Crónicas

Club Brugge 1-2 FC Porto. Vitória placebo (por Nuchae)

 

Começar por dizer “ufa” seria um eufemismo e dos grandes.

Depois de arrancada uma vitória a sete ferros frente a um Brugge desfalcado e que na jornada anterior tinha trazido 4 golos na bagagem de Copenhaga, um portista que siga minimamente o clube passa por uma panóplia de emoções: satisfação do momento logo após o final do jogo, aflição pelo futebol praticado durante a maior parte dos 90 minutos, apreciação do esforço dos jogadores e, finalmente, resignação porque sabemos que a exibição não foi um “case study” mas sim algo já por demais expectável.

Cada vez mais parece que existe um paradoxo entre o que o treinador diz conhecer das equipas adversárias e aquilo que a nossa equipa faz com esse conhecimento. Muito respeito pelo Brugge e pelo campeonato belga, mas hoje o jogo foi inteiramente condicionado pela nossa capacidade de ter jogadores nos últimos 30 metros, pois com eles era muito mais fácil recuperar a bola em terrenos avançados.
Ou seja, quando queríamos jogar em transição (que bela ideia contra a capacidade técnica inacreditável dos suplentes do Brugge) estávamos a permitir ao adversário ter a bola perto da nossa baliza e a recuperá-la com constantes tentativas falhadas de passes longos; e quando tínhamos a bola controlada à frente do meio campo tudo ficava mais fácil e conseguíamos criar algum perigo. Magia!!

O golo sofrido no início da partida foi mais que natural pela nossa inaptidão em aproveitar as qualidades dos nossos jogadores e ajudarmos os belgas a jogarem da maneira que eles queriam. A reação foi parca, com alguns momentos perigosos, mas nada que fizesse jus à diferença de qualidade das equipas. Nada mesmo.

Os primeiros quinze minutos da segunda parte foram mais do mesmo, porque o Nuno nada mudou ao intervalo. Nada + nada = nada.
Até que o Nuno percebeu que o Herrera estava a mais desde o primeiro minuto de jogo (falhou mais passes do que o William Carvalho sem poder passar para o lado/frente) e que o Diogo Jota pouco ou nada estava a acrescentar neste sistema tático que, como tinha resultado nos jogos passados, não se alterou.
Entram Brahimi e Corona, a equipa passa a jogar em 4-3-3, mais controlo da bola, mais criatividade nas alas e combinações com os laterais e a equipa ganha novo ânimo. Mais magia!

O golo do empate, por mais irónico que seja, surge na única transição bem efetuada (yes!). Grande remate do Layún que já justificava usar a braçadeira dentro de campo. Tempo de clube nada tem a ver com a qualidade intrínseca que um jogador tem para ser ou não capitão de um clube como o FC Porto.
A equipa estava claramente em crescendo e o treinador decide tirar talvez o jogador mais influente do nosso início de época para colocar o André André. Erro de duas maneiras. A primeira simplesmente por tirar o Otávio de campo, pois é sempre uma constante dor de cabeça para os defesas adversários. A segunda, porque a equipa não precisava do André dentro de campo, pois a aparecer entre linhas deve ser o pior jogador do plantel a finalizar e a rematar fora de área. A equipa estava bem e com uma boa dinâmica, a alteração foi mais prejudicial que benéfica.
Duas boas alterações não justificam uma desnecessária.

O critério com que se procurou o golo da vitória não foi o melhor, mas os jogadores nunca viraram a cara à luta e tiveram o prémio merecido com o penalty indiscutível que o André Silva (muito sangue frio) conseguiu converter para felicidade e alívio de muitos.

Infelizmente esta boa preparação física, mental (já não é a primeira reviravolta) que a equipa aparenta ter, mesmo com o talento intrínseco dos jogadores, pouco parece importar quando tantas questões legítimas podem ser colocadas sobre as opções e declarações do treinador. Não vamos conseguir sempre reviravoltas. Não vamos ter sempre penalties no 92º minuto.

Cada vez se torna mais difícil de encarar o que parece ser inevitável. Mais um falhanço no que toca à escolha de treinadores.
E engane-se quem acha que a culpa do NES. A culpa dele começa e acaba na preparação falha dos jogos e na mentira repetida que é o “conhecimento total dos nossos adversários”. A culpa dos outros já começou há muito tempo, resta saber quando vai acabar.

O nosso campeonato é fraco e a equipa, por si só, chega e sobra para ganhar os jogos mais acessíveis e discutir os clássicos.
Começa a peregrinação até Maio, onde a nós, adeptos, só nos vale rezar ao Espírito Santo.

Por Nuchae