Futebol

César Ferreira, ex-delegado da Liga, e as duas personagens misteriosas

Como Delegado da Liga, cheguei ao fim de uma viagem que durou apenas 21 anos!

Posso hoje afirmar com orgulho, que servi o futebol sem nunca me ter servido dele!

Assim, com a idoneidade que me caracteriza e com a frontalidade que sempre tive, direi que objectivamente este é para mim um momento difícil. Difícil não pela saída, que há uns meses vinha a ser por mim ponderada, mas pela forma como ela aconteceu. Muito tenho equacionado se deva ou não manifestar-me publicamente relativamente a esta situação. Pelo respeito que o futebol me merece, e fundamentalmente pelo respeito que devo ter por mim próprio entendi que o devo fazer.

Lembro que foram apenas 21 anos como Delegado da Liga. Enquanto desempenhei esta função, cargo, incumbência ou missão, é só escolher porque para mim é tudo igual, pedi vezes sem conta “fair-play” e desportivismo a todos os agentes desportivos intervenientes no espectáculo que é o futebol. Mas de facto parafraseando o Técnico Jorge Jesus o “fair-play” é mesmo uma treta! É deste modo, com o ego preenchido de múltiplos sentimentos, mutilado por Incongruência, covardia, hipocrisia e tudo o que se relacione com o sentimento mais depreciativo, que aceito o repto lançado pelo Sr. Presidente da Liga, num ofício que fez o favor de me remeter agradecendo o meu prestimoso contributo para com a L.P.F.P., quando diz “Certos de que continuará a contribuir de diversas formas para um melhor futebol profissional…”

Pois é exactamente por esta razão, querer o melhor para o futebol português e pelo amor que tenho ao futebol, por ser uma pessoa idónea e não me rever neste tipo de artimanhas para eliminar pessoas com caracter, que a qualquer momento poderiam emperrar a máquina do sistema vigente e ainda por verificar que há imensos parasitas que gravitam em torno da modalidade, que direi o seguinte:
Jamais aceitarei a forma indigna, previsível e maquiavelicamente perpetrada, para arrumar com alguns Delegados da Liga. No futebol infelizmente existe um outro mundo para além daquele que é defendido e é mostrado ao adepto comum. É caso para dizer que por trás de um sorriso todo “sensodyne”, pode haver uma faca na liga, pronta para nos apunhalar a qualquer momento.

De há uns tempos para cá que se tem sentido a regra do vale tudo para atingir certos fins, ou seja; eu quero, posso e mando! Em todo o caso, honra lhes seja feita, porque foi com aviso prévio!

Com a chegada à Liga, de duas novas personagens, dois sapientes nesta matéria dos futebóis, já com provas dadas noutras paragens, demonstrando ter a lição bem estudada, que no seio dos Delegados se desconfiava e murmurava de que algo estava a ser perpetrado. Eu próprio, por várias vezes e em diversas ocasiões, tocado por esse sentimento, alertei alguns colegas para este possível facto. Há palavras proferidas que poderão dizer muitas coisas, alguns olhares e comportamentos descontextualizados poderão valer mais do que mil palavras, assim como certos detalhes dão-nos certezas e comprovam-nos a existência de pessoas mal formadas e mal-intencionadas.

Muito já se escreveu e falou. A minha colega Ana dos Santos com toda a sua competência, legitimidade e conhecimento de causa abriu a caixa de pandora.

Neste momento as palavras poderão perder algum sentido perante tanta indignidade. É inacreditável o caracter desta gente! Objectivamente fomos tratados como autênticas marionetes nas mãos destes senhores. É um facto que as atitudes ficam com quem as toma, os actos com quem os pratica, mas com uma certeza, há sempre um amanhã!

Pese o facto dos longos anos de ligação a LPFP, á semelhança de outros colegas que por lá passaram, não terem sido merecedores de qualquer tipo de distinção, o respeito era o mínimo exigido. Tal não aconteceu, denotando desde logo, falta de memória e mau caracter de quem a gere.

Chego até a equacionar a hipótese de estar agora também a pagar uma factura com 15 anos. Refiro-me concretamente ao jogo nº 01 004, Época 2002/2003 realizado no dia 25 de Agosto de 2002.

Quando alguém narcisista ressabiada desprovida de valores, tudo se pode esperar!

As boas lembranças, são marcantes, tal como as más, e o que é marcante nunca se esquece!

Era bom, muito bom mesmo, que cada um de nós pudesse seguir o seu destino, sem a inqualificável interferência batoteira de terceiros, mas lamentavelmente assim não é!

Quem está no desporto e no futebol em particular tem uma simpatia clubística. Até aqui parece que ninguém tem dúvidas! Mas na realidade há quem não aceite isto como um facto, atropelando a idoneidade de cada um. Ser ou não ser da cor X ou Y não implica que essa pessoa seja mais ou menos idónea que as demais. Não o escondo, como de resto nunca o escondi, que sou portista de coração, associado do clube há cerca de 45 anos, servi o clube com muito orgulho, de resto foi com este mesmo orgulho que servi a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, com abnegação, profissionalismo e honestidade, com o máximo respeito por tudo e todos. Porém, lamentavelmente a forma como se vive hoje o futebol é muito estranha e hipócrita. Fica-me o sentimento de que não se ser adepto de um determinado clube é um crime de lesa pátria! Creio que há uma intenção de pintar o futebol português a uma só cor. Não se percebe e lamenta-se que assim seja, porque todas as cores, de todos os clubes, devem ser respeitadas de igual modo. Todas as cores fazem falta ao futebol e sem elas não é possível haver competição, Se efectivamente se pretende ter campeonatos competitivos, como afirmam, tal só será possível com respeito pelos clubes, agentes desportivos e colaboradores e fundamentalmente pelo público e pelas regras. Não basta dar uma imagem de neutralidade, também é necessário comprová-la.

