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O Hércules de Alicante

Da formação ao momento mais alto da carreira. Raúl Alarcón conta como é triunfar entre a elite do ciclismo mundial

Por Rui Cesário Sousa

Aos 31 anos, Raúl Alarcón alcançou o topo. Desta vez, não falamos de uma montanha, mas da carreira do próprio ciclista de Alicante, que entre os últimos dias de abril e o final do mês de maio se exibiu um degrau acima dos melhores do mundo. Primeiro para vencer a Volta às Astúrias, depois para segurar a “amarela” do histórico Grande Prémio Jornal de Notícias e, pelo meio, ficar a centímetros do triunfo na Volta a Madrid.

A Dragões foi saber um pouco mais sobre as origens e o percurso do espanhol, que o próprio classificou como “uma verdadeira montanha russa”. Dos triunfos nas camadas jovens ao World Tour, da descida à categoria amadora à chegada a Portugal, foram muitos os altos e baixos. Mas não é mesmo assim a vida de um ciclista?​

A bicicleta foi sempre um objeto querido em casa de Raúl Alarcón. A família é apaixonada pela modalidade, embora as duas rodas tenham começado por ser mais uma forma de diversão. Hoje, o meio de transporte a pedais ganhou importância central na vida de Alarcón: “Tudo começou por brincadeira e agora é o meu trabalho, mas continuo a divertir-me numa bicicleta como me divertia quando era mais jovem”, garante o alicantino, que cedo se apercebeu que o profissionalismo era o caminho.

Tudo começou nas escolas do Club Ciclista de Sax, a terra natal de Alarcón, então com 11 ou 12 anos, antes de vencer provas importantes no escalão de juvenis, como a Volta a Madrid, a Volta a Safor ou Taça de Espanha. Os bons desempenhos chamaram a atenção da Saunier Duval, equipa do World Tour, para a qual mudou aos 21 anos. Passou dois anos numa filial até chegar o grande momento: em 2007 tornouse ciclista profissional e correu em algumas das mais importantes provas do calendário mundial.

Como recorda esse primeiro ano ao mais alto nível?
Aos 20 anos comecei a fazer provas muito exigentes. É impossível tirar da cabeça algumas das principais corridas como a primeira vez em que participei no Paris-Roubaix. Quem pode esquecer a entrada no velódromo e as centenas de pessoas a incentivar os ciclistas, tal como num estádio de futebol?

Depois disso baixou dois anos à categoria amadora. Considera esse o momento mais delicado da sua carreira?
Tive muitos momentos delicados na minha carreira. Posso dizer que foi um pouco como uma montanha russa.

Algum dia pensou em desistir?
Eu nunca quis deixar o ciclismo. É a minha vida. Mas a verdade é que quando estamos na categoria amadora depois de baixar da profissional e, como foi no meu caso, após vencer corridas importantes, aos 24 anos era inevitável pensar noutras soluções. Pelo menos, é assim que vejo as coisas.

O que lhe deu força para continuar?
Contei com o apoio de muita gente. No último momento tive uma chamada do Carlos Pereira, então da Barbot-Efapel, e felizmente pude continuar nessa equipa a carreira profissional e fazer aquilo de que mais gosto. Fui contratado no ano de 2011 e desde aí fiz o meu caminho em Portugal.

Seguiu-se o Louletano, até que chegou à W52, onde já vai para a terceira época. Encontrou a equipa perfeita para si?
Sem dúvida que esta é uma equipa perfeita. Aqui, de uma forma ou de outra, todos temos as nossas oportunidades durante a temporada.

Aos 31 anos, podemos dizer que está no seu melhor momento?
Posso dizer que sim. Esta equipa transmite-me tranquilidade, confiança, muito apoio. E assim tudo corre melhor. Sinto-me como em casa.

A maturidade é um trunfo na luta contra os mais novos?
Penso que sim. Há muitos jovens com qualidade e talento, mas em momentos chave da corrida a experiência é um ponto a favor.

Já parou para pensar que venceu uma prova que o Nairo Quintana também queria vencer?
A verdade é que ainda continuo a pensar nisso. Trabalhei muito para chegar a essa prova nas melhores condições e não falhar com todos os que me apoiam: a minha família, a minha esposa, os meus amigos, a equipa, todos os adeptos do FC Porto, o presidente Pinto da Costa, o Adriano Quintanilha e o meu diretor Nuno Ribeiro. Todos apostaram em mim para tentar ganhar uma volta internacional tão importante como é a Volta às Astúrias e não lhes podia falhar.

Qual a sensação de vencer uma prova internacional, ainda por cima no seu país?
Era o que eu procurava há muito tempo. Tive esta oportunidade e não podia desaproveitá-la, mesmo sabendo que estava lá o Nairo Quintana. Todos me disseram que podia conseguir e que para isso bastava acreditar nas minhas capacidades.

Este texto é um excerto da entrevista de Raúl Alarcón à edição de junho de 2017 da “Dragões”, a revista oficial do FC Porto, que pode ler na íntegra aqui.