Futebol

Momentos da entrevista do Maniche ao Porto Canal – Pt. 2

A saída de Maniche do Benfica não foi um processo propriamente pacífico. Em entrevista ao Porto Canal, o ex-médio recordou os “momentos difíceis” que atravessou no clube encarnado, que começou com a passagem para a equipa B.

“Foi muito complicado, porque tinha a minha família, via os meus colegas a jogar e eu parado, só recebia de dois em dois meses”, conta o antigo internacional português, lembrando também um episódio com Luís Filipe Vieira:

“Tenho o contrato em cima da mesa, de cinco anos, com o atual presidente do Benfica, que disse que eu só assinava se fosse o José Veiga o meu empresário. Na altura eu tinha o meu empresário e ia contra os meus princípios. Obviamente prejudiquei-me, mas há males que vêm por bem e eu acreditava muito em mim. Estava a começar uma carreira, e as pessoas estavam atentas”, rematou Maniche.

Parceria com Deco no Alverca: “O Deco era um dos meus alvos no treino. Só o parávamos com porrada. Ele até diz que eu não gostava dele, porque lhe dava porrada. Mas depois ficámos grandes amigos”.

Jogador à Porto… no Benfica: “Agora pode ser muito fácil, porque já acabou. A minha vontade era mais pelo espírito. Revia-me naquilo que era o jogador à Porto, aquela mística, aquelas referências. Eu dizia que um dia talvez fosse jogar no FC Porto. Nunca pensava nisso porque tinha contrato com o Benfica, mas o meu espírito tinha muito mais a ver com o FC Porto do que com o Benfica”.

Um episódio com Mourinho, ainda no Benfica: “Num jogo-treino que fizemos com os juniores, eu tive uma entrada mais dura sobre um jogador deles. Então, disse ao Mozer para me mandar dar voltas ao campo. Eu corri muito lentamente. Depois, vi que não tinha sido convocado. Mourinho perguntou-me porque é que eu não tinha sido chamado. Disse-me que tinha sido porque em 40 minutos só tinha dado duas voltas ao campo. Essa resposta matou-me [risos]”.

Primeiros tempos no FC Porto: “Nem sequer queria acreditar, porque pensava no ano anterior, na saída do Benfica, e dos jogadores que tinham feito o mesmo percurso. Nos primeiros tempos pensei que estava à experiência. Só falava com a família à noite. Os jogadores não tinham tido tanto sucesso no FC Porto e eu pensava nisso. No espaço de um mês senti que tinha de apagar a desconfiança. Tinha vários contras, havia situações que me prejudicavam e tinha que desbloquear isso. Tinha a ajuda dos meus colegas e das referências do FC Porto. Eu tenho que fazer história no FC Porto, era isso que eu pensava. Apostaram em mim numa altura da minha vida dramática”.

Desconfiança no início: “Eu olhava e sentia a desconfiança, sentia isso bem patente à minha volta. Os adeptos vinham ter comigo e diziam 'atenção que não estás no Benfica. Isto aqui é para suar a camisola, para trabalhar'. Daí dizer que estava envergonhado. Estar ali com o senhor Pinto da Costa, era um respeito tremendo. Isso demonstra a responsabilidade e a grandeza do clube”.

Referências e mística: “Havia aquelas referências como Jorge Costa, Vítor Baía… Quando chegas à cidade passam-te logo parte da mística. Só se fala em ganhar, não há outra palavra. Essas referências incutem a mística e às vezes nem é só a falar. É dar tudo numa peladinha, não é para brincar. O Jorge Costa dava cotoveladas, quase que pisava… Ia com tudo como se fosse um adversário. É perceber nos treinos do dia a dia que queríamos ganhar no treino. A mística é um pouco isso tudo”.

Almoços de grupo: “No FC Porto havia muito o hábito de se fazer almoços de equipa. Na altura, se aquelas grandes figuras da equipa te viam mais afastado, ou na ponta da mesa, chamavam-te logo e diziam para parares de beber água. 'Se queres jogar no FC Porto tens de beber vinho, acabou-se a coca-cola e a água'”.

(Fonte ojogo.pt)