Não precisaram de teoria nenhuma. O milagre económico deles foi conseguido graças à disponibilidade de enormes quantidade de energia barata (carvão sobretudo), de mão-de-obra dócil e de baixo custo, e uma enorme quantidade de investimento estrangeiro.
Em teoria, era uma situação em que "ganhavam todos": europeus e americanos livravam-se de indústrias poluentes e de salários altos, trocando-as por uma economia de serviços (vulgo Macjobs) e os trabalhadores europeus compensavam a perda de rendimentos com o acesso a bens de consumo mais baratos e crédito ao preço da uva mijona.
Pelo lado da China, ganhava acesso à tecnologia ocidental e podia transformar-se na fábrica do mundo.
O problema é que o endividamento não parou de aumentar, e essa bolha tornou-se tão grande que ameaça implodir todo o sistema financeiro.
A China desenvolveu-se graças ao seu próprio modelo económico, em muito distinto dos demais países, tornando-se o grande beneficiário da globalização. Triunfou de uma forma que nenhum outro país em desenvolvimento conseguiu replicar, pese embora se tenham também aberto ao mercado global. Claro que beneficiou dos seus próprios recursos naturais e de uma mão-de-obra barata, nem podia ser de outro modo. Há poucas décadas, a China era mais miserável que muitos países africanos. Abriu-se aos mercados ao seu próprio ritmo, primeiro de forma muito limitada; restringiu fortemente o investimento estrangeiro, regrando-o e orientando-o conforme os interesses nacionais; protegeu as indústrias emergentes; trouxe empresas estrangeiras para solo chinês sem abdicar de direitos de propriedade nacionais e conseguindo acesso a tecnologias; conseguiu uma transformação extraordinária da sua economia em pouquíssimo tempo, passando da mera produção de coisas de baixo valor à liderança ou elevado desempenho em sectores de alto valor acrescentado... tudo isto enquanto orquestrou processos de êxodo e urbanização massivos.
Os chineses não se limitaram a identificar as oportunidades da globalização. Apropriaram-se dela, transformaram-na segundo a sua própria estratégia e, contrariando a doutrina económica dominante, conseguiram alterar a ordem mundial, bipolarizando-a. Não abdicaram do seu modelo político e da sua estrutura de planeamento, não permitiram total controlo às entidades estrangeiras que se estabeleceram no país nem fluxos de capital predatório, não entregaram a resolução dos desafios económicos ao mero funcionamento do mercado, não se confinaram à produção de bugigangas... Assim se revela a importância do papel económico do Estado, da administração central e local. Não necessariamente do Estado comunista ou socialista, mas de um estado com poder suficiente para intervir nos grandes processos económicos, conforme o interesse nacional.
Muitos países tinham mão-de-obra barata, recursos energéticos e naturais abundantes, acesso a investimento estrangeiro... mas há apenas uma única China. Veja-se como correu a integração da Rússia e da Índia, e de muitos outros países.
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