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Natural de Belo Norizonte (Brasil) 13 de Março de 1934
Para o F. C. Porto veio Osvaldo Silva, em 1957, pela mão de Yustrich, que o descobrira em Belo Horizonte. Passara do Pompeia F. C., onde se iniciara no futebol, ao mesmo tempo que trabalhava como serralheiro mecânico para o América, clube que Yustrich treinara, fazendo do boxe e da luta livre preparação dos pupilos. Para as Antas partiu, com uma miríade de sonhos acalentados, com a promessa de 69 contos por época. Nunca assim ganhara.
Depressa se tornou a arma secreta de Yustrich, naquele seu jeito vagabundo de jogar a meio-campo, com explosões desconcertantes e rasgantes passes de morte para o coração da área adversária.
Não foi preciso esperar muito para se perceber que era um dos meninos queridos de Yustrich. Por isso, foi sem espanto que, quando em Janeiro de 1958, Hernâni e Dorival Kneepel se envolveram em pancadaria, num dos corredores do Estádio das Antas, tendo sido ambos suspensos pela Direcção portista, Osvaldo Silva tomou o partido do treinador, que, para si, era quase um guru. O comando técnico do F. C. Porto foi, interinamente, entregue ao argentino José Valle, que pouco antes abandonara a carreira de jogador. Ao seu primeiro treino faltaram, ostensivamente, Osvaldo Silva, Zeca e Lito. Dos brasileiros, só Gastão fora ao estádio. Sobre os outros ficou pendente espada de Dâmocles. Mas, como o Campeonato estava ao rubro e o F. C. Porto ainda estava na luta, para evitar o suicídio bastou que pedisse desculpas para que Paulo Pombo, o presidente, e José Valle, lhes perdoassem. Acabaram por ter melhor sorte que Yustrich, que, mal se desfizera a ilusão do título revaliado, foi despedido, substituído pelo também brasileiro Otto Bumbel, que treinara o Lusitano de Évora durante o Campeonato. E seria com Bumbel que os portistas acabariam por salvar a época de todas as turbulências internas, batendo, na final da Taça de Portugal, o Benfica de Otto Glória. Osvaldo foi, naturalmente, um dos homens da festa no Jamor...
Como Guttmann o afastou das Antas...
Mas Otto Bumbel, acusado de ter recebido 60 contos do Celta de Vigo para não contrariar a transferência de Jaburu para o Celta, deixaria o F. C. Porto ainda antes de se iniciar a nova temporada e com as 950 mil pesetas que receberam pela venda de Jaburu, os portistas contrataram Béla Guttmann. Com Guttmann, apesar de pouco utilizado, ainda Osvaldo Silva se sagrou campeão de Portugal, naquele famoso Campeonato ganho pelo F. C. Porto com o golo de António Teixeira, em Torres Vedras, no último minuto, com Calabote, na Luz, deixando que se continuasse a jogar...
Mas Guttmann, que secretamente era já treinador do... Benfica, traçara, inapelável, o destino de Osvaldo, enchendo os ouvidos dos dirigentes portistas com o labéu de que Osvaldo Silva era a erva daninha do balneário, que se não a extirpassem depressa condenados estariam, certamente. Nem a traição do velho feiticeiro fez com que nas Antas se mudasse a opinião que se formara de Osvaldo, que assim foi dispensado ao Leixões. Para Matosinhos foi com o coração ferido e uma ânsia quente de vingança. «Nesse tempo, andava na cidade sempre de cabeça baixa, com os olhos no chão, com medo de enfrentar as pessoas, por aquilo que se pôs a correr deviam pensar que eu era um crápula... Mas não fiquei com rancor de Guttmann. Fui afastado no seu mandato, mas as causas devem-se a terceiros. Foi um mal-entendido, de que fui vítima, devido a intrigas e em que Guttmann, acreditando em coisas que lhe disseram, foi menos humano comigo...»
