lpmacedo disse:
Não o carnide conta com os 3 do campeonato experimental (os primeiros a serem num sistema de pontos).
Já me referi a isto várias vezes. Inicialmente, havia apenas uma prova, o Campeonato de Portugal. Era uma prova a eliminar, muito semelhante à Taça de Portugal. Conferia o título de Campeão de Portugal porque não havia qualquer outra prova. O primeiro vencedor foi o Porto em 1922/23 - foi uma edição em que só houve um jogo entre Porto e Sporting, nada mais.
Em 1934/35, iniciou-se o Campeonato Nacional, com sistema de pontos em que todos jogavam contra todos em 2 voltas, uma em casa e outra fora. E mais uma vez foi o Porto a ganhar. A partir daí, essa prova passou a designar o Campeão Nacional, coexistindo durante 4 anos Campeonato da I Liga e Campeonato de Portugal. Este transformou-se em 1938 em Taça de Portugal. E a prova é que no actual troféu entregue ao vencedor da Taça de Portugal aparecem os vencedores desde 1922/23.
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Ora, se o Campeonato Nacional começou em 1935/35, parece-me óbvio que antes disso não houve Campeão Nacional. Conta como título, sim, mas equivalente a uma Taça de Portugal.
Quanto às quatro primeiras edições do Campeonato Nacional, claro que têm de contar como edições do Campeonato Nacional e claro que os seus vencedores têm de contar como Campeões Nacionais. Pode ter sido lançado a título experimental, para ver como é que corria (porque havia muitas dúvidas sobre a sua viabilidade financeira), mas isso não a transforma em Liga Experimental. Porque ao fim de 2 ou 3 meses já se tinha decidido que a experiência era fantástica e que a prova era para continuar para sempre. Logo aí deixou de ser experimental.
De resto, a alteração ocorrida em 1938/39 - numa edição em que mais uma vez o Porto ganhou - foi apenas a nível de nomes - no sentido de aportuguesar os nomes. Assim, a F. P. F. A. - Federação Portuguesa de Futebol Association - passou a chamar-se F. P. F. - Federação Portuguesa de Futebol e a I Liga (do inglês «League») passou a chamar-se I Divisão.
Foi a única alteração. A única.
Como dizia o Norte Desportivo em Janeiro de 1938: «Vai, no domingo próximo, dar-se início ao Campeonato Nacional - nova denominação do antigo Campeonato das Ligas - a disputar em moldes semelhantes ao seu antecessor. Como aquele, terá duas categorias, agora chamadas I e II Divisão, a substituir a nomenclatura que durante 4 anos tiveram de I e II Liga. Para a mais importante Divisão, a mecânica do torneio é absolutamente igual à anterior.»
Ou o «Sporting» (jornal desportivo do Porto) no mesmo ano: ««Ao fim de 4 anos de existência, o Campeonato das Ligas mudou de título e entra no quinto ano com o pomposo nome de Campeonato Nacional.» (Jornal «Sporting», 02/01/1939)
Ou seja, a única coisa que mudou foi o nome. Durante 4 anos, chamou-se Campeonato da I Liga e depois passou a chamar-se Campeonato Nacional da I Divisão. Do Campeonato de Portugal para a Taça de Portugal, ainda se alterou o local da Final, que passava a ser obrigatoriamente em Lisboa (daí os jornais do Porto chamarem à Taça de Portugal a «Taça Lisboa»).
Mas no Campeonato Nacional não houve alterações. Nem uma. Ia haver uma alteração, o último da I Divisão disputaria com o primeiro da II Divisão a participação na prova no ano seguinte, mas nem essa alteração conseguiram fazer. Ficou tudo igualzinho. Até o troféu a entregar ao clube vencedor era igual.
Participantes no último Campeonato da Liga: FC Porto, Benfica, Sporting, Belenenses, Carcavelinhos, Barreirense, Académico do Porto e Académica de Coimbra.
Participante no primeiro Campeonato Nacional: FC Porto, Benfica, Sporting, Belenenses, Casa Pia, Barreirense, Académico do Porto e Académica de Coimbra.
Como o próprio artigo que citei refere, «a mecânica do torneio é absolutamente igual à anterior».
Eram provas exactamente iguais e até os 8 clubes participantes eram praticamente os mesmos - os 4 primeiros classificados do Campeonato Regional de Lisboa (Benfica, Sporting, Belenenses e União de Lisboa ou Carcavelinhos ou Casa Pia); os 2 primeiros do Campeonato Regional do Porto (FC do Porto e Académico ou Boavista ou Leixões); o 1.º do Campeonato Regional de Coimbra (a Académica); e o 1.º do Campeonato Regional de Setúbal (Vitória ou Barreirense).
Distinguir os 4 Campeonatos da I Liga dos restantes Campeonatos Nacionais seria a mesma coisa que querer distinguir entre os Campeonatos Nacionais da I Divisão e o Campeonato da Liga actual - sim, agora não se chama Campeonato da I Divisão, agora chama-se Liga.
E era a mesma coisa que dizer que a Taça dos Campeões Europeus e a Liga dos Campeões são competições diferentes, quando na realidade não são. Aliás, a Liga dos Campeões não só mudou de nome como mudou de figurino, passou a ter prémios, passou a ter fase de grupos, passou a ter clubes que não eram Campeões Nacionais. E apesar de todas estas alterações, é a mesma prova.
Já o Campeonato da I Liga mudou apenas de nome e não muda absolutamente mais NADA e para alguns é uma competição diferente.
Se querem fazer alguma distinção, que façam a partir de 1946/47, quando passou a haver subidas e descidas de Divisão. Só nessa altura é que passou realmente a ser um verdadeiro Campeonato Nacional em que qualquer região podia estar representada. É nessa época de 46/47 que faz sentido estabelecer uma divisão e considerar o antes e o depois. Não em 1938, onde nada mudou a não ser o nome de uma competição.