"Pinto da Costa era tudo e o seu contrário. Nas virtudes e nos defeitos, extremo. Dificilmente, o FC Porto terá um presidente tão marcante e tão responsável por preencher imaginários de diversas gerações. Pelo FC Porto dele, chorei de alegria como só uma felicidade de criança é possível em estado adulto.
Há coisas que não lhe perdoo, há coisas que lhe agradecerei para a vida inteira. Tudo na mesma dose. Mas nunca o idolatrei, nunca gritei "Pinto da Costa olé", nunca fiz dele mais mau da fita do que outros o eram neste mundo do futebol. No fundo, continuo a acreditar que, nestes casos e a este nível, não falamos de deuses nem de homens providenciais, mas de seres humanos com terríveis defeitos e excelsas virtudes, a cada momento.
Morreu um homem que fez da sua ideia para o FC Porto, por vezes luminosa, por vezes de sombras, a razão da sua existência. Nessa ideia, estivemos todos, a dada altura. A viver em vida sonhos que nos diziam impossíveis ou a descer aos infernos com ele, mesmo que não houvesse, dentro de nós, qualquer demónio para apaziguar, como se calhar ele tinha.
Todos os portistas foram Pinto da Costa algum dia, de forma voluntária ou inconsciente, a fazer claque ou a revolver as tripas, a revelar facetas desgovernadas ou a incendiar as ilusões. Isso não nos agiganta nem apouca. Foi simplesmente a forma de viver uma paixão por inteiro por um clube-cidade que nos veste por dentro. Tão cegos ou lúcidos como um coração destravado. A condescender no imperdoável, a exagerar no razoável.
Pinto da Costa foi, o Porto é.
Para o bem e para o mal, a forma como nos olham, como nos engradecem ou depreciam, tem a marca dele. Há crédito por isso e uma fatura também a pagar. A história, essa, continua." (Miguel Carvalho)