Acabei de chegar do Dragão, onde fui prestar a minha homenagem ao nosso Capitão.
No velório, de um lado da urna, estavam familiares e amigos mais próximos. Do outro, penso que alguns dirigentes do FC Porto. Na fileira da frente, André Vilas Boas, visivelmente abalado.
E eu só consigo pensar no que este homem já passou nestes dois últimos anos, por amor ao nosso clube. Às ameaças a ele e à família, às agressões à porta da casa, às múltiplas tentativas de assassinato do seu carácter, AVB respondeu com a campanha eleitoral mais bem estruturada de que há memória em Portugal, apresentando aos sócios do FC Porto um projeto tão ambicioso quanto indispensável. Combatendo uma máquina que se perpetuava no poder, com todos os vícios, manhas, jogos sujos, mentiras e ameaças veladas, vence umas eleições históricas com mais de 80% dos votos.
Encontra um clube delapidado, com funcionários descrentes e com salários em atraso. Nos primeiros meses, nem sequer tem autorização de gerir os destinos da SAD em resultado de desfazamentos processuais entre clube e SAD. Foi boicotado por dentro, principalmente, e também por fora. Não se desviou um milímetro do seu principal objetivo: salvar o clube.
Lidou com a morte física do maior dirigente da história do clube, do Presidente dos Presidentes, com um cavalherismo, com uma sabedoria diplomática, com um jogo de cintura que muitos poucos terão. Teve que lidar com uma turma bem identificada que tomou de assalto o velório de Pinto da Costa e voltou a responder com diplomacia, paciência e sabedoria, conseguindo que se realizasse uma cerimónia dentro do Estádio do Dragão. Além do sofrimento pessoal pela morte de alguém que sempre amou, admirou e respeitou, mormente ter sido o principal responsável pela sua queda do poder.
No campo desportivo lidou com alguma inexperiência, com um mercado ambíguo que mostrou alguma da sua eficácia nessa área - plenamente confirmada esta época - mas as apostas erradas na escolha dos treinadores ditaram uma época horrenda. Não haveria certamente portista que mais quisesse vencer do que ele, assim como não houve portista que sofresse tanto pelas derrotas - algumas delas vergonhosas - do que ele.
Ainda assim trouxe de volta o orgulho dos sócios, aumentou exponencialmente o seu número, melhorou de forma visível e significativa todo o ambiente à volta dos jogos, fundou uma equipa de futebol feminino, batendo o record nacional de assistência na categoria ao abrir o Estádio do Dragão para o jogo de apresentação, e foi conseguindo pequenas - grandes vitórias em outras áreas e / ou modalidades.
Percebe-se que esta época - aliada a uma gestão financeira extraordinária - estava no seu foco dar a volta à situação e colocar a equipa principal na senda das vitórias. Não sabemos se irá resultar ou não. Mas o esforço titânico que está a fazer esbarra agora nesta bomba que lhe cai em cima, de forma inesperada e trágica, com a morte do nosso grande capitão, pilar do seu projeto desportivo para o clube.
Mais uma vez, o nosso André vai ter que renascer das cinzas e fazer das fraquezas a sua força. Os adeptos estão com ele. Os sócios estão com ele. Acredito que os funcionários, staff, atletas, estão com ele. Ao vê-lo ali sentado, com o olhar carregado de tristeza perante a urna de um capitão jazido, só pensava "temos que fazer a nossa parte, temos que fazer a nossa parte!"
No que depender de mim, Presidente, pode contar comigo para as futuras batalhas!