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FC Porto 2030: os próximos meses

Artigo de Opinião: Manuel Oliveira, Economista, Associado do FC Porto.

Se havia dúvidas que as eleições do nosso clube iam ser competitivas e combativas, já desapareceram. Nuno Lobo, o primeiro a candidatar-se, não surpreende e é quem se esperava que seja, embora claramente mais crítico da campanha de André Villas-Boas (AVB), com quem não parece nada impressionado.

Do outro lado, AVB parece seguir uma lição estudada e planeada, e se é certo que nas redes sociais tem uma vintena de contas e pessoas (quase todas escondidas atrás de um ecrã para poderem agir de forma notoriamente pouco responsável para com a verdade) alinhadas com mensagens que parecem centralizadamente encartilhadas, também é igualmente certo que o candidato se tem mantido quase sempre em silêncio, bem comportado, cuidadosamente apresentado, escrupulosamente protegido, estrategicamente sorridente, aparentemente alheio daquela primeira realidade paralela nas redes sociais. André parece representar aquilo que esperam dele e adaptar-se ao politicamente correto, tão inconvenientemente adverso do mundo do futebol, onde a coragem deve sobrepor-se e a resiliência aos ataques externos é uma característica obrigatória na independência. No meio disto, AVB parece mais ou menos desinteressado que pessoas que assinam com a sua hashtag digam e distribuam informação que é factualmente errada, que em alguns casos parece propositadamente inventada, mas parece ter um plano que tem méritos que não podem ser ignorados e que se espera que possam contribuir para, quem quer que seja eleito, tenhamos um mandato melhor no próximo ciclo de gestão. Só por isso já valeu a pena vir, seja qual for o seu programa ou sejam quais forem as dúvidas dos sócios quanto às suas capacidades fora do campo puramente desportivo

Nesta outra dimensão, AVB trás uma disputa útil ao clube. Todos sabemos que as contas estão como estão e o passado recente na gestão exige mudança, e exige mudança já. Saber ouvir as propostas de André e a sua equipa é importante não só para a dimensão desta lista, mas também para se construir, em conjunto com as das outras listas, reais ou hipotéticas. Espera-se de portistas que saibam ouvir e discutir sem se atacar, muito mais focados no clube do que nas pessoas. E, se os mais fundamentalistas não resistirem aos ataques como já vem a suceder de ambos os lados, que o sócio moderado saiba filtrar e separar o trigo do joio, porque todos sabemos que a polarização só divide os portistas e dificilmente cria o melhor valor final para nós e o nosso futuro. Certo é que André deve apresentar hoje um projeto com ambição internacional e tentar vender o sonho daquilo que ele legitimamente entender que é o modelo de futuro.

Pinto da Costa, por outro lado, continua igual a si próprio, sem parecer demasiado afetado pela disputa eleitoral, mais preocupado com os objetivos desportivos, a renovação da equipa e as exigentes promessas de recuperação financeira. A ideia do presidente parece ser ir a jogo em Abril, apesar da pressão que vai recebendo para não ir. O presidente nunca foi tolo, e se puder ir, haverá uma razão. Supõe-se que passe por renovação, que nunca soube fazer. Nessa dimensão, Baía parece ser um ativo importante, que poderá ter uma responsabilidade bem maior numa lista futura da que teve até então, mas é preciso nomes novos, forças de futuro. Pessoas com capacidade de gestão, investimento, dinâmica comercial, orientadas para internacionalização e para a devolução do FC Porto como um clube financeiramente autónomo para fazer mais e que tenham a energia e a paixão que estes desafios exigem. Ficam as dúvidas se Pinto da Costa fará esta renovação e pedirá aos sócios que o reconduz para preparar esse último capítulo a fim de deixar o futuro lançado, e podendo liderar essa transição para uma equipa radicalmente nova de dentro, fazendo um phase out progressivo. A ideia parece boa e apesar de tardia talvez ainda seja a solução com melhor probabilidade de sucesso. Serão os sócios a saber julgar, isto admitindo que o Presidente se candidata.

Seja como for, será bom podermos todos redesenhar o futuro próximo do clube, se soubermos filtrar os fundamentalistas de ambos os lados e ouvirmos as propostas concretas, despidas de areia e engodo. Ontem surgiu João Koehler, sempre muito crítico da direção nos tempos recentes, mas que confia no presidente para a condução do futuro, e com muitas ideias, ambição e lucidez, a contrastar com quase tudo o que se vem ouvindo sobre o FC Porto, semana após semana. Hoje será o André a contar as suas ideias e amanhã até poderemos ter Pinto da Costa a lançar a sua própria candidatura.

Saibamos todos honrar o privilégio de participar no redesenho do FC Porto para os próximos cinco anos, sabendo que temos os adversários a torcer para que tudo corra o pior possível e pelo maior período de tempo possível, para evitar a natural hegemonia do FC Porto, a que todos nos habituamos.

Temos o direito a continuar nesse sonho, seja qual for a nossa opção eleitoral e seja qual for a solução escolhida, que saibamos separar divisões momentâneas de visão, continuar de mãos dadas, a dar tudo pelo clube, pelas vitórias, pelo futuro.

Artigo de Opinião: Manuel Oliveira, Economista, Associado do FC Porto.