Percebo o teu ponto mas as reações do clube têm de ser medidas pela eficácia que têm (não pela aparência que tomam). Assim sendo, que eficácia prática terá isto além de deixar os árbitros ainda com mais vontade de nos prejudicar? É isso que é preciso medir.
Acho que essa lógica parte de uma base perigosa, a ideia de que o FC Porto deve “medir” as suas reações em função da sensibilidade dos árbitros, quase como quem tem de andar em bicos de pés para não os incomodar.
Isso, na prática, seria normalizar o medo e aceitar que o poder disciplinar ou arbitral pode ser usado como retaliação.
E se chegamos a esse ponto, então o problema não está na reação do clube, está no estado das coisas.
O clube fez o que tinha de fazer, marcar território, mostrar que está atento, que não aceita critérios diferentes nem um padrão de prejuízo consecutivo mascarado de “erros humanos”.
Não houve insultos, contacto físico, invasão de campo nem pressão direta, houve um gesto simbólico.
A eficácia aqui não se mede por “melhorar a relação com os árbitros”, mede-se por romper o conforto de quem se habituou a errar contra nós sem consequências.
Quando o Porto reage, como o fez, obrigou o árbitro a olhar-se ao espelho.
E é precisamente isso que lhes incomoda.
Eu não acho que o clube acredita, de um dia para o outro, os árbitros vão deixar de errar contra o FC Porto por causa de uma reação mais firme. O que acredito é que a forma como o clube reage pode alterar o enquadramento em que esses erros acontecem.
Explico:
Quando o clube se cala, cria-se uma zona de conforto. O árbitro que erra contra nós sabe que, no pior dos cenários, vai haver um desabafo de adeptos nas redes sociais e nada mais. Não há ruído institucional, não há pressão pública, e o erro é absorvido sem ondas. Resultado?
O erro passa a ser “seguro”, normalizado. E como o esquema está montado, até leva com um muito satisfatório e a carreira anda sobre rodas.
Quando o Porto reage, mesmo que polémico, muda-se o contexto psicológico e mediático.
Obriga o Conselho de Arbitragem e o VAR a saber que cada decisão errada vai ter resposta.
Obriga as nomeações futuras a serem feitas com mais cuidado, porque qualquer reincidência passa a ter custo mediático.
E, sobretudo, quebra o ciclo de impunidade, já não é totalmente indiferente errar contra o Porto.
Os árbitros não vão de repente tornar-se pró-Porto, nem é isso que se pretende. Mas vão pensar duas vezes antes de decidir de forma leviana ou enviesada, porque sabem que o clube deixou de ser o alvo fácil que engole tudo “para não criar polémica”.
No fundo, não é sobre os árbitros “pararem de errar”, é sobre fazer com que errar contra o Porto deixe de ser o caminho de menor resistência.
E isso só se consegue com presença, ruído e firmeza.
Silêncio nunca travou injustiça nenhuma.
Mas exposição e desconforto, esses sim, acabam por mudar comportamentos, mesmo que lentamente.