Na primeira de três temporadas em que jogou pelo Leixões, Osvaldo Silva recebeu 45 contos de luvas e 2200 escudos de ordenado mensal. Logo nessa época, por causa de um golo de Osvaldo Silva, no último minuto, que deu vitória do Leixões, nas Antas, por... 3-2, hipoteceou o F. C. Porto as suas possibilidades de vitória no Campeonato. Pior aconteceria no ano seguinte, na final da Taça de Portugal. Osvaldo era já, incontestavelmente, a estrela da companhia apesar de o Leixões, treinado por Filpo Nuñez, contar com gente ilustre, como Rosas, Santana, Oliveirinha, Gomes, Raul Machado e Jacinto. Porque eram duas equipas portuenses, na final, a FPF anuiu em fazer o jogo no Porto. Edison Magalhães, presidente do Leixões, colocou a questão aos seus jogadores, que se reuniram e por votação... escolheram as Antas, depois de um deles aventar a hipótese de que isso criaria, ainda mais, no adversário, a obrigação de ganhar, que poderia ser o trunfo para transformar a peleja numa reedição da lenda de David e de Golias. Foi o que aconteceu.
A Taça foi para Matosinhos e no ano seguinte foi Osvaldo para Alvalade. De luvas recebeu 200 contos, para além de garantia de ordenado de 4000 escudos. Nesse ano de 1963, apesar de ajudar a conquistar mais uma Taça de Portugal, não conseguiu suster rumores que apontavam para a sua dispensa ao V. Setúbal, ao Barreirense, ao Lusitano de Évora. Chegou, igualmente, a falar-se do regresso a Matosinhos, como moeda de troca, na transferência de Gomes, que à última hora optaria pelo F. C. Porto, perdendo, contudo, o caminho da glória.
Osvaldo, por seu turno, entrou nesse trilho de ouro. Sem titubear. E de chamada cada vez mais intensa. Nos primeiros dias de 1964, quando rolou a cabeça de Gentil Cardoso e Anselmo Fernandez, arquitecto de profissão que jogara futebol no Sporting, numa equipa em que outro dos ilustres era um dos netos do marechal Carmona, pegou na equipa depois do desaire de Manchestar, não imaginava, certamente, que o seu fastígio se construiria com os pés de Osvaldo Silva, autor de três dos cinco golos com que o Sporting desfez em estilhas os diabos vermelhos de Busby e se começava a desvendar a senha (e o santo) para a fantástica epopeia de Antuérpia. Do Sporting saltaria para o Olhanense, como jogador-treinador. Treinaria, também, o Académico de Viseu, mas nos primeiros anos de 70 era vê-lo já, em Alvalade, no trabalho que mais o apaixonava: treinar as escolas de futebol.
Para o F. C. Porto veio Osvaldo Silva, em 1957, pela mão de Yustrich, que o descobrira em Belo Horizonte. Passara do Pompeia F. C., onde se iniciara no futebol, ao mesmo tempo que trabalhava como serralheiro mecânico para o América, clube que Yustrich treinara, fazendo do boxe e da luta livre preparação dos pupilos. Para as Antas partiu, com uma miríade de sonhos acalentados, com a promessa de 69 contos por época. Nunca assim ganhara.
Depressa se tornou a arma secreta de Yustrich, naquele seu jeito vagabundo de jogar a meio-campo, com explosões desconcertantes e rasgantes passes de morte para o coração da área adversária.
Não foi preciso esperar muito para se perceber que era um dos meninos queridos de Yustrich. Por isso, foi sem espanto que, quando em Janeiro de 1958, Hernâni e Dorival Kneepel se envolveram em pancadaria, num dos corredores do Estádio das Antas, tendo sido ambos suspensos pela Direcção portista, Osvaldo Silva tomou o partido do treinador, que, para si, era quase um guru. O comando técnico do F. C. Porto foi, interinamente, entregue ao argentino José Valle, que pouco antes abandonara a carreira de jogador. Ao seu primeiro treino faltaram, ostensivamente, Osvaldo Silva, Zeca e Lito. Dos brasileiros, só Gastão fora ao estádio. Sobre os outros ficou pendente espada de Dâmocles. Mas, como o Campeonato estava ao rubro e o F. C. Porto ainda estava na luta, para evitar o suicídio bastou que pedisse desculpas para que Paulo Pombo, o presidente, e José Valle, lhes perdoassem. Acabaram por ter melhor sorte que Yustrich, que, mal se desfizera a ilusão do título revaliado, foi despedido, substituído pelo também brasileiro Otto Bumbel, que treinara o Lusitano de Évora durante o Campeonato. E seria com Bumbel que os portistas acabariam por salvar a época de todas as turbulências internas, batendo, na final da Taça de Portugal, o Benfica de Otto Glória. Osvaldo foi, naturalmente, um dos homens da festa no Jamor...
Como Guttmann o afastou das Antas...
