Não há nem havia qualquer maneira de Montenegro sair-se satisfatoriamente desta alhada. Alhada que o próprio aprofundou com as suas reacções e não-justificações. A solução teria sido exercer o cargo de primeiro-ministro sem possuir quaisquer ligações a empresas. Tudo o resto é insuficiente e insatisfatório, pois nenhuma explicação colocará termo às suspeitas de que algo de muito grave poderá ter sucedido. Ficará sempre a dúvida que os clientes optaram pela empresa de Montenegro por este ser primeiro-ministro ou líder partidário (ou porta-voz de um antigo governo, ou... ). Que o poder da figura de Montenegro se associava (ou até motivava) aos vínculos com outras empresas. Que a Solverde recompensou um antigo trabalhador com uma avença, talvez esperando contrapartidas do governo quanto às concessões dos casinos. A situação abre a porta a demasiadas leituras, gera demasiadas dúvidas. E o primeiro-ministro, chefiando o governo, não pode pedir escusa de nenhum assunto da governação, pois, em última análise, todos recaem sob a sua responsabilidade política. Ocupando o cargo, Montenegro não devia permitir nenhum canal de acesso a si próprio, que pudesse ser utilizado por entidades privadas. O problema de Montenegro é o próprio Montenegro. E com isto, caso o governo caia, tornar-se-á extremamente difícil ao PSD apresentar Montenegro como candidato.