Afonso Pinto de Magalhães

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Natural do Porto — 31 de Março de 1913 a 29 de Janeiro de 1984

Nem sequer pode dizer-se que Afonso Pinto de Magalhães tenha nascido em faraónico berço de ouro. Foi, sobretudo, homem que se fez a si próprio. Descobriu riqueza explorando estabelecimento de um tio mas, como havia nele sempre em chama uma alma de aventureiro, algures nos anos 50, comprou uma pequena casa de câmbios, à Rua das Flores, no Porto, que parecia destinada à falência. Lutando muito, engrandeceu-a, prestigiou-a, só não conseguindo o golpe de asa porque Salazar não morria de amores por ele. Amiudadamente, este diria a amigos comuns que não percebia aquele seu sainete para colaborar com a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e, principalmente, com o Círculo de Cultura Teatral, no fundo a base do sempre incómodo Teatro Experimental do Porto, os quais, de facto, eram centros activos de oposição democrática. Certamente por isso, só durante a primavera marcelista conseguiu transformar a sua casa de câmbios no Banco Pinto de Magalhães.
Depressa se afamaria como benemérito impulsionador de O Lar do Comércio, instituição de apoio à Terceira Idade, que ele elevou, em termos curativos e sanitários, a um nível europeu, porque não queria que se «transformasse num armazém de carne humana».
Nasceu portista. A paixão cresceu com o tempo. Ainda nas primícias da sua actividade de banqueiro aceitou envolver-se como dirigente sempre activo do F. C. Porto. De tal forma que seria ele a desencantar Yustrich em Minas Gerais, pagando com o seu próprio dinheiro os 150 contos que Dorival Kneeppel exigiu para assinar contrato com os portistas. Valeu a pena. O homem que batia aos jogadores chegou e logo fez do F. C. Porto campeão e vencedor da Taça de Portugal, quebrando um jejum que se arrastava e macerava havia 14 anos...
Afonso Pinto de MagalhãesMas, mais por questão de feitio que por outra coisa qualquer, foi, sistematicamente, recusando o cargo de presidente do F. C. Porto. Que seria seu se o quisesse, logo que o quisesse...
Em 1965, sob a presidência de Nascimento Cordeiro, o clube estava ensarilhado em profunda crise. À beira da falência. Com um passivo que ultrapassava os 11 mil contos. Integrando uma comissão de que faziam parte, também, Cesário Bonito e Ponciano Serrano, Afonso Pinto de Magalhães voltou à liça para resgatar o F. C. Porto da miséria em que se afundara. Quis apenas ser presidente do Conselho Fiscal e com a sua capacidade financeira Cesário Bonito pôde pagar os salários que estavam em atraso havia muito tempo e reformar as letras protestadas, que se avolumavam. Nascimento Cordeiro acusou a tríade de golpe palaciano e colocou o clube de que fora presidente em tribunal, exigindo que lhe fosse devolvido todo o dinheiro que nele injectara. Em Junho de 1966, a vergonha, ante o riso cínico dos detractores — quando foram penhorados aos portistas bens no valor de 1994 contos. O dinheiro de Pinto de Magalhães seria, uma vez mais, decisivo para apagar a mascarra. Pouco depois, de tanto pressionado, assumia a presidência. Industrial e banqueiro, preocupou-se com as infra-estruturas e sonhou fazer das Antas um dos melhores complexos desportivos da Europa. Melhorou o estádio de futebol, construiu piscinas, pavilhões, salas de troféus. Mas, infelizmente, no futebol nada ganhava. Cansado de lutar, em 1972 escolheu Américo de Sá para seu sucessor, com a garantia de que continuava disponível para tudo aquilo de que o F. C. Porto precisasse...
Em Fevereiro de 1975, Afonso Pinto de Magalhães deslocou-se em viagem de negócios ao Brasil. Foi por lá que recebeu a notícia de que todos os seus bens tinham sido arrolados à ordem do major Corvacho, o braço do gonçalvismo a norte. Pelo Brasil se manteve. Regressaria em Fevereiro de 1979 ao Porto e, com Belmiro de Azevedo como braço direito, tentou recompor o seu empório, através da Sonae...