Massa Crítica Portista

Pinto da Costa virou a mesa?

Artigo de Opinião: Manuel Oliveira, Economista, Associado do FC Porto.

Num ano em que vencer o campeonato se tornou muito difícil, a vitória sobre o Arsenal foi uma magnífica sensação. O FC Porto demorou a encontrar-se, mas desde que entramos em 2024 encontrou uma forma de jogar mais divertida, interessante e competitiva. Resta-nos continuar a dar tudo pelo campeonato e pela Champions, garantir uma vitória sobre o Benfica e ir para Londres muito concentrados. E, claro, ganhar a Taça de Portugal.

No plano da gestão, o clube voltou às contas positivas que se saúdam e precisam, mas sobretudo confirmou aquilo que se esperava: um saneamento da situação de capitais próprios e evolução das curvas de ativo e passivo. Agora, tanto o ativo e passivo estão acima dos 500M€, e os capitais próprios registaram uma subida assinalável, estando tecnicamente positivos à data de hoje, pelo que se confirma da documentação partilhada com a CMVM, fruto da passagem aos oitavos da Champions ter ocorrido em Dezembro de 23.

Mas mais importante é o FC Porto estar a fazer este movimento sem antecipação de receitas e tendo usado prestigiadas empresas internacionais para auditar os processos de reavaliação (bastante comuns em todas as empresas). É evidente que o que está mal não é agora, era antes: não se pode ter jogadores com valorização zero nem estádios subavaliados, mesmo que seja fiscalmente interessante. Esteve bem a SAD a conduzir esta alteração, evitar novo fair play financeiro como o criado nos anos de 2015/2016, na época de Antero Henrique, e prepara o início de uma recuperação para a sustentabilidade, tão crítica para o nosso clube.

Estas não são naturalmente as demonstrações financeiras que todos desejamos, mas mostram que a SAD do FC Porto mudou, e mudou para melhor, nos últimos dois anos. Iniciou de facto uma mudança que inclui o princípio do saneamento financeiro e, apesar de ser fácil e até justo atribuir críticas em várias áreas, está a terminar o mandato com mais títulos de sempre e iniciou a reviravolta financeira. No plano da gestão, precisa de evoluir e renovar-se.

E foi esta a novidade de uma semana incrível para o FC Porto (embora entristecida com a partida do nosso grande Artur Jorge), que começou com a apresentação de contas tão surpreendentemente positivas, ao que se seguiu um jogo muito bom com Arsenal e mais uma noite mágica com o estádio a vir abaixo ao estilo Kelvin, e terminou com o presidente, inesperadamente mais uma vez, a lançar a base de um programa, com novidade e atitude.

O Coliseu foi um virar de página em que se percebeu que o Presidente tem muito apoio, não tanto por gratidão, mas por reconhecimento e confiança em que é a pessoa certa a fazer o que pode muito bem o seu último ato: preparar um Porto de Futuro, com uma renovação feita com transição. Mais do que o abraço do Sérgio e daquelas 2.500 pessoas a viverem um momento que para muitos foi absolutamente histórico, foi o presidente ter de facto prometido um Porto Novo, mas com o espírito indomável e rebelde de sempre. Pode ter sido um dos momentos de virar de mesa destas eleições, quando já se percebeu que seu opositor nas mesas de voto nem coragem tem para se indignar com os jornalistas que perseguem o FC Porto e com o tema que mais circula por todas as redes sociais, que é a absoluta incompreensão de muitos sócios de porque é que André Villas Boas não protesta publicamente com a vergonha que é a corrupção provada a favor do Benfica que acabaram em nada, enquanto portistas são tratados por muito menos de forma radicalmente diferente. Tudo isto merece a nossa reflexão, em ano em que o FC Porto não pára de ser prejudicado, fora e dentro das quatro linhas.

O lançamento mais a sério do “Todos pelo Porto” esta Sexta feira surpreendeu, não só pelo momento, como por ter profundidade e novidade. Pinto da Costa arrancou mesmo com uma renovação e levou o assunto a sério, ao ponto de se comprometer com a ausência de prémios de gestão, ter prometido um Porto Novo e ter garantido de forma expressa e direta que, com ele, o Porto continuará dos sócios. Esta pode ser a mais importante afirmação de todas, quando se sabe da pressão financeira e do interesse potencial de capital estrangeiro pela entrada em clubes europeus, como já vai acontecendo no Sporting de Braga.

Do meu ponto de vista, muito relevante é o “Todos pelo Porto” aparecer como um movimento estruturado e não um conjunto disperso de ideias vagas e não relacionadas, como se percebe dos eixos principais escolhidos, de onde destaco o presidente por a sustentabilidade e o futuro num plano de primeiro nível, além de falar de experiência, área em que o FC Porto necessita de acelerar a inovação de forma célere.

Neste lançamento, o Presidente diz que o programa será partilhado ao longo dos próximos dias, pelo que a análise real é ainda preliminar. No entanto, percebe-se pelas redes sociais que há uma resistência de uma parte dos adeptos em querer ter eleições democráticas e participadas, com debate de ideias e diferenças, procurando de imediato atacar tudo o que outras listas de candidatos propõem, convencidos que só havia uma candidatura, vencedora por falta de opções. Começa até a haver bullying sobre quem defende as ideias e o programa de “Todos pelo Porto”, e isso é precisamente o tipo de lugar que todos queremos evitar.

Recordemos que o FC Porto tem o sistema eleitoral mais democrático deste país, e foi Pinto da Costa que o instituiu. Vamos todos procurar dignificá-lo, com respeito mútuo e não com silenciamento forçado.

Para os que achavam que só ia haver uma lista, fica a pergunta se o “Todos Pelo Porto” de Pinto da Costa virou a mesa para uma nova e melhor realidade. É ainda cedo para perceber se o presidente é capaz de mostrar que uma transição com renovação, que misture experiência e sangue novo é uma solução probabilisticamente melhor do que o tiro no escuro de uma equipa nova, seja qual for. Sem prejuízo de um passado com erros na gestão, estará ou não uma lista verdadeiramente renovada, mas apoiada pela experiência do Presidente mais capacitada para fazer um Porto de Futuro, como defende o movimento “Todos pelo Porto”?

Não se pode saber isso sem saber que pessoas Pinto da Costa escolherá. Terão experiência, portismo, coragem, conhecimentos de gestão, acesso internacional, visão estratégica, alinhamento entre eles, capacidade digital e soluções financeiras? Só com um programa mais completo e com a lista apresentada se saberá se Pinto da Costa “virou a mesa” para uma solução melhor do que a que estava desenhada por alguns.

Artigo de Opinião: Manuel Oliveira, Economista, Associado do FC Porto.