Fariolilândia
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A bola já não morde. Sai mansa, mansinha, um ursinho de peluche amestrado.
Diogo Costa toca curto, o patrão
Bednarek segura e olha. O radar polaco perscruta, aparelho de guerra fria, diz que é por ali e por ali o FC Porto vai.
O que há uns meses era um caos destrambelhado, a utopia da impotência, veste agora o papel de agente fiável, sólido, de infinita confiança.
Um agente pouco secreto, ainda por cima.
O dragão reaprende a viver, já se lembra do que é ser feliz, percebe as mais elementares regras do jogo e aceita o bilhete para passear na
Fariolilândia.
Não é um parque de aventuras, tampouco uma fantasia de crianças. Que ninguém vá ao engano.
Esta criação de Francesco, o treinador toscano, é um seríssimo processo de construção de uma equipa de futebol. Mas, ao mesmo tempo, um processo de prazer e bem-estar.
Regeneração, reabilitação, recordação.
Há paragens em várias estações e, embora a viagem ainda agora tenha arrancado, as promessas de reencontro com o paraíso são evidentes.
É fácil falar de
Victor Froholdt, o adolescente nórdico de quatro pulmões, e ainda mais simples identificar a segunda juventude de
Pepê, o homem que passou da depressão ao nirvana em poucos meses.
Um
case study para o mundo da Psicologia.
Borja Sainz, quando definir melhor as dúvidas que ele próprio cria aos oponentes, é um Derlei em potência. Havia um
ninja em Norwich e só André Villas-Boas sabia.
De Espanha, mais propriamente da Galiza, vem o talento e o sangue a ferver de
Gabri Veiga. Trata a bola como poucos, bate bem cantos e livres, e é a prova evidente de que o futebol das arábias não faz bem a ninguém.
Só aos bolsos sem fundo.
O FC Porto é, para Veiga, o regresso ao mundo real. Sem tapetes esculpidos em mil e uma noites, diamantes à moda da Georgina e demais pedras preciosas. É o futebol dos grandes e onde os grandes querem estar: a Europa da bola civilizada.
Por falar em civismo, o que dizer de
Luuk ‘Skywalker’ de Jong? O holandês – posso escrever holandês só desta vez? – está do lado certo da
Força. Comunica, apoia, abraça, lidera, e tudo isto debaixo de um penteado impecável.
Os dragões gritavam por gente assim, da estirpe de Luuk e Bednarek. Não serão sempre os melhores em campo, não terão músculos para jogar dez meses ininterruptamente, mas a naturalidade com que chegam e se impõem perante os colegas é a prova suprema da sua relevância.
Fariolilândia, pois. Os processos são mais simples, mais claros, cada uma das unidades percebe perfeitamente o que fazer e quando fazê-lo. Um 4x3x3 de horizontes bem amplos.
Vítor Bruno foi bem intencionado e insuficiente; Martín Anselmi foi um final incompreensível e atabalhoado de um filme demasiado longo; Francesco Farioli promete ser o
Cinema Paraíso dos portistas, com a devida vénia ao compatriota Tornatore.
A ilusão no reino azul e branco é tão intensa que até
Zaidu e
Nehuen Pérez, os patinhos feios prediletos do Dragão, sacodem as críticas para longe, como fossem pó antigo e bafiento.
Os dois primeiros meses de Farioli no FC Porto são um trabalho de autor. Chegar, tomar decisões difíceis, mudar radicalmente as condições e a atmosfera de trabalho, escrever num papel qual o ponto de partida e riscar uma linha reta em direção ao ponto de chegada.
Essa é ainda a forma mais rápida de chegar ao sucesso. Sem desvios inúteis.
Farioli parece saber isso como ninguém.
PS 1: Rodrigo Mora. Falemos do prodígio adolescente. Se eu pudesse, faria com Mora o que Quinito quis fazer um dia com Pedro Barbosa. Levava o miúdo para o meu jardim e passava a tarde a aplaudir as maravilhas que só ele sabe fazer. O mundo real – outra vez esta profana inquisição –, porém, não é assim.
Rodrigo foi a única boa notícia do FC Porto em 24/25, será um futebolista abençoado se assim o quiser, mas por agora tem de ser bem aconselhado e aproveitar os minutos que passa em campo. Pacientemente. A
Fariolilândia não desaproveitará, certamente, o seu talento único. Falta saber quando e em que funções.
PS 2: dos reforços não falei ainda de
Alberto Costa e
Dominik Prpic. Serei breve: o primeiro, se refinar a receção, será a médio prazo o dono do lado direito da Seleção Nacional; o segundo, elegante e canhoto, parece ter os requisitos necessários para ser regularmente útil. A rever.