Um exemplo!

Como se poderá justificar que um Delegado com quinhentos e muitos Jogos em (21) vinte um anos de Liga, tenha feito a delegacia a apenas sete (7) Jogos do Benfica. Dois (2) Jogos na condição de visitado e cinco (5) na condição de visitante. Destes sete (7) jogos, um (1) tenha sido para a Taça da Liga. E para compor o ramalhete o seu último jogo como Delegado da Liga tenha sido um destes jogos do Benfica na qualidade de visitante. Terá este Delegado estado todo este tempo conotado com o S. L. Benfica? Claro que não! Porventura era incómodo! Não serviria as pretensões deste clube!

Há uma enorme falta de cultura idoneoprocedimental, que tem tendência a afectar a memória de uns quantos e a saúde mental de outros tantos que estrategicamente gravitam em torno do futebol. É nas pequenas coisas, que nós vemos as grandes. Há valores que não se compram, como o caracter e dignidade. Isto para mim não tem preço. São valores que possuímos ou não possuímos! O futebol como qualquer outra modalidade tem de ser credível. Não basta dizer que se é. É preciso prová-lo!

Assim, em modo de balanço, é hora de olhar para trás e reflectir.

Sem dúvida, muitas alegrias e obviamente algumas tristezas existiram!

Destaco os bons momentos, de alegria e de vivências e o sentimento de que cumpri sempre com aquilo que são os deveres e as obrigações de um Delegado da Liga. Não tenho telhados de vidro. Saio de consciência tranquila. Respeitei e fui respeitado em todos os estádios por onde passei, exceptuando o jogo de má memória Felgueiras vs Feirense disputado no dia 25 de Abril de 1998 se a minha memória não me falha. Nunca alterei uma vírgula que fosse num relatório já entregue. Nunca fui manipulador. Coloquei sempre a Liga em particular e o futebol em geral em primeiro lugar, seguindo sempre uma conduta correcta aplicando sempre as regras, designadamente aquelas que deveriam ser as nossas principais regras, a verdade e o bom senso. Provavelmente um dos meus problemas começará exactamente aí!

Jamais poderei esquecer aqueles que me impuseram obstáculos infundados. Mas fica o registo tornaram-me ainda mais forte.

Agradeço àqueles que confiaram em mim e me impulsionaram. Um grande bem haja!

Valorizo as amizades e os conhecimentos adquiridos na LPFP. Aqui passei dos melhores anos de minha vida, fiz amigos, muitos dos quais, ficarão para sempre. Razão pela qual me sinto feliz!

Também alguma mágoa? Obviamente terá que existir!

Vejamos! Se me perguntarem se era assim que esperava sair da LPFP, a minha resposta é claramente Não!

A realidade é que foi esta a forma que escolheram para me eliminar.

A LPFP adopta um conjunto de nomenclaturas pomposas mas desprovidas do propósito para as quais deveriam estar confinadas. Frases como “Estilo com talento” ou “Futebol com talento” ou ainda “Rigor, Profissionalismo, Talento e Agregação” mais não são, que o blá, blá, blá de frases vaidosamente criadas e encapotadas por quem a gere, bem á sua imagem e semelhança.

Para terminar, endereço os meus sinceros agradecimento a todos os companheiros com quem tive o privilégio de trabalhar, e a todos aqueles que me quiseram bem, me ajudaram e apoiaram. Divido com todos vós, caso ainda os tenha, os méritos desta viagem, porque eles também vos pertence. Agradeço as experiências partilhadas neste percurso em que não tivemos apenas rectas para percorrer. Imensas curvas também fizeram parte do itinerário. Percursos sinuosos com subidas e descidas foram uma realidade sempre presente, mas com a mesma dedicação e entrega unidos a uma causa, pelo cumprimento do nosso dever enfrentamos e ultrapassamos os obstáculos que se nos foram deparando.

Com um enorme respeito e amizade por cada um de vós, deixo-vos um desafio!

Não permitam que o peso da consciência, um dia vos atormente, por nada terem feito.

Não esqueçam. Hoje sou eu amanhã serão vocês! As minhas costas poderá ser o vosso espelho!

Espero e desejo que as pequenas adversidades sejam a causa e o início da solução de grandes tempestades…

Quanto a mim, resta-me seguir a vida com tranquilidade e o sentimento do dever cumprido. Talvez possamos encontrar razões e respostas às nossas questões, quem sabe…naqueles e-mails trocados…e não apagados.

Que as nossas despedidas não deixem de ser um eterno reencontro.

Um até já!

Post original em: https://www.facebook.com/cesar.pereira.52035/posts/1226086924187737