Nasci cerca de 2 meses depois de JNPC ter-se tornado Presidente do Futebol Clube do Porto. Portanto, durante toda a minha vida, apenas conheci outro Presidente do meu clube desde Abril do ano passado.
Inevitavelmente, o meu Portismo foi marcado de forma indelével pela sua personalidade desafiante, o seu estilo belicoso, a sua fina ironia. Exacerbava o nosso orgulho e paixão com vitórias, com tamanha grandeza que achincalhava os rivais. Tornava-os quase insignificantes. Isso é umas das coisas que eles nunca lhe conseguirão perdoar.
Deixei de me rever nesse estilo já há largos anos. O mundo mudou, a sociedade mudou e o clube também tinha de mudar. Porém, continuava a ser um prazer ouvi-lo falar, vê-lo tourear com mestria os jornalistas e entrevistadores que tentavam atacá-lo e acabavam gozados e intelectualmente diminuídos.
Não tenho vontade de falar dos últimos anos, neste momento. Confesso que o seu falecimento está a ser mais pungente do que esperaria, mesmo numa altura em que já era expectável. Não posso deixar de sentir que perdi uma referência, alguém que me inspirou, que marcou claramente alguns traços da minha personalidade. Alguém que merece ficar na História pelos motivos certos!
Vou só partilhar aqui uma história antiga, que me marcou muito na pré-adolescência. No final da época 1992-93, o bicampeonato do Carlos Alberto Silva, eu escrevi umas quadras sobre o grande feito do NGC e resolvi enviá-las por correio ao nosso Exmo. Presidente. Não esperava qualquer resposta, naturalmente, eram apenas uns versos infantis sobre o quão feliz eu e todos os Portistas tínhamos ficado felizes com aquele título. Nessa missiva, dizia também que o meu ídolo de então era o nosso jovem GR Vítor Baía.
Passadas algumas semanas, ao chegar a casa, vi um envelope do Futebol Clube do Porto na minha cama. Estremeci! Até tinha os dedos trémulos ao abrir aquela preciosidade. Era uma carta de agradecimento assinada pelo nosso Presidente! Acompanhada de um postal autografado pelo Baía! Nunca esquecerei estas palavras, com que ele terminava a sua carta: “Num gesto simbólico, mas sei que de grande valor para ti, junto remeto a imagem autografada pelo nosso guarda-redes de futebol profissional”. Neste momento, quase consigo sentir novamente a emoção imensa que senti nesse dia!