Mais: os Estados Unidos não podem, ou não deviam, empurrar os seus problemas internos para os ombros da comunidade internacional. Se não possuem regras para fixar a sua classe empresarial/empregadora e desencorajar a deslocalização da produção... não basta apontar o dedo à China como desculpa. Não podem usar o pretexto chinês para justificar o pântano dos direitos laborais dos trabalhadores nacionais e para a estagnação dos salários reais da população norte-americana. Ou melhor, podem, mas fá-lo-ão para que, internamente, pouco ou nada mude. Os Estados Unidos gastam com as forças militares mais do que o conjunto dos oito países que lhes seguem. Gastam, em saúde, mais do dobro de vários países desenvolvidos, obtendo com isso muito piores resultados. Esta rebelião contra o sistema internacional é também uma cortina de fumo, um subterfúgio para evitar a resolução dos problemas da sociedade americana.
... o orçamento desmesurado em defesa, acrescente-se, é financiado pelo défice comercial dos Estados Unidos. Os Estados Unidos dão-se ao luxo de emitir dívida despreocupadamente pois os países com superávit comercial usam os seus dólares para comprar títulos do tesouro (e para investir nas empresas norte-americanas). O actual arranjo mantém os Estados Unidos no centro financeiro do planeta e preserva o valor da moeda americana. Não vale a pena fingir que dele não retiram benefícios. ... ou Trump descobriu agora que o país é vilipendiado pelo resto do mundo? Os Estados Unidos não têm um sistema social mais justo e uma população mais próspera e menos insatisfeita porque não fazem por isso. Não têm desculpa, possuem o maior PIB do planeta, com ou sem concorrência chinesa.