O Mora é, em campo, um desestabilizador. Oferece à equipa soluções adaptadas ao momento, com as quais o adversário tem dificuldade em lidar. Mas para poder oferecer o que de melhor tem para dar à equipa, e para estar em condições para dificultar ao máximo a vida ao oponente, tem de ter um papel muito concreto em campo. Tem de ter menos preocupações defensivas, tem de jogar mais próximo da área adversária, e acima de tudo tem de ter os colegas a conseguir lidar com essas especificidades sem que a equipa se ressinta. É normal que alguém com 18 anos tenha estas debilidades. Anormal seria não as ter. Já muito oferece ele, mas ninguém lhe pode pedir que seja um jogador completo. Não neste momento da carreira e da formação dele.
Desta forma, a única coisa necessária para a titularidade do Mora é.. tempo. Tempo para que ele se foque em tornar as suas debilidades menos presentes. Tempo para que ele identifique a melhor forma de continuar a ter impacto ofensivo sem com isso fugir ás responsabilidades para com a equipa quando sem bola.
Mas também tempo para que a equipa, que está em construção, se torne mais coesa, mais sólida, com maiores automatismos e mais capaz de lidar com um talento como o Mora sem ter de lhe pedir demasiado em termos defensivos. Uma equipa madura lida bem melhor com a entrada de alguém como o Mora no onze do que uma equipa em gestação acelerada como a nossa. É preciso tempo.
Muita gente fala de miúdos como o Mora que entraram em grande e nunca tiveram de ficar de fora quando foram lançados nos séniores. Mas o contexto é importante. E ter esse processo de entrada no onze ao mesmo numa equipa em construção, mais pragmática, que ainda está à procura da sua identidade, que procura estabelecer fundações sólidas para depois, e aí sim, poder ser um pouco mais exuberante, torna-se mais complicado.
Dando exemplos rápidos.. o Quenda entrou num Sporting campeão, o Messi fez a primeira temporada a sério num Barça bi-campeão, o Fàbregas é lançado no Arsenal após o título invicto, etc, etc. Haverá, como é normal, miúdos a serem lançados em equipas que ainda não estavam feitas, mas a questão é que há diversos exemplos que tornam evidente a correlação entre ser produtivo ter uma equipa adulta, consolidada, antes de lançar talentos como o Mora ás feras, com toda a responsabilidade inerente, e as óbvias consequências (para o bem e para o mal) para as suas carreiras.
O ano passado tudo correu mal. A entrada do Mora na equipa tinha de acontecer porque não havia muito mais a apresentar. Não havia ideia, não havia trabalho, não havia equipa. Este ano é diferente. Há um treinador novo, uma equipa nova, um contexto novo. E se nós, enquanto adeptos do Clube e fãs do Mora, dermos tempo ao tempo, temos tudo para não só vermos o melhor que este grupo de jogadores tem para apresentar, mas também o melhor do próprio Mora. É cliché mas é mesmo assim. É preciso dar tempo.