Nem sei por onde começar.
Ultimamente já não ando ativo pelo fórum, pois a minha vida mudou drasticamente para melhor e este ano tinha tudo para ser um excelente ano, só que isso não aconteceu. Neste momento sinto-me no fundo do poço, embora saiba que há situações muito piores que as minhas.
Para quem não se lembra de mim, era o tipo que passava a vida enfiado nos tópicos de ciclismo, isto até ao escândalo da W52, que me afastou um bocado dessa modalidade que tanto acompanhava. Por acaso, o final da nossa equipa coincidiu com uma altura em que estava numa má fase da minha vida pessoal, só que entretanto conheci uma mulher maravilhosa com quem comecei a trocar cartas através de uma app em pleno século XXI. Essa mulher de certa forma salvou-me a vida e as nossas cartas foram adquirindo proporções tão grandes que nem um nem outro tinha forma de responder, daí termos começado a falar por outros meios com maior regularidade, até eventualmente nos conhecermos pessoalmente e nunca mais nos conseguirmos largar.
Quase um ano depois, começámos a viver juntos em casa dos meus pais, pois estávamos a juntar condições para arranjar a nossa própria casa. Importa dizer que essa mudança dela ocorreu bem mais cedo do que esperava, porque ela vinha de uma família abusiva e em breve as circunstâncias da vida dela iriam mudar, ao ponto de não mais ser possível estarmos juntos. Por isso, priorizámos o amor um pelo outro. Desde aí cortou todas as relações com a família e tinha noção de que, se voltasse lá, a coisa poderia terminar muito mal. Sim, era grave a esse ponto.
Desde aí tivemos quase 3 anos maravilhosos. Não vou dizer que não existiram conflitos, como acontece com todos os casais. Ambos temos falhas e amávamos um ao outro independentemente disso. Tínhamos uma conexão especial que, em quase 30 anos de vida, nunca me pareceu ser possível com ninguém, tanto que evitei relacionamentos ao máximo, sejam de curto ou de longo prazo. Nunca me fizeram sentido até aquele momento.
Só que tudo, de um momento para o outro, desapareceu. Incluindo ela, no passado dia 26 de novembro. Levou alguns produtos de higiene, alguns pertences pessoais e 2/3 peças de roupa e pouco mais. Deixou duas cartas, uma para os meus pais e outra para mim, apagou tudo o que era rede social e bloqueou-me, tanto a mim como à minha família. Esperava encontrar respostas, mas eram cartas genéricas que em nada clarificavam o que aconteceu.
Podia interpretar como um simples término da relação por parte dela. Só que, infelizmente, é bem pior do que isso. Ela não tinha trabalho há um ano, logo não tinha rendimentos, e a conta bancária dela estava literalmente a zeros. Também não tinha propriamente um círculo de amigos, pois ela abdicou de muita coisa quando veio para cá. Tinha apenas um ou outro colega mais próximo na faculdade, onde ingressou com 23 anos, pois os pais não a deixaram fazê-lo mais cedo. Ou seja, todas as despesas dela eram suportadas por mim e pela minha família, o que torna o desaparecimento dela mais preocupante. Por outro lado, ela deveria ter para onde ir, porque senão não levaria o que levou, mesmo não tendo tocado no nosso fundo de emergência.
Mais tarde descobri que ela deixou de frequentar as aulas, mesmo que não saiba se será ou não uma questão temporária, e que andava a ser seguida pela psicóloga da universidade, algo que ela nunca me contou. Eu sei que ela tinha os traumas dela e as suas inseguranças, só que ultimamente parecia muito melhor. Só que, nos últimos três meses, não conseguia passar tanto tempo com ela como queria. Apesar de dividirmos casa, trabalho de segunda a sábado e chegava sempre tarde e ela saía sempre cedo. Praticamente só tínhamos o sábado ao final da tarde para fazermos algo para nós e o domingo inteiro, mas eu tentava sempre arranjar uma forma de lhe fazer um gostinho e saía com ela sempre que possível.
No próprio dia em que ela desapareceu, fomos à polícia. No entanto, disseram-nos que não podiam fazer nada, uma vez que ela é maior de idade. Ainda assim, tentaram contactá-la, mas constataram que o número de telemóvel já não se encontrava ativo.
Neste momento não sei o que fazer, até porque não tenho assim tanta gente para me apoiar. Sonho todos os dias que ela volta e que se resolve toda a situação. Sinto-me vazio e sem motivação, como se não tivesse alegria para viver. Dizem-me que tenho de seguir em frente, só que não me tem sido possível, porque nem a trabalhar horas extra de segunda a sábado me consigo distrair da situação, até porque nem sei se ela consegue sobreviver, dadas as nenhumas condições que tinha para fazer a vida dela. Sinto que tenho de lidar com isto como se ela tivesse morrido, mas pior...