Os argentinos devem olhar para a situação do Iturbe com o mesmo espanto que eu olhava para o que se passava com o Postiga nos Spurs.
Na altura passava algumas temporadas em Londres e aquando da sua contratação penso que o elogio mais suave que lhe concedi junto dos meus compadres britânicos foi algo como "o protótipo de ponta-de-lança do futuro".
E atenção que o Postiga já era um pouco mais velho do que o Iturbe, tinha uma excelente formação futebolística e já uma relevante experiência de competições profissionais, inclusivamente ao nível continental com a Liga dos Campeões e Liga Europa.
Não se pode dizer que o Postiga tenha sido vendido depois de ter batido recordes de golos marcados mas penso que era mais ou menos evidente que o Postiga tinha tudo para ser o tal "o protótipo de ponta-de-lança do futuro".
O pior veio depois e é lendo alguns comentários aqui postados que me recordo que são mais ou menos as mesmas palavras que na altura me arremessavam em Londres: "tropeça na bola", "não consegue fazer um passe", "Flop!", "imaturidade", "quando é que faz um golo?" (penso que os dedos de uma mão devem chegar para contar os golos que o Postiga marcou durante a sua estadia com os Spurs...) etc, etc... isto é, os mesmíssimos comentários agora produzidos em relação ao iTurbo e daí que me tenha lembrado do Postiga.
Apesar de (muito) esporadicamente evidenciar rasgos de outro mundo, poderemos em consciência dizer que o Postiga que veio dos Spurs era o mesmo que para lá mandámos?
Tiveram os Spurs o necessário talento (e tempo? e "paciência"?) para concluir o processo de formação do Postiga e fazer dele um fenómeno?
O iTurbo tem uma vantagem em relação ao Postiga: "está a chegar" ao clube mais ou menos com a mesma idade com que saiu o Postiga, ou seja, tem ainda tudo a ganhar. Provavelmente tudo aquilo que Postiga acabou por não ter.
Não pretendo obviamente ser moralista mas tenho a intenção de retirar uma moral disto, ou seja, podemos ser o FC Porto que sempre temos sido ou podemos apenas ser mais "uns Spurs" para o iturbe, para um Danilo, para um Alex Sandro (agora caido em graça mas que natural e compreensivelmente terá os seus momentos menos bons), Atsu, Sérgio Oliveira, David Bruno, Kelvin, Tó-Zé, Vion e tantos e tantos (e peço deculpa a todos os atletas que não mencionei mas estão na mesma situação)...
Isto são tudo jovens em processo de formação, processo este que incorpora a necessidade de também ser incluido tempo de jogo. Tempo de jogo para evolução, não para assobiadelas e bota-baixismos.
Em caso de necessidade, alguns têm o talento mas também a fortuna de agarrar a sua oportunidade (ex: Baía). Outros "vão entrando aos poucos". Outros acabam emperrados e enredados em rótulos (e literalmente na bola, na relva, nas botas, numa espiral descendente em que por vezes até os tintins atrapalham) e cabe também aos adeptos tomarem um partido:
- Ajudar, apoiar, integrar, CRITICAR, compreender, contextualizar; ou
- Renovar-lhe o rótulo, criticar por criticar, acabando por... destruir. Desistir.
Os argentinos são um povo que sabe muito de futebol. Muito. Se a sua opinião generalizada é amplamente positiva em relação ao iTurbe, não seria de, ao menos, dar o benefício da dúvida?
As nossas mães não estavam todas à frente da fila quando se distribuiram gratuitamente conhecimentos avançados de scouting....
Nestes casos como o do iTurbe (e outros), lembro-me sempre do NOSSO jovem Postiga.