Mas Otto Bumbel, acusado de ter recebido 60 contos do Celta de Vigo para não contrariar a transferência de Jaburu para o Celta, deixaria o F. C. Porto ainda antes de se iniciar a nova temporada e com as 950 mil pesetas que receberam pela venda de Jaburu, os portistas contrataram Béla Guttmann. Com Guttmann, apesar de pouco utilizado, ainda Osvaldo Silva se sagrou campeão de Portugal, naquele famoso Campeonato ganho pelo F. C. Porto com o golo de António Teixeira, em Torres Vedras, no último minuto, com Calabote, na Luz, deixando que se continuasse a jogar...
Mas Guttmann, que secretamente era já treinador do... Benfica, traçara, inapelável, o destino de Osvaldo, enchendo os ouvidos dos dirigentes portistas com o labéu de que Osvaldo Silva era a erva daninha do balneário, que se não a extirpassem depressa condenados estariam, certamente. Nem a traição do velho feiticeiro fez com que nas Antas se mudasse a opinião que se formara de Osvaldo, que assim foi dispensado ao Leixões. Para Matosinhos foi com o coração ferido e uma ânsia quente de vingança. «Nesse tempo, andava na cidade sempre de cabeça baixa, com os olhos no chão, com medo de enfrentar as pessoas, por aquilo que se pôs a correr deviam pensar que eu era um crápula... Mas não fiquei com rancor de Guttmann. Fui afastado no seu mandato, mas as causas devem-se a terceiros. Foi um mal-entendido, de que fui vítima, devido a intrigas e em que Guttmann, acreditando em coisas que lhe disseram, foi menos humano comigo...»
Na primeira de três temporadas em que jogou pelo Leixões, Osvaldo Silva recebeu 45 contos de luvas e 2200 escudos de ordenado mensal. Logo nessa época, por causa de um golo de Osvaldo Silva, no último minuto, que deu vitória do Leixões, nas Antas, por... 3-2, hipoteceou o F. C. Porto as suas possibilidades de vitória no Campeonato. Pior aconteceria no ano seguinte, na final da Taça de Portugal. Osvaldo era já, incontestavelmente, a estrela da companhia apesar de o Leixões, treinado por Filpo Nuñez, contar com gente ilustre, como Rosas, Santana, Oliveirinha, Gomes, Raul Machado e Jacinto. Porque eram duas equipas portuenses, na final, a FPF anuiu em fazer o jogo no Porto. Edison Magalhães, presidente do Leixões, colocou a questão aos seus jogadores, que se reuniram e por votação... escolheram as Antas, depois de um deles aventar a hipótese de que isso criaria, ainda mais, no adversário, a obrigação de ganhar, que poderia ser o trunfo para transformar a peleja numa reedição da lenda de David e de Golias. Foi o que aconteceu.
A Taça foi para Matosinhos e no ano seguinte foi Osvaldo para Alvalade. De luvas recebeu 200 contos, para além de garantia de ordenado de 4000 escudos. Nesse ano de 1963, apesar de ajudar a conquistar mais uma Taça de Portugal, não conseguiu suster rumores que apontavam para a sua dispensa ao V. Setúbal, ao Barreirense, ao Lusitano de Évora. Chegou, igualmente, a falar-se do regresso a Matosinhos, como moeda de troca, na transferência de Gomes, que à última hora optaria pelo F. C. Porto, perdendo, contudo, o caminho da glória.
Osvaldo, por seu turno, entrou nesse trilho de ouro. Sem titubear. E de chamada cada vez mais intensa. Nos primeiros dias de 1964, quando rolou a cabeça de Gentil Cardoso e Anselmo Fernandez, arquitecto de profissão que jogara futebol no Sporting, numa equipa em que outro dos ilustres era um dos netos do marechal Carmona, pegou na equipa depois do desaire de Manchestar, não imaginava, certamente, que o seu fastígio se construiria com os pés de Osvaldo Silva, autor de três dos cinco golos com que o Sporting desfez em estilhas os diabos vermelhos de Busby e se começava a desvendar a senha (e o santo) para a fantástica epopeia de Antuérpia. Do Sporting saltaria para o Olhanense, como jogador-treinador. Treinaria, também, o Académico de Viseu, mas nos primeiros anos de 70 era vê-lo já, em Alvalade, no trabalho que mais o apaixonava: treinar as escolas de futebol.