Massa Crítica Portista

Carta para ti, Fábio Cardoso!

Caro Fábio, escrevo-te para te dar uns conselhozitos. Não leves a mal a cunfia, mas nós cá somos assim. Quando chega alguém à família tratamos logo de ter uma conversinha. Como o Covide anda aí e não me deixam ir ao estádio ou ao Olival, escrevo-te.

Começo por te dizer para num ficares muito inchado por até teres conseguido que os portistas te recebam mesmo sabendo que vieste da falange da mouraria. Não julgues que és o primeiro ou caso único, pois apesar dos portistas não admitirem muito, sabemos que as nossas bancadas têm alguns consócios que já deixaram as filhas casar com mouros. Fazem-no um bocado contrariados, mas é porque aquilo lá teve que ser assim. E sabes porque mesmo contrariados aceitam? Porque depois resolvem o assunto da melhor maneira. Não julgues que quando nascem os netos desses azarados sogros os putos se tornam adeptos de clubes croquetes ou de aviário. Era o que faltava! Já lhes tinha chegado que o paizinho deles tenha vindo endrominar a filha de um portista. Como se diz por cá, é de pequenino é que se torce o pepino e o teu devia ter sido torcido, mas não foi. De certeza que tiveste um pai, um, tio, um avô, que na melhor das suas ignorantes intenções, lá te prejudicou e te fez mouro logo em miúdo. Mas para tua sorte, por volta dos 26 anos, tu cresceste e tiveste o privilégio de apertar a mão ao Presidente Pinto da Costa, assinar contrato e vestir a nossa camisola. É do carago! Portanto, Fábio, escreve aí em qualquer lado que o mundo mudou para ti.

E não foi pouco. Agora és Dragão e há coisas que tens que saber. Nós aqui não queremos apenas que tu mostres vontade de ganhar, exigimos é que tu venças mesmo – não há cá tangas. E, obviamente, não leves a mal, mas vais ter que comer a relva toda e suar a camisola como se fosses uma bifa às 5 da matina em Albufeira numa festa de miss t-shirt. É que a malta tá de olho em ti. E sabe que fizeste a formação noutro lado, portanto, é muito natural que se te der aquelas manias que têm os centrais desse clube de onde vieste, de marcar golos na própria. a malta te vá mandar logo pó….pó… Caraças! E não só. Vão lembrar-se logo que andaste vestidinho de bermelho a dizer carrega num-sei-quê. Ó FÁBIO, tu num carregues mais nada nas redes pá. Que aquilo é uma doença que dá aos centrais com a própria baliza, num viste aquele moço que também veio daí, o Rúben, que mesmo já estando há uns tempos a curar-se no City, outro dia na seleção lá meteu outra na própria a favor da Alemanha. Fosga-se, pá! A Alemanha, meu? Se quiseres saber  como marcar golos à Alemanha na baliza certa perguntas ao teu novo treinador, o Conças – marcou três e podia ter marcado mais.

Por isso já sabes, conselho número um, nada dessas cenas do azar, que aqui isso num cola. E golitos é na baliza certa sachabor!

Conselho número dois, podes andar descansado e não te preocupes. Podes ir beber uma bejeca ao bar do Ribeirense, passear na Banharia, tomar café na Rua Escura, comer uma bifana à Rua de S.Roque ou um preguinho no Barril que ninguém te vai fazer nada. Nós estamos habituados a receber bem malta como tu e a torná-los jogadores à Porto. E a coisa já vem de longe, lembro de tantos, o Dito, o…. ia dizer o Rui Águas, mas lembro-me da Mariana e irrito-me um bocado! Continuando… jogadores que vieram para cá como o Iuran, o Kulkov, o Panduru, e em especial os que ficaram Dragões de coração. como o Christian Rodriguez, o maravilhoso Maniche, e o poderoso Maxi Pereira.  Isto para não falar do Falcao e do Álvaro Pereira, que queriam metê-los no avião para lá, mas eles vieram para cá. Ou o Deco, que os ceguinhos decidiram por à nossa disposição em Alverca.

Conselho número três, num te incomodes se algum dia te fugir a letra e disseres que, em puto, adoravas aquele galinheiro a que chamavas estádio. É que nós também! É o nosso salão de festas. A seguir ao Dragão é dos sítios que a malta mais gosta. A malta dos Super e do Colectivo gosta de tudo ali. A chegada nas traseiras do Colombo, a caminhada pelo túnel de fora a receberem aqueles insultos tipo “o Porto é bué de violento, ou, Andrade vai pó camanho!” – até disso gostamos. E mesmo os insultos no túnel de dentro – com o Rui Costa com aquela cara de Teresa Guilherme a barafustar – seguidos da equipa a ir celebrar pó canto com a claque, as bancadas a desertarem, o desligar da iluminação, a rega fresquinha. Tudo aquilo é bonito!

Conselho número quatro: ó Fábio! Seja lá ou cá, tu presta atenção. Quando jogares contra “eles” tu vê bem o que fazes. Olha que a malta é muto suscetível. Tu perguntas ao Herrera que ele diz-te. O desgraçado deu uma bola para canto e andou um ano com as bancadas a lixar-lhe as orelhas. Aquilo foi de tal forma, que ele passado uns tempos teve de fazer uma operação cirúrgica às badanas. Tu se fores titular contra os gajos livra-te homem. Comes a relvinha toda, esfarelas o esferovite, traças o cebolita (como fizeste ao Baró – julgavas que me esquecia de te dizer essa? A gente pode calar-se mas num esquece). E tens que fazer uma exibição do carago.

Conselho número cinco: Tudo o que te disser o Pepe é para tu fazeres. Se julgas que vens para aqui armado como o Loum, levas logo uma chapada que até viras. Se o pepe disser que é para ires para ali, tu vais para ali. Se ele te disser que fizeste mal em afinal teres ido para ali, é porque fizeste mal em teres ido para ali. Percebeste?

Finalmente, para não me alongar muito, o Conselho número cincoazero, (sabes que nós por cá temos um número entre o cinco e o seis, que é o cincoazero, que é uma coisa que podes ir ver no Youtube). Fábio, anota aí: NUNCA dizeres o nome dos clubes da segunda circular em entrevistas, NUNCA sequer teres a tentação de palrar sobre a tua formação ou os tempos que andavas por lá – estamos a fazer um esforço do carago para nos borrifarmos no teu passado e fazer de ti uma Julia Roberts em versão masculina, portanto não estragues tudo. E, na mesma linha de pensamento, jamais te dê a tentação de andar aos passou-bem, trocar camisetas ou a parabenizar adversários que nos derrotam. Em primeiro lugar, porque perdemos poucas vezes e não ‘tamos habituados a ver os nossos no fim dos jogos contentinhos com essas chunguisses do férplei. Em segundo, e mais importante, é que se perdemos ou empatamos a CULPA É SEMPRE TUA! Ainda por cima tu que és um ex-mouro não podes dar essas abébias. Julgas que aqui se acha que Basileia ou o Paok são alguns colossos europeus? Não são filho! Aqui, se por acaso não ganhares, fazes no mínimo uma carinha simpática igual à que faz o Conças quando empata.

Dito isto, se seguires estes conselhos à risca, e com total rigor, não tens razão para te preocupares, vai correr tudo muito bem.

Recebe um abraço,

Avelino Oliveira