Eu sou emigrante na Holanda há 15 anos e tudo isto é MENTIRA.
Vamos por partes então:
- Os impostos são mais simples (há apenas 2 escalões e, em comparação com o que se ganha, obrigam a um esforço muito menor quando comparados com os português);
- Os impostos têm menos escalões. O escalão inferior holandês é superior ao escalão inferior português, o escalão mais alto é superior ao escalão máximo português. Os escalões intermédios em Portugal visam defender a classe média.
- Os subsídios e pensões são mais altas, em primeiro lugar porque se produz muito mais riqueza do que em Portugal e depois porque a grande maioria dos holandeses faz descontos para regimes privados de segurança social, algo parecido ao 401k dos EUA.;
- Referi os subsídios percentualmente, não em valores absolutos. Continuam a ser mais elevados que os portugueses. Os salários, esses são mais adequados do que os quase salários de fome que se praticam por cá.
- É completamente falso que a saúde seja gratuita! Os cidadãos são obrigados a comprar um seguro de saúde privado. Com este seguro de saúde, posso ir a qualquer hospital ou clínica da minha escolha e cá não existem listas de espera.
- Qual a diferença entre um seguro de saúde obrigatório e proporcional ao rendimento, de um desconto de 11% para a segurança social, em termos práticos? O Estado continua a comparticipar tudo. A IL já referiu o seu desdém pelo investimento público na saúde, demonstrando neste setor estar mais alinhado com o sistema americano do que aquilo que se faz na Europa.
- O estado holandês não detêm nada desses setores ecónomicos. Tem a Spoorwegen, que é a empresa de transportes; tem o ABN que é como se fosse a CGD e uma empresa ligada ao gás.
- O ABN foi privatizado, ou estou enganado? O De Volksbank é público. Como os casinos, e outros vários investimentos detidos pela Financial Investments, que inclui participações relevantes e executivas em, por exemplo, na ADSD B.V.
- Quem governa o país há 11 anos é o partido liberal, do Mark Rutte. Um partido que pertence ao grupo europeu dos Liberais, pertence à Liberal Internacional e cuja matriz é claramente de centro-direita. Basta uma conversa de 5 minutos com qualquer holandês para perceber que eles detestam a ideia de socialismo e os partidos que lá correspondem ao BE, por exemplo, têm uma expressão mínima no Parlamento.
Tudo bem ser socialista/contra o liberalismo económico, mas por favor não venham espalhar mentiras.
Pouco me diz ser socialista (que não sou) ou ser liberal (que não sou). Considero-me apenas progressista.
Agora, faz-me confusão ver os partidos novos da direita (IL, Aliança e chalupas) com uma agenda de aniquilação dos serviços de saúde, de educação e de transporte, numa obsessão pela privatização dos sistemas básicos que sustentam a sociedade civil.
Finalmente, existe a questão cultural. Em Portugal, numa grande parte do tecido empresarial, em particular as microempresas e PME's, os gestores têm uma visão irreal da economia. Enquanto neste país reinar a ideia de que se pode pagar o menor salário possível e o poder de compra das pessoas irá subir por magia, continuarei a concordar com partidos que querem subir o salário mínimo até valores, se possível, de Europa Central, porque será a única forma de metade da população fugir da precariedade. A valorização dos recursos humanos é um assunto que neste país ainda é tabu. A produtividade depende largamente da qualificação e remuneração de quem trabalha. Por norma, as empresas em Portugal são demasiado conservadoras, e a regulação destas acaba por ser uma missão de salvaguarda dos trabalhadores.
Edit: Esqueci-me de referir o porquê de não considerar a Holanda como um exemplo de liberalismo, quando se fala da IL: A Holanda vive tradicionalmente no centro-direita, tanto agora com o Rutte, como antes com o Balkenende. A direita moderna portuguesa comparada a isto é uma extrema direita (no sentido da verdadeira dicotomia económica), daí ter referido anteriormente a anarquia "libertariana", como referência ao partido libertariano americano. O discurso recorrente da reforma constitucional, o ataque constante aos serviços públicos e a redução defendida da regulação estatal no setor privado. Eu leio os programas eleitorais. Têm uma visão assustadora que pouco se adequa à sociedade portuguesa e que visa eliminar a proteção social de uma boa parte da população mais desfavorecida em prol do benefício dos privados.