Acho que a pergunta que se deve impor é será o Alguacil o perfil certo para liderar um novo ciclo que o clube tanto precisa.
Desde logo, o Imanol não é um nome mediático, nem um teórico do jogo de laboratório.
É um treinador que fez a Real Sociedad crescer de forma sustentada, com bom futebol, aposta na formação e capacidade de adaptação ao contexto.
Trabalhou com limitações orçamentais, enfrentou boas equipas - a Liga Espanhola é muito superior ao nosso campeoanto - ano após ano, e foi sempre competitivo.
Ganhou uma Taça do Rei.
Voltou à Liga dos Campeões.
Apresentou uma das ideias de jogo mais equilibradas da La Liga.
Potenciou jogadores que foram vendidos.
Não acho justo avaliar o trabalho pela última época, já em claro final de ciclo.
O sistema base é um 4-3-3 ou 4-2-3-1, mas mais importante do que os números é a forma como a equipa se comporta:
Saída de bola curta, com construção paciente, mas com intenção de acelerar no momento certo.
Laterais projetados com critério, mas sempre com coberturas bem montadas.
Pressão coordenada em bloco médio/alto, recuperando bola em zonas perigosas.
Médios posicionais a dar equilíbrio, com um 8 dinâmico a romper linhas.
Avançado móvel, a baixar para ligar jogo, como Alexander Isak fazia.
A grande virtude do Imanol é que a sua equipa sabe o que está a fazer em cada momento do jogo: com bola, sem bola, na perda e na transição.
Ao contrário do Anselmi, que forçou um sistema incompatível com o plantel, o Imanol é um treinador que adapta a ideia ao que tem — e não o contrário.
E olhando para o grupo atual, há jogadores que poderiam beneficiar imenso com o trabalho dele.
O Samu, um avançado que precisa de ser trabalhado e potenciado, com instinto, mas ainda verde nas decisões.
O Imanol, que ajudou (muito) a fazer do Isak um jogador completo, pode perfeitamente trabalhar com o Samu o seu posicionamento, os movimentos em apoio e a finalização com menos ansiedade.
No meio da turbulência desta época, o Mora foi talvez o maior raio de luz. Um talento raro, com capacidade para carregar a bola, fazer o último passe e ainda finalizar. Um jogador que, com espaço para crescer e alguém que o entenda, pode tornar-se absolutamente decisivo para o FC Porto.
E é aqui que também acho que o Imanol pode fazer a diferença.
Na Real Sociedad, potenciou vários jogadores, dando-lhes funções claras dentro de um sistema equilibrado — mas sem os engessar, sem os bloquear com tarefas, pressão e indicações.
É um treinador que confia nos jogadores criativos e sabe dar-lhes liberdade sem desorganizar a equipa.
Com o Imanol, acho que o Mora teria espaço para ser decisivo no último terço.
Não teria de andar a correr atrás do jogo nem de cair para zonas onde não é eficaz.
Jogaria adiantado, entre linhas, com margem para assumir decisões ofensivas — seja a assistir, seja a finalizar.
O Imanol privilegia uma estrutura coletiva bem definida, que permite aos jogadores criativos ter liberdade com responsabilidade.
Ou seja, o Mora não seria obrigado a correr por três ou a compensar os erros de um modelo instável ou ser o placebo que faz esquecer o desastre que acontece dentro de campo, como acontece agora.
Poderia focar-se em desequilibrar, em acelerar, em dar qualidade ao momento certo do ataque.
Além disso, acho que o Imanol saberia:
Quando o proteger fisicamente.
Quando o deixar o solto em jogos grandes.
Quando lhe pedir que assuma responsabilidades.
E quando o rodear com jogadores que o libertem.
É esse tipo de gestão que faz a diferença entre um bom jogador e um craque.
Mora tem tudo para ser craque — mas precisa de um treinador que o entenda e ajude para acelarar a evolução e aportar o máximo a curto prazo.
E o Imanol, com o seu histórico na formação e gestão de talentos jovens, é o perfil ideal para lhe dar as ferramentas certas para explodir.
Para mim, a grande mais-valia do Imanol é a mesmo a capacidade de tirar o máximo rendimento de jogadores que não são vedetas.
Na Real Sociedad, vimos vários jogadores transformarem-se em peças fundamentais não porque sejam craques natos, mas porque sabem exatamente o que têm de fazer dentro do sistema.
O mesmo pode acontecer no FC Porto.
Precisamos de fazer um grupo para a próxima época, com aqueles que a estrutura conseguir contratar, não podemos querer ter o luxo de fazer um grupo para o sistema de um treinador, financeiramente era um torpedo. E no longo prazo potencialmente um risco.
Mesmo com um plantel limitado em algumas posições para a próxima época, o Imanol tem o perfil certo para esconder essas debilidades.
Sabe ajustar o bloco defensivo, proteger os centrais menos rápidos, criar zonas de superioridade para que os médios menos criativos (não temos médios criativos no plantel) não fiquem expostos.
Sabe onde meter gelo para não deixar a equipa partir.
E ao mesmo tempo, sabe como integrar reforços que eventualmente cheguem — sejam jovens em crescimento ou jogadores experientes.
Não força adaptações fora de tempo.
Não inventa posições.
Faz com que as novas peças entrem numa máquina já oleada — e não num caos à espera de milagres.
Mas o mais importante?
O Imanol tem provas dadas de que consegue criar uma equipa com identidade, capaz de jogar bom futebol, de se impor com o que tem.
Mesmo sem grandes estrelas.
Mesmo sem um investimento galáctico.
Com o plantel atual do FC Porto, ele conseguiria montar um onze competitivo, organizado, com ideias — e acima de tudo, perigoso.
Não para jogar bonito por jogar.
Mas para jogar bem — com critério, com garra, com cabeça.
E para ser uma ameaça real em qualquer campo.
Num momento em que o FC Porto precisa de equilíbrio, de trabalho sério e de resultados com identidade, o Imanol representa exatamente isso: competência, adaptação e liderança técnica.
Pode não vir com ideias exuberantes de recuperar uma "posição morta" no futebol.
Mas vem com futebol.
E neste momento, isso vale mais do que promessas — vale futuro.
Anselmi falhou nos fundamentos:
Forçou um modelo para o qual não tinha jogadores.
Não soube reagir aos erros que se repetem todas as semanas.
Nunca conseguiu estabilizar defensivamente a equipa.
Não soube apostar em jogadores jovens, se o fizer agora apenas será em desespero de causa.
Resultado? Uma equipa sem padrão, sem confiança e sem identidade.
O Imanol é o oposto:
Ideia clara, mas ajustável.
Aposta jovem com critério.
Rotinas bem treinadas.
O FC Porto precisa, neste momento, de um treinador com cabeça, olhos no relvado e humildade para perceber o que funciona.
Imanol não é o revolucionário tático, o Bielsa dos tempos modernos, mas garante organização, trabalho e rendimento.
Não se trata de dar um salto no escuro como aquele que demos com o Anselmi.
Se queremos sair da confusão, da rigidez táctica e das ideias bonitas que não se veem em campo, o Imanol é uma oportunidade que não se pode ignorar.
É um treinador com provas dadas e que podemos pagar.
E o FC Porto precisa, mais do que tudo, de voltar a ter um.