Sim. Referia-me à influência genética no comportamento. Existem, nas espécies mais selvagens, alelos que estimulam certas tendências, mas não acho correto assumir que um animal será agressivo só porque sim.
Não se trata de assumir que o animal será agressivo só porque sim, nem se deve colocar as coisas nesses termos. Tem mais a ver com a imprevisibilidade. Um animal selvagem é mais imprevisível que um animal doméstico. E entre um javali e o porco doméstico há milhares de anos de divergência genética criados pelo próprio processo de domesticação e pela deriva genética das populações selvagens.
Há estudos muito elegantes e muito interessantes em coelhos feitos por equipas de investigação portuguesas, por vários colegas meus, que localizaram regiões do genoma e alelos em particular diretamente relacionados com uma menor susceptibilidade ao medo e maior docilidade, que resultam em alterações morfológicas e de organização de várias estruturas do cérebro do coelhos domesticados. Há outro também mais recente em que se descobriu que estes alelos fixados nos coelhos domesticados, acabam por ser perdidos quando há a introdução acidental de coelhos domesticados em populações selvagens, o que demonstra claramente que são alelos com efeitos deletérios e eliminados pela seleção natural nas populações selvagens.
Um animal selvagem se criado em cativeiro não deixa de ser um animal selvagem que vai reagir como animal selvagem quando exposto a determinadas situações.
Os javalis nas praias e em zonas de elevada densidade populacional criam um problema evidente e a probabilidade de incidentes aumenta, como é óbvio.
Estamos a chegar à mesma conclusão sobre a separação de áreas urbanas e áreas naturais. Portugal é um país pequeno e desrespeitou essa distância durante muito tempo. Passa pela questão cultural. O ser humano acha que é dono de tudo e que pode fazer o que quiser sem sofrer as consequências. A expansão natural das cidades não obriga ao crescimento desenfreado, mas sim a um maior planeamento.
Relativamente às soluções possíveis, já referi que o que defendo é um reequilíbrio da cadeia. No curto prazo, tens outras soluções que podem ser exploradas. Na Alemanha estão a desenvolver programas de esterilização de javalis, com contracetivos que se enterram. Mas poderias minimizar o contato de javalis com humanos na Arrábida. Começa por garantir que os detritos humanos não estão acessíveis aos animais, porque é isso que eles procuram nas zonas ocupadas por humanos.
Claro que sim, mas muito do mal ja está feito há imensas décadas. Os ecossistemas estão desequilibrados há muito tempo, mas nessa altura nem se pensava nestas questões. Apesar de tudo, muitos ou poucos, os impactos são inevitáveis e têm de ser geridos. Os alemães gerem as suas florestas de uma forma extremamente rigorosa, nós fazemo-lo de forma muito precária e temos imensos problemas burocráticos. logísticos, financeiros, etc., nas instituições que gerem as florestas.
Os programas de esterilização são uma ferramenta de controlo populacional, mas com pouca eficiência para estes casos. O que normalmente se faz é combinar a esterilização com o abate. A Alemanha tem caça aberta o ano todo a javalis em determinadas regiões e tem-na promovido, porque têm um problema grave de populações muito grandes de javalis. A caça continua a ser a ferramenta mais efetiva. É uma pena, mas é a realidade, porque acaba por gerar impactos noutros animais através do barulho dos tiros, etc.. mas é o que de mais efetivo há. A Natureza na Europa sofreu muito com a industrialização numa altura em que não se dava valor à biodiversidade nem se reconhecia a sua importância. Hoje as coisas felizmente estão diferentes e há mais consciência. Gradualmente, tem havido uma recuperação dos ecossistemas.