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«Até pediram pareceres jurídicos para o Benfica ser campeão» – a crónica de Paulo Baldaia no jornal OJOGO

«Até pediram pareceres jurídicos para o Benfica ser campeão» –  a crónica de Paulo Baldaia publicada este domingo no jornal O JOGO:

“O que me importa é que não seja ninguém a dizer-me o que é importante para mim. Quero poder importar-me com o que vai acontecer quando tudo isto tiver passado. Faça o mesmo, não deixe que lhe digam o que é importante para si. Eu quero continuar a importar-me até com coisas banais, sem ter de me sentir culpado. Bem sei, sabemos todos, que a nível coletivo nada é tão importante como este combate que estamos a travar contra a Covid 19, mas isso não pode, não deve, impedir-nos de continuar a falar de coisas que nada têm a ver com o novo coronavirus. Não há estado de emergência que corte a raíz ao pensamento. E, sim, o futebol continua a importar para quem gosta de futebol. E, sim, o futuro do FCP continua a importar para quem ama este clube. E, não, as aldrabices do SLB não prescreveram.

Cada um sabe de si, mas como esta crónica é escrita por mim, vamos ao que me importa:

1 – Importa-me que se percam poucas vidas nesta pandemia e importa-me que se salvem o máximo de empresas e de empregos para o dia em que a normalidade regressar. Está dito, sem margem para dúvidas! E agora? Tendo em conta que o negócio do futebol não voltará ser o que era, nas palavras do presidente da Liga, posso falar de jogadores de futebol, sem que me chamem desumano?

Os jogadores de futebol de que me importa falar são aqueles que estão a fazer formação no FC Porto, com destaque para aqueles que já jogam na equipa principal e na equipa B. E falo deles, não só porque tenho saudades de ver jogar os Diogos, os Fábios, o Baró, o Vítor e tantos outros, mas também porque tenho como absolutamente certo que aquilo que o futebol precisa de fazer se prende com a capacidade das equipas voltarem a ser compostas por uma larga maioria de jogadores que jogam com a amor à camisola. Esta é a melhor forma de diminuir substancialmente os custos de uma equipa profissional, mas também a melhor forma de ter os adeptos a apoiarem o clube, mesmo quando não se ganha.

2- Insisto, importa-me que se percam poucas vidas nesta pandemia e importa-me que se salvem o máximo de empresas e de empregos para o dia em que a normalidade regressar. Está dito de novo, sem margem para dúvidas! E agora? Posso indignar-me com a hipocrisia e sonsice da direcção do Benfica e dos seus avençados na comunicação lisboeta, sem que me chamem desumano?

A sonsice e hipocrisia não se prende, claro está, com a propaganda que os seus acólitos fizeram a propósito das ofertas ao SNS, julgando-se moralmente superiores e fazendo chacota com os outros clubes, como se a bondade e a caridade também pudessem ser um campeonato para ganhar nas páginas dos jornais. Nessa parte, fiquemos com a parte boa que é a ajuda da maioria dos clubes neste combate.

A sonsice e hipocrisia tem a ver com a tentativa de lançar uma campanha a partir do jornal A Bola para convencer o resto do mundo que o Benfica tinha de ser campeão, se não houvesse mais campeonato. Até pediram pareceres jurídicos, daqueles que se pagam a peso de ouro.

Escreveram editoriais inflamados para garantir que a vaga na Liga dos Campeões seria para o clube do regime. Testaram todas as teses. E esteve sempre tudo bem, enquanto estiveram em campanha, mas passou a estar tudo mal quando tiveram resposta. Tanta hipocrisia não surpreende, apenas, porque vem de onde vem. É por isso que me importa igualmente que estejamos todos muito atentos para que a justiça não faça “reset” a todos processos que envolvem este clube, com o argumento de que há coisas mais importantes a acontecer.”