No futebol, não é o sistema que define tudo. Um 3-4-3, um 4-3-3 ou um 4-4-2 não são mais do que pontos de partida.
O que faz a diferença são os comportamentos dentro desses sistemas, os desdobramentos que a equipa consegue ter conforme o jogo exige.
Há uma coisa que tem de ficar clara: um sistema base não te amarra a uma única forma de jogar.
Podes muito bem partir de um 3-4-3, mas desdobrar isso dentro do jogo em várias disposições táticas — depende do momento do jogo, do adversário, da zona onde a bola está, até da vantagem ou desvantagem no marcador.
Isso é leitura, é treino, é flexibilidade dentro da estrutura.
É perceber que o futebol hoje não se joga em sistemas fixos — joga-se em dinâmicas ajustáveis.
E é isso que muitos esquecem quando falam em "manter a ideia":
Manter a ideia não é repetir a mesma coisa mesmo quando não funciona.
É ter princípios de jogo — posse, agressividade, organização — que vivem dentro de diferentes momentos e comportamentos táticos.
O Guardiola, o De Zerbi, Ancelloti... todos eles têm uma estrutura base, mas mudam constantemente a disposição da equipa sem mudar o modelo.
É isso que um treinador com mão no grupo e leitura de jogo faz.
O que não pode acontecer, como está a acontecer com Anselmi, é veres a equipa sempre igual — seja com bola, sem bola, a ganhar ou a perder.
O futebol pede adaptação — dentro da tua ideia, sim, mas com desdobramentos claros e treinados.
Se não há isso, então não tens um sistema. Tens uma teimosia.
E é aqui que muita gente se engana — e onde, infelizmente, o Anselmi falha por completo.
Porque tu até podes ter uma ideia — e ela pode ser boa no papel.
Mas se os teus centrais não têm saída curta, se o teu meio-campo não consegue segurar com bola, e se jogar com linha alta com jogadores lentos é suicídio… então o teu dever como treinador é proteger a equipa.
Não é insistir no erro.
Não é repetir os mesmos comportamentos à espera que, por milagre, comecem a funcionar.
Quem está no banco tem de perceber onde dói e meter gelo.
Não insistir no que já sabes que vai partir.
Isso não é convicção — é imprudência.
Tu podes até entrar com uma boa ideia — mas se o jogo te está a dar outra coisa, tens de reagir.
Tens de ajustar o bloco, mudar a pressão, trocar dinâmicas, fazer substituições a tempo.
Tens de ler o jogo. Sentir o momento. E proteger a tua equipa.
E acho que é isso que mais choca neste FC Porto: não é perder. Perder no futebol acontece. Faz parte do processo e é preciso saber conviver com isso, sempre na busca de procurar nunca perder.
É perder sempre da mesma maneira. Ver sempre o mesmo, jogo após jogo.
Levam com a mesma jogada 3, 4 vezes por jogo. Os mesmos espaços abertos. As mesmas perdas a meio.
E não há correção.
Falta leitura.
Falta instinto de treinador.
Falta saber reagir.
E isso, num clube como o FC Porto, não pode continuar a acontecer.