Enquanto tivermos bestas como o neto da moura ou raio que o parta a fazer de juíz, não vamos longe.
É fundamental que as mulheres sintam que vale mesmo a pena falar e fazer queixa. Muitas vezes não o fazem porque têm medo de sofrer represálias ainda mais gravosas e não sentem que as autoridades as conseguem proteger. Penso que aquele caso em que o cabrão matou a sogra e a filha teve várias queixas da mulher que não tiveram a resposta devida.
Uma mulher que esteja neste momento a sofrer maus tratos e a considerar apresentar queixa, pensa nas dezenas de mulheres que já morreram este ano e desiste da ideia. Com filhos mais complicado ainda.
Depois há um complexo quadro psicológico.
Nunca começa logo com uma valente sova. Primeiro é um berro. Depois uma atitude agressiva. O controlo. O ciúme. Depois um estalo. O medo. A chantagem. O sentimento de culpa da vítima. As desculpas e o não volta a acontecer. A esperança fútil de isso ser verdade alimentada pela memória das coisas boas. Ele não é assim, ele é bom, é uma fase.
Quando as coisas estão realmente insustentáveis, a vítima já está num estado em que não sabe o que fazer, perdida e com medo da própria sombra. E se ele vem atrás de mim? E se ele vai ao meu trabalho? E se se vinga na minha família?
Por outro lado, há tendências que começam desde cedo. As pequenas coisas.
Há muitas raparigas que acham normal que o companheiro queira ter a pass do Facebook, ou acesso às SMS, por exemplo. Se não tens nada a esconder não há problema. Acham normal que não saiam à rua com um decote ou uma minisaia porque o namorado não quer. Que não conversem nem tenham programas com amigos porque o namorado tem ciúmes e por aí fora.