Futebol

José Sá: “Sinto o clube como um adepto”

Do sonho de ser o melhor do mundo à realidade de treinar ao lado de Casillas. José Sá está pronto para agarrar a baliza do FC Porto

​​Por João Queiroz

Começou a jogar na defesa, mas não na baliza. Foi para lá, porque foi obrigado, já que não havia guarda-redes disponíveis, “apanhou o jeito” e hoje é o seu habitat natural dentro das quatro linhas. O início do percurso de José Sá no futebol não foi fácil em nenhum clube por onde passou até chegar ao Estádio do Dragão e ser recebido de braços abertos pelos adeptos, que desde cedo lhe dispensaram um carinho especial, porque, diz ele, sente o clube como um deles.

Começou a jogar futebol como lateral direito. Não gostava de ir à baliza?
No início não gostava muito, é verdade, e só me consciencializei de que seria guarda-redes entre os iniciados e os juvenis. Fui empurrado para a baliza e não gostei nada. Não havia guarda-redes disponíveis, vieram perguntar-me se queria ir à baliza e a verdade é que inicialmente disse que não, mas acabei por ir, apanhei o jeito e hoje estou onde estou.

O seu primeiro treinador, José Carlos Antunes, foi alguém importante nessa fase…
Ele foi meu treinador no Palmeiras [de Braga], entretanto mudou-se para o Merelinense e queria que eu fosse com ele. Eu estava no segundo ano de juvenil e também queria ir para lá, porque entretanto me chateei com o meu treinador no Palmeiras, mas o clube não me deu a carta. Fui na mesma para lá, mas fiquei meia época sem poder competir, apenas treinando. Em janeiro, o Merelinense conseguiu obter a carta e foi quando comecei a jogar.

Foi aí que começou a despertar a atenção de outros clubes e o Benfica acabou por contratá-lo. Foi uma decisão difícil mudar de cidade, ir para Lisboa?
Foi um bocado. Tinha 17 anos, nunca tinha saído por muito tempo da minha cidade e deixar família e amigos custou.

De Lisboa foi para a Madeira jogar no Marítimo primeiro nos juniores, depois na equipa B até chegar à equipa principal. Não foi um percurso fácil…
Não, porque por um lado a Madeira é um sítio complicado para se viver e, por outro, o próprio clube também nunca quis apostar em mim. Só me restou aceitar e continuar a trabalhar. Mas sim, é verdade que passei lá maus bocados.

Também se aprende com esses maus momentos, não?
Claro, sem dúvida. Um jogador de futebol tem que passar por tudo, embora nem sempre seja fácil.

Foi na Madeira que se estreou na Liga, curiosamente num jogo contra o Benfica, que o Marítimo venceu por 2-1 com uma grande exibição do José Sá. Quando soube que seria titular, qual foi a sua reação?
Fiquei ansioso, nervoso, não só pelo que o jogo representava para mim, porque era o primeiro jogo na Liga, mas também porque era frente a um clube que eu já tinha representado. Teve um sabor agradável ter vencido esse jogo. A verdade é que depois fiz seis jogos, mas depois tiraram-me da equipa e até hoje nunca percebi porquê.

Esse jogo contra o Benfica acabou por ser uma bofetada de luva branca a algumas pessoas?
Posso dizer que sim.

Na jornada seguinte, a 25 de agosto, faz a sua estreia no Estádio do Dragão…
O FC Porto ganhou 3-0, com golos de Jackson, Josué e Licá. Não tive culpa em nenhum deles e um deles até foi de penálti.

Como foi jogar naquele estádio perante mais de 40 mil pessoas?
Foi extraordinário, foi uma sensação muito boa. Um jogador gosta sempre de jogar em estádios cheios e jogar ali, com o Estádio do Dragão cheio. Foi muito bom.

Em várias manifestações públicas, nomeadamente nas redes sociais, mostra que sente o clube e a camisola que veste de uma forma especial. Apesar de ser um dos jogadores do plantel com menos tempo de jogo, porque a baliza só dá para um, notase que é muito acarinhado pelos adeptos…
Penso que os adeptos sentem um carinho especial por mim, porque eu sinto o clube, sou como um deles, mostro aquilo que sinto. Na Liga só joguei uma vez, mas tenho três amarelos. Penso que os adeptos gostam da forma como defendo o emblema que represento.

Este texto é um excerto da entrevista de José Sá à edição de junho de 2017 da “Dragões”, a revista oficial do FC Porto, que pode ler na íntegra aqui.