, os futuros Dragões disputaram frente ao Club Lisbonense a Taça D. Carlos I, na presença do próprio monarca e da rainha D. Amélia. Apesar de haver documentação que aponta para uma estrutura institucional desde cedo (o primeiro regulamento, de 1893, e pelo menos uma assembleia-geral), a verdade é que o clube entrou numa fase de inactividade que durou 12 anos.

Crescimento consolidado

Em 1906, José Monteiro da Costa e o Grupo do Destino revitalizaram o FC Porto, que conheceu um crescimento rápido e sustentado nas décadas seguintes. Em poucos anos o clube dotou-se de estatutos, de instalações próprias (inicialmente o Campo da Rainha; a partir de 1913, o da Constituição), de símbolos e elementos identitários (equipamento, emblema, hino) e conseguiu atrair um número significativo de sócios. Deixou de ser apenas um clube de futebol: desde esse segundo fôlego, promoveu também o ténis, o atletismo e a natação.

Enquanto o futebol português começava a organizar-se e a institucionalizar competições oficiais, o FC Porto firmou-se como o principal clube da cidade e um dos maiores do país. O Campeonato Regional do Porto, em disputa desde 1913, foi ganho pelos azuis e brancos em 30 de 34 edições. O clube venceu ainda as primeiras edições do Campeonato de Portugal, em 1922, e da Liga Portuguesa, em 1935. Considerando estas duas provas, o FC Porto conquistou sete títulos nacionais entre 1922 e 1940.

Os anos de chumbo
O clube continuou a crescer a partir da década de 1940, o que levou à percepção de que o exíguo Campo da Constituição, em uso desde 1913, já não satisfazia a afluência dos portistas. Assim, em 1952 inaugurou-se o Estádio das Antas, erguido graças à mobilização e ao apoio desinteressado de milhares de sócios e adeptos.

No plano desportivo, porém, foram anos difíceis, pontuados por episódios heroicos. Em 1956, o treinador brasileiro Dorival Yustrich conduziu a equipa a uma primeira dobradinha memorável; em 1959 Béla Guttman venceu o campeonato num contexto controverso. Ainda assim, os longos períodos sem títulos nacionais (1940-1956 e 1959-1978) marcaram estas décadas, numa conjuntura política que beneficiava os grandes clubes lisboetas.

O 25 de abril no desporto português
A partir de 1978 tudo começou a mudar: a conquista do campeonato nacional pelo FC Porto, após 19 anos sem vencer, representou uma viragem no futebol português. A grande transformação, porém, teve início em 1976, quando Jorge Nuno Pinto da Costa passou a chefiar o departamento de futebol e trouxe de volta José Maria Pedroto como treinador principal. Daí em diante o clube modernizou-se, posicionando-se na vanguarda do futebol e afirmando-se internacionalmente; igualmente tornou-se uma voz cívica da região e um baluarte contra o centralismo que persistiu após abril.

Estas décadas podem resumir-se numa palavra: sucesso. Os títulos comprovam-no. No futebol, foram conquistadas duas Taças dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões, duas Taças Intercontinentais, duas Taças UEFA/Liga Europa, uma Supertaça Europeia, 25 Ligas portuguesas, 16 Taças de Portugal, 24 Supertaças e uma Taça da Liga. O FC Porto também triunfou no hóquei em patins, no basquetebol, no andebol, no bilhar, na natação, no boxe, no desporto adaptado e em modalidades hoje inativas como o atletismo, o voleibol e a ginástica. Foram igualmente inaugurados o Estádio do Dragão, o Dragão Caixa e o Museu FC Porto.

Honra ao passado com vista no futuro
Em 2024 escreveu-se mais um capítulo desse “livro de honras de vitórias sem igual”. Na votação com maior participação da história do clube, 26.876 sócios elegeram os novos Órgãos Sociais e, a 26 de maio, os 31.º e 32.º presidentes do FC Porto ergueram a 20.ª Taça de Portugal do palmarés azul e branco. Dois meses e meio depois, em Aveiro, uma reviravolta épica frente ao mesmo adversário garantiu a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira e consolidou o estatuto do emblema mais laureado do país.

Seguiram-se meses de mudança, de crescimento e de luto. Sob a presidência de André Villas-Boas, o FC Porto lançou equipas em modalidades como o futebol feminino, o futsal, o boccia sénior e o basquetebol em cadeira de rodas, e aumentou o número de associados de 131 mil para mais de 165 mil. Contudo, 2025 ficou marcado pelas mortes de Jorge Nuno Pinto da Costa e de Jorge Costa.

O “Presidente dos Presidentes” faleceu aos 87 anos, com 71 anos de sócio, após mais de seis décadas de participação nos Órgãos Sociais e 42 anos de liderança da instituição que elevou como poucos. O capitão que ergueu a Taça UEFA em Sevilha, a Liga dos Campeões em Gelsenkirchen e a Taça Intercontinental em Yokohama partiu no lugar que lhe era mais querido, ao serviço do clube que enalteceu durante toda a vida. Pelo caminho, o mundo do futebol lamentou também as mortes prematuras de Diogo Jota e do irmão André Silva.

Para honrar o legado de Jorge Nuno Pinto da Costa, de Jorge Costa e de todos os sócios, jogadores, treinadores e dirigentes que contribuíram para transformar o brasão num símbolo de luta e vitórias, o FC Porto celebra mais um aniversário com orgulho no passado e com a responsabilidade acrescida de edificar um futuro à altura dos últimos 132 anos.