Quinta feira, 10 de Abril 2003.
A 2ª guerra do golfo estava no seu auge, as tropas aliadas avançaram sobre Bagdad e na véspera entraram na cidade.
A capa de quase todos os jornais era a queda da estátua do ditador iraquiano, numa praça da cidade.
Nada mais se passava no mundo.
Nada mais??... Não é bem assim.
Numa cidade com mais de dois mil anos de história, um grupo de Lusitanos tinha uma batalha marcada contra os invasores romanos. E, como sempre, saíram uma vez mais invictos, escorraçando os irredutíveis laziali.
Foi uma noite de glória que ficou para história do clube e para a minha, para quando quiser contá-la aos netos.
Meias finais da Taça UEFA. Nunca tinha assistido ao vivo a um jogo numa fase tão avançada de uma competição europeia.
Saí de Lisboa por volta das 15h. Tudo calmo. A partir da Mealhada começa a chover... muito. Oh foda-se, vai ser uma molha do crl.
Chegamos ao Porto. Já se sente no ar a agitação do dia de jogo. De jogo grande! As Antas já fervilhavam, era dia de casa cheia. Era dia de se fazer história. Entro para o estádio a 1hora do inicio do jogo. Gostava de me sentar nas Antas mal abriam as portas, Ver o azul das cadeiras a contrastar com o único verde bonito que existia, o do relvado das Antas. Ver as pessoas a chegar, as bancadas a começar a ficar compostas. A pseudo descontracção dos que me rodeiam, com conversas banais como se estivessem na fila para o pão, mas sabendo que por dentro estão ansiosos como eu (Ah, foda-se as saudades que tenho das Antas!!).
Começa a chover outra vez, poucochinho. De repente, uma salva de palmas espontânea ouve-se um pouco por todo estádio. Os da rotunda tinham acabado de defender um penalti contra o celtic. "Boa, bom prenúncio. Hoje é tudo nosso, crl!!"
Vamos lá ao nosso jogo, que é o que interessa. Começou ainda antes do apito inicial com 2 apontamentos que destaco.
A tiffo do Colectivo, a mais fantástica de sempre, com um lema para a vida:
"Não acordar, deixem-nos sonhar!" Desde aí tornaram-se a minha claque preferida. O segundo acontece com o Grande Fernando Couto a entregar um ramo de flores à claque SD. Foi aplaudido por todo o estádio. Nós, no Porto, gostamos sempre dos nossos e respeitamos quem nos respeita.
Começa o jogo e ainda não estava toda a gente sentada já perdíamos por 1 zero - "Foda-se, já começa a barracada. Se perdemos este jogo, tenho a noite estragada" - O estádio todo em silêncio, tirando alguns laziali, o pessoal do banco e 10 jogadores da Lázio. 10? Não eram 11?? Não, o Fernando Couto ficou a meio campo sem festejar o golo. Respect!!
Poucos segundos após o golo, mais um sinal que aquela noite seria de glória. Todo o estádio começou a gritar "Porto!!! Porto!!! Porto!!!" Todos acreditávamos na equipa. Bora lá crl!!
Comçamos a pressionar, a bola está à entrada da área, chega ao Maniche - "Chuta Maniche!!!" - a bola segue em arco...GOOOOLLLLLLOOOOO!!!! GOOOOOLLLLLLAAAAAAÇÇÇÇOOOO!!!!!
"Vamos ao segundo crl"!!!
E fomos ao segundo. Falhámos o 3º, o 4º, o Postiga na pequena área falha o 5º e o Bicho tira o 6º da cabeça do Costinha. "Foda-se, jogamos muito, mas 2-1 ao intervalo não chega. Já podíamos estar a ganhar por 5 ou 6."
Ao intervalo cai uma das maiores saraivadas (não confundir com Saraviadas) que me lembro. Ouve-se um burburinho no estádio, tal a força das pedras.
Começa a 2ª parte, "para cima deles rapaziada". O Deco enche-se de fé, vai rematar do meio da rua. Chuta o Deco, o Angelo dá um Peru(zzi), sobra para o Ninja e já está!! 3-1!! O Colectivo gritava "FESTIVAL!!!! FESTIVAL!!! FESTIVAL!!!" E era de facto. Um festival de futebol!!!
Ainda é curto, jogamos muito mais que esta Lázio. "Olha o Postiga. Chuta puto!!" Ouve-se a bola a bater no poste e "GOOOOOOLLLLLLLLOOOOOOOO!!!!!!!!!" 4-1!!! Exibição de LUXO!!!! O Porto de Mourinho cala a Europa ao vergar a poderosa Lazio de Roma a um 4-1 que lhe foi muito lisonjeiro. Podia ter saído daqui com 8 no saco.
Após o 4º o Mourinho tira o Postiga e coloca o Marco Ferreira e faz a equipa descansar. O mais importante estava feito, que era garantir o acesso à final da Taça Uefa pela primeira vez para o NGC.
Saí do estádio (ao som do Singing in the rain) com a sensação que tinha presenciado a história a ser feita. Aquele foi, sem sombra de dúvidas o melhor jogo que vi o nosso FCP fazer numa competição europeia.
Depois do 27 de Maio de 1987 e do 21 de Maio de 2003, o 10 de Abril de 2003 é o dia e o jogo que mais me arrepia. Infelizmente o único destes que vi ao vivo, mas do qual jamais me esquecerei.
Obrigado por me permitirem recordá-lo aqui e desculpem-me o testamento desproporcionado. Mas este jogo mexe demais comigo