Ciclismo

Raúl Alarcón: «Quando o FC Porto me contratou andava a lavar carros»

Tem 31 anos, é solteiro, e explica-o com simplicidade. “Sou um rapaz tranquilo e que gosta de viver a vida”, diz-nos Raúl Alarcón, líder da Volta a Portugal no dia de descanso, um dos mais sérios candidatos ao triunfo final e grande revelação da época, pois pela W52-FC Porto-Mestre da Cor já chegou a bater Nairo Quintana. O JOGO desafiou-o a contar a sua vida de corredor.

Com que idade se fez ciclista?

-Comecei entre os 11 e 12 anos, numa escola de ciclismo de Sax, a minha terra. Na família são todos uns apaixonados pelo ciclismo e continuei.

Ao assinar pela Saunier Duval, chegou muito depressa ao World Tour…

-É verdade, tinha 20 anos e só duas épocas como amador.

Esteve no topo. Pensava fazer uma grande carreira internacional?

-Claro. Comecei a entrar em corridas do mais alto nível. Fiz duas vezes o Paris-Roubaix… Quando se está nessas provas pensa-se fazer algo de importante. Criei muitas ilusões. Pensava fazer as Grandes Voltas, como o Tour. Mas afinal não aconteceu…

A Saunier Duval terminou subitamente. Foi um mau período?

-Tive de baixar de escalão e assinar por uma equipa amadora, a Comunidad Valenciana. Passei lá dois anos e acabaram por ser boas temporadas. Ganhei a Taça de Espanha, a Volta a Segóvia, vários circuitos… Acabei por receber um telefonema do Carlos Pereira.

Foi assim que lhe apareceu Portugal?…

-Passei a correr pela Barbot, que depois se tornou Efapel. Foi aí que coincidi com Rui Sousa. Os meus colegas eram grande corredores e foi uma boa família que encontrei.

Mas mudou para o Louletano?

-Foi com eles que ganhei a grande etapa da Serra da Estrela, em 2013. Subimos as Penhas da Saúde, descemos a Manteigas, depois fomos às Penhas Douradas para chegar a Gouveia. Ataquei na Covilhã e foi uma etapa impressionante, um dia muito bonito. Mas, em 2014, não cheguei a acordo e apareceu a W52-FC Porto.

Diz-se que, quando o FC Porto o contratou, andava a lavar carros…

-É verdade. Lavava os carros na oficina de um amigo. Mas já faço isso desde pequeno. Por várias vezes, como quando voltei a ser amador, ia lá dar uma mão e ganhar algum dinheiro.

Chegou a pensar que a sua carreira terminava aí?

-Não, comecei depressa a conversar com o Nuno Ribeiro. Disseram-me para esperar tranquilo, que estavam a procurar orçamento para me contratar, pois na altura tinham o plantel fechado. Não andei preocupado. Sempre fui uma pessoa otimista, nunca tenho pensamentos negativos. Sou positivo, para que as coisas boas me aconteçam. E acabei por continuar a carreira aqui!

Como se transformou num corredor tão superior?

-Nas outras equipas era sempre o primeiro a trabalhar, tinha essa missão. Era como acontece agora com o Joaquim Silva: ele é um grande corredor, um profissional, vai ser um campeão. Mas por enquanto faz um trabalho que era o meu nas equipas anteriores. Nesta equipa dão-me muito apoio, disseram para atacar na primeira etapa e colocaram-me como líder. Mas eu não sou o líder, a qualquer momento posso voltar a trabalhar para os meus companheiros. Um ciclista precisa de ter paciência, que chega sempre o seu dia. Tem é de receber a confiança da equipa e aproveitar as oportunidades.

Está de camisola amarela, mas continua sem assumir favoritismo na Volta…

– Porque só penso dia a dia e porque isto é uma equipa. Com o Gustavo e o Amaro somos três e qualquer um pode ganhar.

Quem vai ganhar é pergunta sem resposta?

– Pois, não o sei dizer. Vamos ter dois finais muito duros, na Senhora da Assunção e na Guarda, Oliveira de Azeméis também é uma chegada complicada, e ainda haverá o contrarrelógio..

O ano passado foi segundo no contrarrelógio. Não pode repetir?

– Se me sentir bem, como estou agora. Ando muito contente, por estar de amarelo e me sentir tão querido…

Não é problema o tempo que perde em entrevistas, fotografias e autógrafos?

– É um grande prazer! Para mim é novidade e estão a ser uns dias inesquecíveis. O que me está a acontecer é incrível. Sinto esta camisola como se fosse a do meu país, como se estivesse na Volta a Espanha.

(fonte: ojogo.pt)