Eu não percebo porque se insistem nestas simplificações excessivas como categorizar alguém dessa forma binária como moderado ou não moderado. O que é que realmente isso nos diz sobre o personagem em concreto?
Eu posso elaborar aqui uma longa lista de políticas e assuntos em que tanto o Lindsay Graham como o John McCain eram tudo menos moderados.
As iniciativas bipartidárias não são necessariamente benignas. Aliás, se há algo que nos EUA ultrapassa a ideologia partidária é a guerra e as intervenções externas.
Eu recuso-me a chamar alguém de morado que tenha apoiado incondicionalmente e fanaticamente a guerra do Iraque como ambos fizeram, perfeitamente cientes que mandaram jovens americanos para a sua morte com base numa mentira.
O apoio a diversas sanções económicas a diferentes países que prejudicam gravemente a vida dos mais vulneráveis.
Tanto o John McCain, enquanto foi vivo, como o Lindsay Graham receberam milhões do Lobby pro-Israel para defender intransigentemente e incondicionalmente os interesses sionistas, mesmo quando prejudicavam os interesses americanos.
Ambos defenderam aumentos brutais do orçamento militar em momentos de défice elevado.
As posições fanáticas e agressivas em relação à política externa e relações com a Rússia, rejeitando o diálogo e incentivando a provocação constante e o confronto direto.
A defesa de ataques por drone e bombardeamentos que resultaram em milhares de mortes de crianças e outros civis no médio oriente...
Este tipo de gente é tudo menos moderada e não é um posicionamento bipartidário num ou noutro assunto de política interna que os faz moderados. Tanto o Lindsay Graham como o John McCain são dos neocons mais agressivos e calculistas que a política americana já viu nas últimas décadas.
Vamos lá por partes.
Simplificar é querer transpor o espectro político europeu ou português para os EUA. Não resulta.
Temos de avaliar as coisas conforme o espectro político americano. E a verdade é que estás a agir emocionalmente nas tuas qualificações.
O McCain e a sua ala republicana sempre foram "war hawks". Isso, por si só, não faz com que ninguém deixe de ser moderado nos EUA.
A maioria das iniciativas partidárias dizia respeito a políticas internas, não a guerras.
Desde quando apoiar a guerra do Iraque naquela altura fez alguém deixar de ser moderado? E estás a falar com alguém que andou em manifestações contra a guerra.
O Joe Biden não era moderado? O Chuck Schumer não era moderado? O John Kerry não era moderado? A Hillary Clinton não era moderada? O Tony Blair não era moderado?
Sanções económicas? Aumento do orçamento militar? Defesa de ataques de drones? Pró-Israel? Por momentos, não sei se estávamos a falar do McCain ou do Biden...
O Obama não só defendeu, como promoveu esses ataques de drones, tal como a maioria dos recentes presidentes americanos. Deixa de ser moderado?
Sobre a Rússia, de facto isso faz-me rir. Se há coisa que a história provou é que o Romney e o McCain tinham razão quanto à Rússia.
O McCain foi das primeiras vozes a alertar para a situação da Ucrânia e para a invasão da Geórgia em 2008. Foi ignorado.
O Romney disse num debate que a Rússia era o principal adversário dos EUA e o Obama gozou com ele, algo como "já não estamos nos anos 80".
Se os EUA não tivessem sido tão permissivos com a Rússia, talvez não estaríamos na situação que estamos hoje.
Em matéria de Ciência Política, não podemos deixar que as emoções levem a melhor. Temos de analisar tudo friamente. Toda a gente qualifica o McCain como moderado dentro do Partido Republicano, independentemente de ter sido um conservador ou war hawk.
PS: O McCain seria alguém de um CDS em Portugal. Mas isso não conta para nada, o que conta é aquilo que ele era nos EUA. Repito, no espectro político americano, segundo os ideais americanos e a perspectiva deles.