O facto do FC Porto ser campeão não tira razão a quem critica o trabalho do Sérgio Conceição no FC Porto. Muitas vezes quando se perde não é sinal de que as coisas estão mal e muitas vezes quando se ganha não é sinal de que as coisas estão bem. É preciso contextualizar tudo. Por muito que isto custe a muita gente, o FC Porto vai ganhar o título porque foi a equipa menos má de um campeonato extremamente nivelado por baixo em termos de qualidade.
Podemos querer estabelecer comparações e fazer analogias com o FC Porto de Vítor Pereira e o facto de ter deixado o FC Porto depois de ter sido campeão nacional. É verdade que o Vítor Pereira tinha um 11 superior, mas também é verdade que o Vítor Pereira tinha um banco de suplentes incomparavelmente inferior ao banco de suplentes em número e qualidade do Sérgio Conceição. O grande rival de Vítor Pereira foi o Benfica de Jorge Jesus que chegou a duas finais da Liga Europa. O grande rival de Sérgio Conceição foi o Benfica de Rui Vitória e Bruno Lage que tiveram algumas das piores participações europeias da história do clube. Para alguns adeptos do FC Porto, o FC Porto de Vítor Pereira não era entusiasmante porque tinha demasiada posse de bola e faltava objectividade no ataque, mas para outros adeptos do FC Porto o Vítor Pereira era uma equipa com princípios de equipa grande e extremamente bem trabalhados. Já para qualquer pessoa que goste de futebol e não seja um daqueles adeptos que odeiam futebol mas que amam o seu clube, o FC Porto é uma equipa que joga mal e tem dinâmicas pobres para um clube grande.
Podem dar as voltas que quiserem, mas o actual FC Porto não é diferente do Braga do Sérgio Conceição, ou da Olhanense do Sérgio Conceição. As bases do modelo são as mesmas e a única coisa que difere significativamente é a qualidade dos jogadores. É por isso que em muitos jogos desta e de outras épocas, a jogar em casa ou a jogar fora, o FC Porto cedeu a posse ao adversário e preferiu defender o resultado. É por isso que o Rangers, o Feyenoord e o Young Boys em determinados momentos nos fizeram andar a correr atrás da bola durante largos períodos dos respectivos jogos, tal como várias equipas da nossa Liga o conseguiram fazer. Assim de repente, lembro-me de jogarmos num 7-2-1 nos últimos 15 minutos do jogo em Vila do Conde. Foram muitos, muitos jogos em que acabamos a sofrer a bom sofrer porque é assim que defendemos resultados.
Cada um é como é, mas eu prefiro um FC Porto extremamente aborrecido que domina e controla os jogos com bola no meio-campo adversário e acaba a época como a equipa que menos oportunidades concede aos adversários em toda a europa, do que um FC Porto que dá taquicardias em todos os jogos por não saber defender com bola, ou por partir constantemente o jogo e acabar sempre com o coração nas mãos.
Há muitas formas de ganhar, eu prefiro claramente ganhar da primeira forma e se me disserem que se estão a lixar para a forma como a equipa joga e que só querem saber de ganhar, então só vos tenho a dizer que se é assim, o FC Porto já não quer continuar a ser grande e já não tem qualquer tipo de ambição. O FC Porto tem que ganhar, mas tem que procurar sempre ganhar da melhor forma possível, dominar, ter bola, gostar de ter bola, controlar, meter os adversários a correr atrás da bola, massacrar. Como é óbvio numa época inteira é completamente impossível jogar sempre bem e é aí que o crer, a raça, a ambição de ganhar fazem a diferença, mas não pode nunca ser esta última a única forma de se jogar numa época inteira. O FC Porto tem que praticar um futebol condizente com o seu passado vencedor tanto internamente como na Europa.