Os tais gringos ricalhaços beneficiaram, todos eles, de sistemas económicos, financeiros, fiscais, políticos, legais... favoráveis à desigualdade e à acumulação. Musk justifica, porém, um asterisco: proprietário de uma rede social, difunde propaganda não-mediada num espaço com mais de 600 milhões de utilizadores activos e alcance maior; lidera também um órgão governamental com poderes administrativos. Poucas vezes a defesa do interesse próprio (e da elite) terá sido tão evidente, e a sobreposição entre poder político e poder económico tão despudorada. Zuckerberg, com quase três biliões de usuários activos no Facebook, começa também a introduzir mudanças na sua plataforma, tornando-se relevante acompanhar as suas próximas decisões. Há aqui algo de diferente quanto às formas de poder dos bilionários e aos meios utilizados para defender e perpetuar o regime que mais lhes convém, ainda que outros tenham actuado através de canais tradicionais de comunicação.
Sobre a desigualdade na América, veja-se o segundo segmento do vídeo, "the paradox" e o quarto, "mobility". Não admira que o país se tenha tornado um barril de pólvora. Dinâmicas que não são, de todo, exclusivas daquela sociedade.
... e vivemos um tempo distinto. Os Estados Unidos, durante décadas e décadas, não tiveram um único adversário que colocasse em causa a sua hegemonia. Agora têm-no e o seu posicionamento internacional começa a mudar. Com a China a alinhar-se a oriente com a Rússia e a aprofundar laços com a Índia, entre outras nações (a Indonésia acaba de aderir aos BRICS), os Estados Unidos, com maior dificuldade em influenciar o que se passa naquela região do globo, terá todo o interesse em manter os seus aliados tradicionais sob o seu controlo. Enfraquecidos, sem relações próximas com os adversários nem pretensões de afirmação própria. Não admira que procure desestabilizar a Europa. E Musk, nas suas inusitadas incursões pela política internacional, endossa partidos divisivos. Contrários à União Europeia, como são os caso da AfD e do Reform UK. O mesmo faz Trump em relação a Orbán. Procuram, de igual modo, apoiar quem tem na segurança e na imigração cavalos de batalha, pois os temas, além de gerarem polémicas infindáveis, desviam a atenção das populações quanto a problemas mais profundos e urgentes. A imagem da potência benévola funcionava melhor num sistema global sem competição, claramente hierarquizado. Também por aqui se explica a atitude de Trump e das elites.