Não disse que eram "fascistas".
Aliás eu raramente uso tal palavra, o fascismo é, oi foi, um fenómeno político muito próprio, não devemos de batizar todo o totalitarismo não tombado à extrema-esquerda como "fascista".
Eu vou ser polémico, e sei que vou sofrer backlash.
O Estado Novo não foi fascista. Tenho-o para mim enquanto regime autoritário corporativista conservador de inspiração fascista, mas não como fascista.
O fascismo exige uma conceção totalitária do Estado, coisa que o Estado Novo não tinha. Claro, o Fernando Rosas discordará de mim, porém quero vê-lo a tentar fundamentar a razão pela qual qualifica o regime salazarista como totalitário.
Claro, existem outros motivos que indicam o motivo de não ser fascista. Este é, no entanto, o principal.
Muitos dizem que esta é uma discussão meramente semântica, sem relevância prática - discordo. Ajuda-nos a perceber que nem todo o mal é fascista, evitando cair no poço. Passo a explicar:
É fácil para um autoritário desfazer a questão do fascismo, convencendo muitos eleitores ingénuos de que, de facto, não o é. Donde a importância de consciencializar as pessoas para estes pequenos detalhes.
Além disso, parece cada vez mais provável que o rótulo de fascista (ou de comunista) afasta o eleitor médio, servindo tão só para acicatar os ânimos da base mais fiel. Uma qualificação académica e rigorosa ajudará o Homem médio a perceber o perigo de certos movimentos extremistas.
NOTA: Prevendo indagações sobre a distinção autoritarismo / totalitarismo, proponho os seguintes critérios:
O critério da influência externa: enquanto o Estado totalitário proíbe qualquer fator exógeno ao Estado, o Estado autoritário tendencialmente permite, ainda que com limites.
O critério jurídico: no Estado totalitário, o Direito é puramente arbitrário, estando o conceito de norma à mercê dos seus líderes; no Estado autoritário, existe uma relativa vinculação às normas jurídicas, se bem que possam existir atropelos aqui ou ali.
O critério do controlo: no Estado totalitário, o cidadão vive para o Estado; no Estado autoritário, existe uma determinada conservação de uma esfera individual.
O critério da mobilização ou da ideologia (Arendt): no Estado totalitário, existe uma mobilização forçada em torno de uma ideologia, exigindo uma posição ativa por parte do cidadão, enquanto no Estado autoritário existe uma procura pela apatia e pela despolitização, assentando numa postura passiva do cidadão.
O critério da oposição: no Estado totalitário, existe uma absoluta proibição da oposição, enquanto no Estado totalitário é possível a existência de uma oposição, ainda que controlada ou somente aparente.