Na época passada, Rodrigo Mora impôs-se como figura central. Com apenas 18 anos, assegurou um lugar no onze e era considerado um talento evidente e o motor da equipa do FC Porto. Chegou-se a especular sobre uma possível transferência para um clube de maior envergadura, algo que ainda não se concretizou. Com o começo desta época, a situação parece ter mudado radicalmente. Este texto não se propõe a avaliar a utilização táctica de Rodrigo Mora, mas antes o impacto psicológico desta alteração repentina na vida do jovem jogador. Apesar de a decisão ser (sempre) do treinador, coloca-se a questão: como gere um atleta tão jovem a passagem de herói em campo a suplente discreto? Quais são as consequências, a nível emocional, motivacional e de rendimento?
A opção do treinador pode responder a razões tácticas, mas é inevitável – e desejável – avaliá-la também sob o prisma emocional. É duro para um jogador que era a estrela e, de repente, deixa de o ser.
A identidade de um desportista edifica-se na relação entre o seu desempenho e o reconhecimento do grupo. A teoria da identidade social recorda-nos que o valor pessoal é, muitas vezes, aferido pelo estatuto concedido pela equipa. Quando esse reconhecimento aparenta diminuir, surge a dúvida: «Ainda conto?». É expectável que o atleta atravesse um período de interrogação quanto ao seu papel no grupo. Deve ainda sublinhar-se que a frustração é inevitável. Segundo a teoria da atribuição, os jogadores procuram sempre explicações: «Fui eu que falhei?» ou «onde falhei?» ou «voltarei a conseguir chegar lá?».
Ainda por cima, a incerteza, a insegurança, a frustração e a quebra de autoestima associadas a esta situação podem intensificar a ansiedade competitiva do atleta e, como é sabido, um excesso de ansiedade tende a diminuir o rendimento em vez de o potenciar. Assim, quando é utilizado em períodos reduzidos, o jogador pode sentir-se condicionado e cometer mais erros devido à pressão, o que dificulta a sua reafirmação no plantel. Trata‑se, portanto, de um cenário de risco que a equipa técnica terá de gerir com delicadeza, mesmo que, à primeira vista, o atleta pareça aceitar a decisão.
O banco de suplentes não é apenas um local físico, é também um espaço psicológico. Para Rodrigo Mora, este pode representar o maior desafio da sua carreira – um jogo que não se disputa nas quatro linhas, mas no campo interior da resiliência. Os campeões não se definem só por golos e assistências; reconhecem‑se igualmente pela forma como resistem à adversidade e à sombra, convertendo‑as em força e crescimento. Para que isso aconteça, é necessário que atleta, treinador e clube tenham consciência desta realidade e proporcionem o apoio adequado, para que o talento não se perca na desmotivação.