Fiquem lá com este meu desabafo nesta hora de êxtase absoluto
Terá sido, julgo eu, o campeonato mais difícil das nossas vidas. Falo dos Portistas da minha geração, em que os primeiros títulos que se lembram são os da década de 80. Porque tudo jogava contra nós. Mesmo tudo. Um polvo enorme com uns tentáculos poderosíssimos que asfixiavam por completo todos os centros de poder que circundam o nosso futebol. Tentáculos que também controlavam o poder judicial e o poder governativo. Um cenário medonho e um quadro de árbitros, quase todo ele, com simpatia óbvia pelo clube do regime. Além de tudo isto, o FC Porto estava debilitado desportiva e financeiramente, o treinador era novo e inexperiente e passavam já 4 longos anos desde o nosso último troféu erguido. Ao mesmo tempo pela voz do incansável Francisco J. Marques o clube que parecia amordaçado finalmente propôs-se desmascarar toda a batota, todo o jogo sujo e ilegal do rival que procurava neste ano igualar o nosso incrível feito de 1999, o nosso eterno penta. Quem sofre pelo FC Porto há muito se habituou a lutas desiguais mas esta época foi mesmo inacreditável perceber o total branqueamento que a grande maioria da comunicação social fazia a todas as nossas denúncias, era surreal ouvir-se quase a custo e de forma acanhada uma reacção do governo às graves e diversas acusações que foram tornadas públicas sobre os dirigentes encarnados. Ao mesmo tempo sofria-se e muito também dentro de campo, pois quantos mais escândalos iam sendo revelados mais parecia aumentar o clima de impunidade para os mesmos de sempre. O apito corou de vergonha nas Aves, na Feira, em Moreira e no dragão diante do inimigo mas eles sentiam-se impunes e continuavam alegremente de apito na boca pelo clube que os une. E assim ganharam em diversos campos em modo Luis Godinho ao minuto 92 em Setúbal. Encheram a luz e pelo penta valia tudo, ia ser à benfica e nós ali tipo a aldeia do único povo que ainda resiste a um regime totalitário. Ficamos sem o Alex, sem o Danilo, sem o Soares e sem o Marega e abanamos mas dentro de mim, dentro de cada um dos meus havia ainda uma esperança e naquele instante de glória do Hector sentimos que era a nossa hora. As lágrimas de alegria dessa tarde na luz, a emocionante recepção aos nossos bravos depois do jogo do Funchal mais não eram que uma manifestação de revolta da nossa gente perante tanta imundície, tanto jogo sujo, tanto tráfico de influências que lhes foi proporcionando caminhos obtusos para conseguirem estes 4 campeonatos. Por último, uma palavra para dois grandes nomes deste campeonato azul e branco, Sérgio Conceição e Marega. O nosso treinador pela paixão e coragem que soube sempre transmitir aos nossos bravos homens e o nosso camisola 11 porque contra todos os prognósticos soube afirmar-se com sangue, suor, lágrimas como o homem deste campeonato. E pronto, a minha Cidade está em festa. Estou feliz. Um dia, procurarei explicar ao meu filho toda a importância conjuntural deste triunfo do FC Porto. Um amigo mais velho uns anos, diz que se sente pela Invicta um aroma a Abril, a liberdade
E esta festa é a festa de tanta gente
Que ser do Porto é nunca estarmos sós
é gritarmos sozinhos e de repente
ter um milhão de vozes na nossa voz