Lucho, a diferença exibicional é um ponto que merece ser olhado com calma, porque a diferença é real, mas tem explicações mais profundas do que “andar cansado”, muitas pessoas relativizam, mas há aqui uma questão estrutural de ciclo competitivo.
O FC Porto está no meio de uma fase da época que, para uma equipa ainda em consolidação de modelo, é quase uma travessia no deserto. Repara, a quantidade de jogos com equipas de Top 10, para além de deslocações complicadas que realizamos, num contexto de pressão e sem grande tempo para treino, tudo equipas que exigem máxima concentração, intensidade e preparação táctica. É um ciclo de adversários que te obrigam a jogar no limite físico e mental, semana após semana, sem tempo real para treinar, apenas para recuperar.
O Farioli, sendo um treinador de processo, vive de treino, de repetição e correção, e neste período simplesmente não há treino, só competição. O resultado é inevitável, a equipa tende a simplificar, jogar mais em esforço e menos em fluidez, e o rendimento baixa sem que o treinador tenha espaço para intervir em profundidade.
Com tanto comentador especialista em futebol, não percebo como nenhum menciona isto, é a coisinha mais básica que pode existir, ou melhor, até percebo, enfim, é o tentar "criar pressão" e lançar desconfiança.
Depois, há a questão do equilíbrio emocional e da energia mental. No início da época, tudo é novo, fresco e estimulante, há motivação extra, foco total, as ideias passam com mais nitidez e o corpo responde. Mas ao fim de semanas a jogar quinta - domingo/segunda, com viagens europeias e pressão constante para ganhar, instala-se fadiga cognitiva, o cérebro reage mais devagar, as decisões com bola perdem qualidade, o controlo emocional diminui, e é aí que começam a surgir aqueles momentos de precipitação ou desconexão que antes não víamos.
Há também o fator adversário, que é crítico nesta altura. No início, o modelo do Farioli apanhou muita gente desprevenida. Agora, as equipas já estudaram os nossos padrões de saída, a forma como atraímos a pressão e os pontos fracos. Sem tempo para treino, porque andamos a recuperar os índices físicos dos jogadores mais do que treinar nestes ciclos, não tenham qualquer dúvida.
Por fim, há a gestão do grupo, o Farioli tem procurado equilibrar frescura física e continuidade tática. Mas com um plantel curto em certas posições e a necessidade de manter resultados, é natural que o jogo se torne mais pragmático, menos vistoso. E, sinceramente, é uma escolha inteligente, nesta fase, o que interessa é sobreviver ao ciclo, somar pontos e chegar à pausa com a equipa ainda viva em todas as frentes.
Tenho confiança que o brilho voltará quando o ciclo aliviar, quando tivermos semanas com apenas um jogo, ou com oponentes com menor valia, e o treinador puder voltar a trabalhar o jogo posicional, as dinâmicas de saída e a variação interior-exterior.
Por isso, sim, claro que há diferença exibicional, mas o contexto acaba por ser a explicação. A equipa não desaprendeu a jogar, apenas está a atravessar um período mais denso e competitivo da época, e o facto de continuar sólida no meio disto tudo é, para mim, o maior sinal de força do trabalho do Farioli.