Faz hoje 25 anos que Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa assumiu a presidência daquele que se viria a tornar por duas vezes, sob a sua liderança, o maior clube do mundo: o Futebol Clube do Porto. Por isso, hoje o Presidente está de Parabéns. Aliás estamos todos nós, que o temos acompanhado nesta luta ao longo de todos estes anos, uns mais próximos outros mais distantes, uns mais acérrimos outros mais discretos, mas sempre, sempre com esta enorme paixão que nos acompanhará ao longo da vida.
A seguir transcrevo o poema \"Cântico Negro\" de José Régio, um dos preferidos de Pinto da Costa, que já por várias vezes o declamou ao vivo, e que para mim espelha na perfeição a personalidade ímpar do maior líder de sempre da História do Futebol Clube do Porto:
Cântico Negro, José Régio
\"Vem por aqui\" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: \"vem por aqui!\"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: \"vem por aqui!\"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: \"vem por aqui\"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!